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Clínica Médica18 outubro 2024

Febre não infecciosa no CTI

A febre não é sinônimo de infecção nem de sepse, embora sejam ambas preocupações muito pertinentes, especialmente entre pacientes mais vulneráveis.
Por Leandro Lima

Um dos dogmas do tratamento da sepse é a antibioticoterapia precoce, sob o risco incremental da mortalidade para cada hora de atraso em sua instituição. 

É evidente que, embora essa concepção seja útil na melhora dos desfechos relacionados especificamente à sepse, oferece um risco de indicação intempestiva da antibioticoterapia e as suas consequências: eventos adversos relacionados a fármacos (diarreia induzida por antibióticos, nefrite intersticial alérgica, farmacodermias, redução do limiar convulsivo e encefalopatia medicamentosa, entre tantos outros), infecção por Clostridioides difficile e pressão seletiva para a resistência antimicrobiana.  

Diante do exposto, lembramos, primeiramente, que febre não é sinônimo de infecção e, muito menos, de sepse. Como em todos os campos da medicina, as condutas devem partir de reflexões sobre o caso, levando-se em conta as probabilidades pré-teste e evitando-se automatismos e cacoetes prescricionais.  

Saiba mais: Novo guideline para avaliação de febre em pacientes no CTI

Dessa maneira, trazemos um mneumônico que pode ser útil para a prática dos hospitalistas, emergencistas e intensivas, com o recordatório das principais causas não infecciosas de febre entre pacientes críticos: 

Febre, a MECA DCTI! 

 

M 

■ Malignidades (lise/necrose tumoral, linfoproliferações e síndrome paraneoplásica). 

E 

■ Endocrinológicas (tempestade tireoidiana, insuficiência adrenal e feocromocitoma). 

C 

■ Centrais (AVC isquêmico e hemorrágico, hemorragia subaracnoidea, convulsões, status não-convulsivo e encefalites). 

A 

■ Abstinências (álcool, benzodiazepínicos, drogas Z, barbitúricos e opioides). 

■ Ambiente (hipertermia) 

 

D 

■ Drogas (reações de hipersensibilidade a fármacos – incluindo antibióticos, síndrome de Steven-Johnson transfusões, hipertermia maligna, síndrome serotoninérgica e síndrome neuroléptica maligna); 

■ Distúrbios de coagulação (hematoma, hemotórax e hemoperitônio); 

■ Decúbito (lesões por pressão). 

C 

■ Cardiorrespiratórias (IAM, síndrome de Dressler, pericardite, atelectasias, ARDS e pneumonite). 

T 

■ Tromboembolias (Tromboembolismo venoso, tumorais e gordurosas; tromboflebites; infarto pulmonar e isquemia mesentérica). 

I 

■ Inflamatórias (IRIS, gota, pós-operatório – especialmente nos primeiros 3 dias, pancreatite, síndrome de reconstituição imune, reação de Jarisch-Herxheimer, rejeição aguda à transplante, colecistite alitiásica e atividade de doenças autoimunes de base, como o lupus eritematoso sistêmico). 

Veja também: 10 dicas sobre febre na UTI

febre no CTI

Conclusão e Mensagens práticas 

  • A febre não é sinônimo de infecção nem de sepse, embora sejam ambas preocupações muito pertinentes, especialmente entre pacientes mais vulneráveis, como aqueles criticamente enfermos.  
  • A visão ampla dos diagnósticos diferenciais da febre (sintetizados pelo mneumônico: “MECA Do CTI”) é útil para auxiliar na definição etiológica e, especialmente, na racionalização da prescrição de terapia antimicrobiana, que deve passar pelo crivo reflexivo, e não ser mero fruto do automatismo de conduta.  
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Referências bibliográficas

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