Quais AINEs possuem menor risco para pacientes com doença cardiovascular?
Por segurança, o uso dos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) é desencorajado em pacientes com doença cardiovascular estabelecida.
O uso dos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são desencorajados pelas principais diretrizes em pacientes com doença cardiovascular estabelecida. Em se tratando de infarto do miocárdio (IAM), os protocolos orientam a terapia de dupla antiagregação plaquetária (DAPT) por pelo menos seis a 12 meses, seguida de manutenção da terapia antiplaquetária única (SAPT). Esse tratamento, junto ao uso de AINEs, pode aumentar significativamente o risco de sangramento e também de eventos cardiovasculares.
Porém, como alguns estudos apontaram que esse risco pode variar de acordo com a etnia, pesquisadores coreanos desenvolveram um estudo de coorte nacional, publicado este mês no Journal of the American College of Cardiology (JACC), para avaliar os riscos do uso de AINEs após infarto do miocárdio.
Riscos do uso de AINEs após infarto do miocárdio
Foram incluídos 108.232 pacientes, com primeiro diagnóstico de IAM, entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013. A média de idade foi de 64,2 anos, e 72,1% eram homens. A duração do acompanhamento foi de mediana de 1,9 anos e 2 anos para cada análise de desfechos primários e secundários, respectivamente.
Os desfechos primários e secundários foram eventos hemorrágicos tromboembólicos cardiovasculares e clinicamente relevantes. O risco de eventos clínicos adversos foi avaliado pelo tratamento contínuo com AINEs e subtipos de AINEs.
DAPT (n ¼ 95.096 [87,9%]) foi o tratamento antitrombótico mais frequentemente prescrito nos primeiros 30 dias após o episódio de IAM, seguido por SAPT (n = 8.606 [8,0%]), terapia triplo-antitrombótica (n = 3.121 [2,9%]) e anticoagulante oral e terapia antitrombótica dupla (n = 299 [0,3%]). Durante o período de acompanhamento geral, 1.909 (1,8%) e 2.052 (1,9%) pacientes receberam prescrição de um ou mais subtipos de AINEs por pelo menos quatro semanas consecutivas.
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Resultados
Em relação ao desfecho primário:
- Mais de 24% (26.202) dos pacientes desenvolveram eventos cardiovasculares primários. O risco ajustado foi significativamente aumentado por uso de AINEs concomitantes na população geral (HR: 6,96; IC 95%: 6,24 a 7,77; p < 0,001);
- O uso dos AINEs também aumentaram significativamente o risco de eventos cardiovasculares nos subgrupos DAPT (HR: 6,93; IC 95%: 6,15 a 7,80; p <0,001) e SAPT (HR: 7,05; IC 95%: 4,03 a 12,33; p < 0,001);
- Entre os subtipos de AINEs, celecoxibe (HR: 4,65; IC 95%: 3,17 a 6,82; p < 0,001) e meloxicam (HR: 3,03; IC 95%: 1,68 a 5,47; p < 0,001) mostraram menores riscos para eventos cardiovasculares na população geral e tendências semelhantes foram observadas no subgrupo DAPT.
Sobre os desfechos secundários:
- Mais de 23% (25.358) dos pacientes desenvolveram eventos hemorrágicos secundários;
- O risco ajustado para o desfecho secundário foi significativamente aumentado por uso de AINEs concomitantes na população geral (HR: 4,08; IC 95%: 3,51 a 4,73; p < 0,001);
- O mesmo foi observado nos subgrupos DAPT (HR: 4,05; IC 95%: 3,44 a 4,75; p < 0,001) e SAPT (HR: 4,43; IC 95%: 1,97 a 9,96; p < 0,001);
- Entre os subtipos de AINEs, celecoxibe (HR: 3,44; IC 95%: 2,20 a 5,39; p < 0,001) e meloxicam (HR: 2,80; IC 95%: 1,40 a 5,60; p < 0,001) mostraram novamente menores riscos de eventos hemorrágicos no geral, e uma tendência semelhante foi observada no subgrupo DAPT.
Conclusões
Apesar de possíveis mudanças no risco por etnias, o estudo oriental concluiu que o uso de AINEs concomitante ao tratamento antitrombótico pós-IAM também aumentou o risco de eventos cardiovasculares e de sangramento naquela população. Sendo assim, o uso desse tipo de medicamento deve ser evitado em pacientes com doenças cardiovasculares.
Em casos em que o uso é inevitável, celecoxibe e meloxicam podem ser boas opções, já que demonstraram menores riscos quando comparados a outros AINEs.
Entre as limitações do estudo, vale lembrar que a coorte é observacional, não tendo sido randomizada. Além disso, foi considerado uso de AINEs quando havia prescrição para os mesmo, podendo haver casos em que pacientes usaram esses medicamentos sem prescrição, o que poderia ter subestimado a taxa de exposição do grupo do estudo. Por isso, novos estudos são necessários para agregar valor a essas evidências.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referência bibliográfica:
- Kang DO, et al. Cardiovascular and Bleeding Risks Associated With Nonsteroidal Anti-Inflammatory Drugs After Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol. 2020 Aug, 76 (5) 518-529. doi: 10.1016/j.jacc.2020.06.017
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