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Clínica Médica11 maio 2021

Quando se deve realizar procedimento cirúrgico após infecção por Covid-19?

É bem possível que pacientes ativamente doentes ou com passado de infecção por Covid-19 venham a necessitar de um procedimento cirúrgico.

No cenário atual da pandemia por Covid-19, onde grande parte da população encontra-se infectada, é bem possível que pacientes ativamente doentes ou com passado da doença venham a necessitar de um procedimento cirúrgico, seja este de emergência ou eletivo. É sabido na prática clínica que pacientes com história de infecções respiratórias devem esperar por pelo menos 4 semanas para a realização de um procedimento anestésico-cirúrgico a fim de diminuir as chances de complicações ou da morbimortalidade pós operatória. Sabe-se também que uma das grandes complicações do Covid-19 é a respiratória, com quadro grave de pneumonia.

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Esse estudo em questão fez uma análise de follow up mundial, com pacientes de várias partes do mundo com quadro ativo de Covid-19, passado da doença e pacientes sem doença que precisaram ser submetidos a procedimentos cirúrgicos, sejam eles de qualquer espécie e comparou a morbimortalidade entre os grupos de acordo com as semanas de evolução da doença, entre 0 e sete semanas.

Quando se deve realizar procedimento cirúrgico após infecção por Covid-19?

Estudo

Foi realizado um estudo internacional, multicêntrico, prospectivo que incluiu ao todo 140.231 pacientes que foram submetidos a qualquer tipo de cirurgia, eletiva ou de emergência, no período de outubro de 2020 em 1.674 hospitais de 116 países. Os pacientes que foram classificados como Covid-19 se enquadraram nos critérios de teste PCR positivo antes do procedimento, teste de antígeno rápido positivo antes do procedimento e exame de imagem pulmonar compatível com pneumonia por Covid-19 antes do procedimento. Pacientes com diagnóstico realizado após o procedimento não foram incluídos no estudo. Também foram classificados de acordo com a presença dos sintomas no momento da cirurgia: assintomáticos, sintomáticos porém com sintomas resolvidos e sintomáticos no momento da cirurgia. E o tempo entre diagnóstico e cirurgia foi dividido em : 0-2 semanas, 3-4 semanas,5-6 semanas e acima de 7 semanas.

O follow up foi realizado no período de 30 dias após o procedimento e analisado os casos de óbito e de complicações pulmonares como pneumonia, síndrome da angústia respiratória e/ou necessidade de suporte ventilatório inesperado no pós operatório.

Resultados

Da totalidade dos pacientes analisados, 3.127 pacientes tiveram o diagnóstico para SARS CoV-2 no período pré operatório, sendo a maioria assintomático. 1.138 pacientes realizaram a cirurgia no período de 0-2 semanas pós diagnóstico, 461 entre 3-4 semanas, 326 entre 5-6 semanas e 1.202 acima da 7ª semana pós diagnóstico.

Desses pacientes, a maioria era considerado ASA 3-5 e foram submetidos a cirurgia de alta complexidade ou de emergência em comparação com os pacientes sem diagnóstico de Covid-19. Porém a maioria tinha idade inferior a 70 anos.

Mortalidade

A taxa de mortalidade geral na amostra no período de 30 dias pós operatório foi de 1,5% (2151/140,231). Nos pacientes com diagnóstico prévio de Covid-19 a taxa de mortalidade se mostrou da seguinte forma:

*Entre 0-2 semanas: 9,1% (104/1138)

*Entre 3-4 semanas: 6,9% (32/461)

* Entre 5-6 semanas: 5,5% (18/326)

* Acima de 7 semanas: 2% (24/1202)

A taxa de mortalidade nos pacientes que não tiveram diagnóstico de Covid-19 no pré-operatório foi de 1,4% (1973/137,104)

Dos pacientes submetidos a cirurgias eletivas, aqueles que apresentavam diagnóstico no período pré-operatório tiveram taxas de mortalidade mais alta que os pacientes sem diagnóstico, principalmente quando o procedimento era realizado nas primeiras semanas, sendo que após a sétima semana, as taxas eram equivalentes nos dois grupos.

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Analisando somente o grupo de pacientes infectados, aqueles que apresentavam sintomas ativos no período da cirurgia, mostraram taxa de mortalidade maior que os assintomáticos.

Complicações pulmonares

A presença de complicações pulmonares no geral foi de 2,8% (3938/140231). Assim como as taxas de mortalidade, foi evidenciado que os pacientes que apresentaram diagnóstico prévio de Covid-19 tiveram mais complicações pulmonares principalmente nas primeiras semanas do que os pacientes não infectados e após sete semanas, as taxas foram semelhantes entre os dois grupos.

Conclusão

De acordo com esse estudo, pacientes com diagnóstico prévio de Covid-19 apresentam taxas de mortalidade e complicações pulmonares maiores que a população não infectada quando submetidos a algum procedimento anestésico-cirúrgico principalmente no período de 0 a 7 semanas pós-diagnóstico. Portanto, é aconselhável que esses pacientes tenham suas cirurgias adiadas sempre que possível a partir da sétima semana do diagnóstico e os pacientes infectados e sintomáticos no momento da cirurgia, devem ser reavaliados quanto a esse período, uma vez que a presença de sintomas na vigência do procedimento também é fator de risco para o aumento da morbimortalidade pós-operatória.

Referências bibliográficas:

  • CovidSurg Collaborative, GlobalSurg Collaborative.Timing of surgery following SARS‐CoV‐2 infection: an international prospective cohort study.Anaesthesia 2021; 76: 731–5. doi: 10.1111/anae.1545800

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