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Clínica Médica21 abril 2025

Impacto da atividade física aeróbica na perda de peso

Revisão sistemática avaliou os efeitos de diferentes doses de atividade física aeróbica na redução de peso e na composição corporal em adultos com sobrepeso e obesidade

A obesidade e o excesso de peso são condições de crescente impacto na saúde pública global, estando diretamente associadas ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, neoplasias e outras comorbidades relevantes. O manejo do peso corporal é um dos maiores desafios clínicos e exige estratégias eficazes e sustentáveis, sendo a atividade física uma das intervenções amplamente recomendadas. No entanto, ainda existem lacunas na compreensão da relação dose-resposta entre diferentes volumes de exercício aeróbico e seus efeitos na adiposidade, incluindo peso corporal, circunferência da cintura e composição corporal. 

As diretrizes internacionais sugerem que pelo menos 150 minutos semanais de exercício aeróbico de intensidade moderada são necessários para a prevenção do ganho de peso e melhora da saúde metabólica, enquanto volumes superiores a 300 minutos semanais podem potencializar a perda de peso. Contudo, a efetividade real dessas recomendações ainda é debatida, uma vez que o impacto do exercício pode ser influenciado por fatores como intensidade, frequência, adesão e diferenças individuais no metabolismo energético. Além disso, grande parte dos estudos realizados avalia apenas períodos curtos de intervenção ou utiliza amostras pequenas, sem uma abordagem sobre a relação entre volume de exercício e magnitude da perda de peso. 

Com o objetivo de quantificar o impacto do exercício aeróbico nos parâmetros de adiposidade e estabelecer uma relação dose-resposta, foi elaborada uma revisão sistemática com metanálise, publicada recentemente no JAMA, avaliando os efeitos de diferentes doses de exercício aeróbico na redução de peso e na composição corporal em adultos com sobrepeso e obesidade. 

Métodos 

O estudo foi uma revisão sistemática com metanálise. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (ECRs) que investigaram os efeitos de intervenções de treinamento aeróbico supervisionado em adultos com sobrepeso ou obesidade, com uma duração mínima de oito semanas. A busca bibliográfica foi realizada em bases como PubMed, Scopus, Cochrane Central, ClinicalTrials.gov e ProQuest, até abril de 2024. Os estudos elegíveis precisavam incluir adultos com IMC ≥ 25 kg/m² (para populações ocidentais) ou IMC ≥ 23 kg/m² (para populações asiáticas), aplicar intervenções estruturadas de exercício aeróbico contínuo, como caminhada, corrida ou ciclismo e reportar mudanças em peso corporal, circunferência abdominal ou percentual de gordura como desfechos primários. 

A metanálise incluiu 116 ensaios clínicos randomizados, com um total de 6.880 participantes, dos quais 61% eram mulheres. A idade média dos participantes foi 46 anos (DP ±13 anos). Os estudos foram conduzidos principalmente na América do Norte (48 estudos), Ásia (39 estudos) e Europa (18 estudos). Já a duração das intervenções variou entre oito e 52 semanas, com média de 167 minutos de exercício aeróbico por semana (DP ±54 minutos).  

Os programas de exercício foram classificados por intensidade, sendo considerados exercícios de moderada intensidade aqueles que atingiram 3,0–6,0 METs/55–70% da frequência cardíaca máxima) e vigorosos se 6,0–9,0 METs/70–90% da frequência cardíaca máxima. A adesão ao protocolo foi considerada alta (≥80%) em 48 estudos, enquanto 6 estudos relataram adesão inferior a esse nível. 

Resultados 

Os achados confirmaram que aumento na carga semanal de exercício aeróbico está diretamente associado a uma maior perda de peso, seguindo um padrão linear sem efeito de platô dentro do intervalo estudado. O impacto foi estatisticamente significativo: 

  • Cada incremento de 30 minutos semanais de exercício aeróbico foi associado a uma redução média de 0,52 kg no peso corporal (IC95%: -0,61 a -0,44 kg; 109 estudos; GRADE = moderado). 
  • Indivíduos que praticaram ≥ 150 minutos semanais perderam em média 1,92 kg (IC95%: -2,81 a -1,03 kg). 
  • Aqueles que praticaram ≥ 300 minutos semanais apresentaram uma perda média de 4,19 kg (IC95%: -5,98 a -2,41 kg). 

O impacto foi ainda maior quando o exercício foi realizado em intensidade vigorosa, resultando em 25% mais perda de peso em comparação ao exercício moderado de mesma duração. 

Redução na circunferência abdominal e no percentual de gordura corporal 

A redução da adiposidade abdominal seguiu um padrão semelhante ao observado para o peso corporal. Para cada 30 minutos adicionais de exercício aeróbico por semana houve uma redução na circunferência abdominal de 0,56 cm (IC95%: -0,67 a -0,45 cm; 62 estudos; GRADE = alto). Para indivíduos que praticaram ≥300 minutos semanais, a redução média foi de 5,34 cm (IC95%: -9,05 a -1,63 cm). 

Igualmente, a análise de composição corporal revelou que a redução de gordura foi proporcional ao volume de exercício aeróbico praticado. O percentual de gordura corporal caiu 2,08% com ≥150 minutos semanais de exercício (IC95%: -2,47 a -1,69%; 65 estudos; GRADE = moderado). Tanto a gordura visceral como a subcutânea foram reduzidas significativamente, com maiores efeitos em intervenções superiores a 250 minutos semanais. 

Saiba mais: Combate à obesidade: além do tratamento medicamentoso.

Conclusões 

Os resultados do estudo reforçam que o exercício aeróbico tem um impacto significativo na perda de peso e na redução da adiposidade abdominal, com benefícios proporcionalmente maiores em volumes de ≥150 a 300 minutos semanais. A relação dose-resposta indica que quanto maior o volume de exercício, maior a redução de peso e gordura corporal, sem evidência de um efeito de platô dentro dos limites estudados. Esses achados, portanto, reforçam que de fato devemos recomendar, ainda que não de forma isolada, um incremento na atividade física com intuito de redução do peso.  

Vale destacar que, ainda que estatisticamente significativa, a perda de peso não atingiu níveis equiparáveis aos encontrados em estudos que avaliem formas combinadas de tratamento, ressaltando-se, portanto, o seu papel, mas não de forma isolada, no tratamento da obesidade.  

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Referências bibliográficas

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