Febre não infecciosa no CTI
Um dos dogmas do tratamento da sepse é a antibioticoterapia precoce, sob o risco incremental da mortalidade para cada hora de atraso em sua instituição.
É evidente que, embora essa concepção seja útil na melhora dos desfechos relacionados especificamente à sepse, oferece um risco de indicação intempestiva da antibioticoterapia e as suas consequências: eventos adversos relacionados a fármacos (diarreia induzida por antibióticos, nefrite intersticial alérgica, farmacodermias, redução do limiar convulsivo e encefalopatia medicamentosa, entre tantos outros), infecção por Clostridioides difficile e pressão seletiva para a resistência antimicrobiana.
Diante do exposto, lembramos, primeiramente, que febre não é sinônimo de infecção e, muito menos, de sepse. Como em todos os campos da medicina, as condutas devem partir de reflexões sobre o caso, levando-se em conta as probabilidades pré-teste e evitando-se automatismos e cacoetes prescricionais.
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Dessa maneira, trazemos um mneumônico que pode ser útil para a prática dos hospitalistas, emergencistas e intensivas, com o recordatório das principais causas não infecciosas de febre entre pacientes críticos:
Febre, a MECA Do CTI!
M | ■ Malignidades (lise/necrose tumoral, linfoproliferações e síndrome paraneoplásica). |
E | ■ Endocrinológicas (tempestade tireoidiana, insuficiência adrenal e feocromocitoma). |
C | ■ Centrais (AVC isquêmico e hemorrágico, hemorragia subaracnoidea, convulsões, status não-convulsivo e encefalites). |
A | ■ Abstinências (álcool, benzodiazepínicos, drogas Z, barbitúricos e opioides).
■ Ambiente (hipertermia)
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D | ■ Drogas (reações de hipersensibilidade a fármacos – incluindo antibióticos, síndrome de Steven-Johnson transfusões, hipertermia maligna, síndrome serotoninérgica e síndrome neuroléptica maligna);
■ Distúrbios de coagulação (hematoma, hemotórax e hemoperitônio); ■ Decúbito (lesões por pressão). |
C | ■ Cardiorrespiratórias (IAM, síndrome de Dressler, pericardite, atelectasias, ARDS e pneumonite). |
T | ■ Tromboembolias (Tromboembolismo venoso, tumorais e gordurosas; tromboflebites; infarto pulmonar e isquemia mesentérica). |
I | ■ Inflamatórias (IRIS, gota, pós-operatório – especialmente nos primeiros 3 dias, pancreatite, síndrome de reconstituição imune, reação de Jarisch-Herxheimer, rejeição aguda à transplante, colecistite alitiásica e atividade de doenças autoimunes de base, como o lupus eritematoso sistêmico). |
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Conclusão e Mensagens práticas
- A febre não é sinônimo de infecção nem de sepse, embora sejam ambas preocupações muito pertinentes, especialmente entre pacientes mais vulneráveis, como aqueles criticamente enfermos.
- A visão ampla dos diagnósticos diferenciais da febre (sintetizados pelo mneumônico: “MECA Do CTI”) é útil para auxiliar na definição etiológica e, especialmente, na racionalização da prescrição de terapia antimicrobiana, que deve passar pelo crivo reflexivo, e não ser mero fruto do automatismo de conduta.
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