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O termo “Medicina Baseada em Evidências” (MBE) fora cunhado por Gordon Guyatt em 1991, referindo-se a um movimento educacional de origens na epidemiologia clínica, capitaneado previamente por David Sackett na Universidade McMaster (Canadá), o qual empoderava os médicos residentes com habilidades de busca e análise crítica da literatura médica.
A MBE tem historicamente o mérito de oferecer habilidades e ferramentas que visam abordar as informações de pesquisa clínica com o desenvolvido crítico de importantes conceitos e recursos relevantes para este fim, porém sem tangibilizar o suporte da prática clínica.
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A MBE se tornou um mantra popularizado nos últimos anos, como uma forma de dar credibilidade e chancela a qualquer atividade ou serviço oferecido em saúde. Infelizmente, a banalização do termo em nada ajudou no real entendimento do que é a MBE ou algo que se intitule baseado em evidências. Além disso, o próprio termo oferece terreno fértil para um equivoco que se reflete na inapropriada disseminação dos seus preceitos, limitando seu potencial em de fato melhorar o ensino, a assistência, a pesquisa e a gestão em saúde. O cenário atual, no qual ocorre a imensa geração de conhecimento científico e a prática médica, é caracterizado por uma lacuna que separa ambas.
A partir de críticas à essa visão histórica e limitada da MBE, Peter Wyer descreve um modelo de abordagem do binômio evidência científica-prática clínica, fundamentalmente sistêmico e construtivista, com o aprendizado e decisões em saúde dados a partir das relações sociais (médico-pacientes). Tal modelo subordina as habilidades cognitivas relacionadas ao campo da informação científica (‘perguntar’, ‘adquirir’, ‘analisar’ e ‘aplicar’) aos domínios das ações clínicas (‘terapia’, ‘diagnóstico’, ‘prognóstico’ e ‘dano’). Esses domínios conectam tal campo das informações ao campo das relações sociais, no qual primariamente se dá o delineamento de problemas, e definição de necessidade de informação, quando da busca de assistência de saúde pelos pacientes.
Veja também: ‘7 recomendações para melhorar a relação médico-paciente’
A utilização na prática de conhecimentos relativos à Medicina Baseada em Evidências só faz sentido se realmente auxiliar nas decisões em saúde considerando os valores e preferências dos pacientes e o contexto. Sendo assim, as decisões em saúde que caracterizam a MBE começam com uma necessidade de informação que surge no âmbito da relação médico-paciente, informadas pelas melhores evidências científicas disponíveis e são tomadas mediante consideração dos valores e preferências dos pacientes.
MBE RAíZ | MBE NUTELL@ |
Decisão baseada na relação médico-paciente | Decisão baseada em análise crítica de estudos |
Médico considera valores e preferências dos pacientes nas decisões |
Médico considera sua autoridade nas decisões |
Metodologia explícita de busca, crítica e contextualização da melhor evidência disponível |
Apenas autointitulado BE sem transparência metodológica e sem embasamento científico |
Sem conflito de interesses |
Baseada em conflito de interesses |
Referências:
- Wyer PC, Silva SA, Post SG, Quinlan P. Relationship-centred care: antidote, guidepost or blind alley? The epistemology of 21st century health care. J Eval Clin Pract 2014;20:881-889.
- Silva SA, Wyer PC. The Roadmap: a blueprint for evidence literacy within a Scientifically Informed Medical Practice and LEarning model. Int J Person Centered Med 2012;In Press.
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