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Dermatologia2 setembro 2025

Melanoma: O impacto da pandemia de covid-19 no diagnóstico 

A pandemia de covid-19 afetou o tratamento e manejo de diversas enfermidades, impactando também o diagnóstico do melanoma

A pandemia de covid-19, declarada em 2020, impactou os sistemas de saúde ao redirecionar recursos e adiar atendimentos não urgentes, incluindo o rastreamento de neoplasias. As restrições sociais e o isolamento reduziram a realização de exames, o que resultou no atraso no diagnóstico de diversas neoplasias, como o melanoma, cujo prognóstico depende do diagnóstico precoce. 

O melanoma é mais incomum, em comparação com os outros tipos de câncer de pele não melanoma, mas pode ser letal e mais agressivo. Durante a pandemia, houve redução no número de diagnósticos em vários países, o que resultou em detecção em estágios mais avançados e pior sobrevida. O estudo em questão buscou avaliar e mensurar como a pandemia afetou o diagnóstico da doença, comparando dados pé e pós-covid, incluindo volume de casos, espessura de breslow, estágio clínico e características histopatológicas. 

Impacto no diagnóstico de melanoma

Foi realizada uma revisão sistemática e metanálise seguindo as diretrizes PRISMA. PubMed, Scopus, Web of Science e Embase foram pesquisados até 10 de setembro de 2024 para estudos observacionais comparando os resultados do melanoma na era pré- covid-19 (antes de março de 2020) com a era covid-19 (março de 2020 em diante). Dois revisores extraíram dados clínicos e histopatológicos, avaliaram a qualidade dos estudos e realizaram metanálises com modelos de efeitos fixos e aleatórios, incluindo análises de heterogeneidade e sensibilidade. 

Sessenta e dois estudos (38.676 melanomas pré-covid e 46.846 melanomas da era covid-19) preencheram os critérios de inclusão e revelaram que houve queda de 19% nos novos diagnósticos de melanoma, com forte heterogeneidade geográfica – quedas acentuadas em países como Bélgica, Chile, Espanha e Itália, enquanto Irlanda, Grécia e Holanda apresentaram aumento. Os melanomas foram diagnosticados em pacientes mais velhos e maior espessura de Breslow (aproximadamente 0,3mm a mais) e maior chance de ulceração, sugerindo doença mais avançada. Entre os subtipos histológicos, apenas o melanoma nodular mostrou aumento significativo. 

Desse modo, a pandemia de covid-19 reduziu em 19% os diagnósticos de melanoma e levou a uma maior proporção de tumores mais avançados, mais espessos e ulcerados, com predominância de subtipos agressivos. Esse atraso no diagnóstico esteve relacionado aos bloqueios e suspensão de consultas. Observou-se variações entre os países, dependendo da gravidade da pandemia e da disponibilidade de alternativas como teledermatologia. Com os diagnósticos mais tardios, a sobrevida foi afetada com aumento também dos custos de tratamento.  

Melanoma: O impacto da pandemia de covid-19 no diagnóstico 

O estudo em questão permite algumas reflexões e aplicações práticas: 

  • A relevância de priorizar a detecção precoce do melanoma, mesmo em crises de saúde; 
  • A necessidade de expandir e validar o uso da teledermatologia: a estratégia que tem limitações no âmbito de identificar lesões sutis, mas permite uma triagem eficaz; 
  • Reforçar a implementação de estratégias híbridas (teledermatologia associada a consultas presenciais) para pacientes de alto risco; 
  • Reforçar campanhas de conscientização sobre autoexame da pele; 
  • Apoiar políticas públicas de saúde que mantenham serviços de dermatologia ativos mesmo em emergências; 
  • Incentivar pesquisas longitudinais que avaliem o impacto dos atrasos no prognóstico dos pacientes.

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