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Clínica Médica20 dezembro 2025

Escala de Bristol: o que é e como interpretar as fezes

A Escala de Bristol classifica sete tipos de fezes e é usada para avaliar a função intestinal e possíveis alterações digestivas.  
Por Leandro Lima

A observação dos hábitos intestinais é um componente essencial da prática clínica, pois o formato e a consistência das fezes podem refletir diretamente a função do trato gastrointestinal. Nesse contexto, a Escala de Bristol surge como uma ferramenta simples, padronizada e amplamente utilizada para avaliar e classificar a forma das fezes humanas. 

Desenvolvida na Universidade de Bristol, no Reino Unido, na década de 1990, a escala tornou-se um instrumento de linguagem universal entre profissionais da saúde, permitindo a descrição objetiva das características fecais e facilitando a comunicação entre médico e paciente. 

Embora pareça um recurso básico, a Escala de Bristol tem grande valor clínico, auxiliando no diagnóstico de constipação, diarreia e síndromes intestinais funcionais, além de ser útil no monitoramento terapêutico de diversas condições gastrointestinais. 

 

A origem da Escala de Bristol 

A Escala de Fezes de Bristol (Bristol Stool Form Scale) foi criada por pesquisadores da Universidade de Bristol, liderados pelo gastroenterologista Dr. Ken Heaton, como parte de um estudo sobre o tempo de trânsito intestinal. Desde então, foi validada em diferentes populações e incorporada à prática clínica como uma ferramenta visual e descritiva para avaliar a função intestinal de forma rápida e reprodutível. 

 

O que é a Escala de Bristol? 

A Escala de Bristol é uma classificação visual e descritiva padronizada das fezes humanas com base em forma e consistência, composta por sete tipos.
Essas variações refletem o tempo de trânsito intestinal e o grau de hidratação do bolo fecal, indo desde fezes duras e fragmentadas até fezes completamente líquidas. 

Tipo Descrição morfológica Interpretação clínica 
1 Fragmentos duros, separados, semelhantes a nozes Constipação grave 
2 Fezes em formato de salsicha, mas granulosa Constipação moderada 
3 Fezes em formato de salsicha com fissuras na superfície Tendência à constipação 
4 Fezes lisas, alongadas e macias Normalidade fecal 
5 Pedaços macios, bem formados, separados Trânsito intestinal acelerado 
6 Fezes pastosas, com bordas irregulares Diarreia leve 
7 Fezes totalmente líquidas, sem partes sólidas Diarreia grave 

 

Descrição dos tipos de fezes

Fezes Tipo 1 

A classificação do padrão tipo 1 da escala de Bristol apresenta fragmentos de fezes duros, separados em pequenos pedaços, semelhantes a nozes. Típico de quadros de constipação grave, ele indica o trânsito intestinal muito lento, com reabsorção excessiva de água e na maioria das vezes pode ser acompanhado de esforço evacuatório, dor abdominal ou sensação de evacuação incompleta. O tipo 1 pode ser observado devido à baixa ingestão de fibras, desidratação, doenças que reduzem a motilidade, constipação crônica funcional, durante o uso de opioides ou em quadros de hipotireoidismo. 

Fezes Tipo 2 

As fezes tipo 2 têm o formato alongado, como de salsicha, e são mais irregulares ou granulosa. Ainda são compatíveis com quadro de trânsito intestinal lento e constipação moderada, necessitando de esforço evacuatório.  São observadas em pacientes com baixo consumo de fibras, dieta pobre em água ou hábitos evacuativos irregulares, principalmente em pessoas com histórico de sedentarismo, uso de anticolinérgicos ou alterações hormonais. 

Fezes Tipo 3 

Padrão limite entre fezes normal e o quadro de constipação, as fezes tipo 3 também apresentam formato de salsicha, mas com fissuras na superfície. Elas indicam trânsito intestinal levemente prolongado, ainda dentro da normalidade em muitos pacientes. As fissuras na superfície podem indicar a hidratação pouco reduzida do bolo fecal.  

Fezes Tipo 4 

O padrão considerado ideal é o tipo 4, com fezes lisas, alongadas e macias. Ele demonstra um trânsito intestinal equilibrado e está presente em pacientes com ingestão adequada de fibras, boa hidratação, ritmo intestinal regular e ausência de distúrbios funcionais ou estruturais. É a classificação que buscamos como ponto de referência para pacientes durante o tratamento de constipação ou diarreia. 

Fezes Tipo 5 

Na classificação tipo 5, as fezes são separadas em fragmentos macios e bem formados. Poderem ser observadas em pessoas saudáveis, especialmente após refeições volumosas ou ricas em fibras insolúveis, mas também sugerem trânsito levemente acelerado.  Ainda é comum em quadros de hipermotilidade intestinal, ansiedade, início de gastroenterites ou uso de probióticos ou laxativos. Quando acompanhado de urgência evacuatória ou dor abdominal pós-prandial precisam de atenção. 

Fezes Tipo 6 

Fezes pastosas e com bordas irregulares caracterizam o tipo 6 da escala de Bristol e indicam trânsito intestinal rápido, com absorção incompleta de água. É típico de diarreia leve, associada a intolerâncias alimentares (como lactose), irritabilidade intestinal, gastroenterites virais ou reações adversas a medicações, como antibióticos e antidepressivos ISRS.  

Fezes Tipo 7 

O tipo 7 representa trânsito intestinal extremamente acelerado com fezes totalmente líquidas, sem partes sólidas. É comum em diarreias infecciosas, intoxicações alimentares, surtos de gastrenterite, uso exagerado de laxativos ou quadros inflamatórios, como doença de Crohn, colite ulcerativa ou colites infecciosas. Quando associado a sangue, febre ou perda ponderal, precisa de investigação imediata.  

 

Importância na prática clínica 

A Escala de Bristol é amplamente utilizada para avaliação funcional do intestino e interpretação de distúrbios gastrointestinais. 

Aplicações clínicas principais: 

  • Diagnóstico de constipação intestinal (tipos 1 e 2); 
  • Avaliação de diarreia (tipos 6 e 7); 
  • Identificação de subtipos da Síndrome do Intestino Irritável (SII): 
  • SII com predomínio de constipação (tipos 1 e 2); 
  • SII com predomínio de diarreia (tipos 6 e 7). 
  • Monitoramento terapêutico, avaliando resposta ao uso de laxativos, probióticos, antibióticos ou modificadores da motilidade intestinal; 
  • Acompanhamento hospitalar, inclusive em pacientes críticos, para controle do padrão evacuatório e prevenção de complicações intestinais. 

📚 Leitura complementar:
Síndrome do Intestino Irritável: diretrizes de tratamento
Diarreia aguda e crônica: roteiro para investigação fecal estratégica 

 

Como interpretar a Escala de Bristol 

A interpretação da Escala de Bristol para classificação dos tipos de fezes é distribuída em os sete tipos numerados (1 a 7) e deve sempre considerar o contexto clínico e outros parâmetros do exame das fezes, como cor, frequência e presença de sangue, muco ou gordura. Ela é útil para orientar decisões clínicas e monitorar resposta terapêutica, mas deve sempre ser integrada à avaliação global do paciente. 

De forma prática: 

  • Tipos 1 e 2: fezes duras, associadas à constipação; 
  • Tipos 3 e 4: fezes no padrão ideal ou fisiológico; 
  • Tipos 5 a 7: fezes moles ou líquidas que indicam trânsito acelerado ou diarreia. 

A análise isolada da consistência fecal não substitui uma avaliação médica completa. É importante considerar que a avaliação é subjetiva e pode variar entre pacientes e profissionais. Por isso, deve-se também integrar a escala à anamnese e ao exame físico do paciente. 

 

Fatores que influenciam a consistência das fezes 

Diversos fatores interferem na morfologia fecal: 

  • Alimentação e ingestão de fibras (aumentam o volume e melhoram a consistência); 
  • Ingestão hídrica (impacta diretamente na hidratação fecal); 
  • Uso de medicamentos (opioides, laxantes, antibióticos, entre outros); 
  • Nível de atividade física; 
  • Distúrbios gastrointestinais (SII, doença celíaca, doença inflamatória intestinal); 
  • Estresse e alterações hormonais, que modulam o trânsito intestinal. 

 

A Escala de Bristol e a comunicação com o paciente 

A Escala de Bristol também exerce um papel educativo e comunicacional.
Sua representação visual e linguagem acessível permitem que pacientes descrevam seus sintomas com precisão, facilitando o diálogo clínico e a adesão ao tratamento. 

Médicos podem utilizá-la em consultórios, enfermarias e unidades de terapia intensiva para acompanhar alterações na função intestinal de forma objetiva. 

 

Limitações e cuidados na interpretação 

Embora útil, a Escala de Bristol não substitui o julgamento clínico.
Ela deve ser interpretada em conjunto com: 

  • Histórico médico e alimentar; 
  • Frequência evacuatória; 
  • Sintomas associados (dor abdominal, sangramento, distensão, flatulência). 

Além disso, variações pontuais no formato das fezes podem ocorrer sem relevância patológica, devendo ser valorizadas apenas quando persistentes. 

 

Conclusão 

Escala de Bristol é uma ferramenta prática, validada e acessível para avaliação do trânsito intestinal e comunicação médico-paciente.
Sua utilização rotineira auxilia no diagnóstico de constipação e diarreia, no acompanhamento terapêutico e na educação em saúde, sendo um recurso indispensável para médicos, enfermeiros e estudantes da área. 

Integrar a observação da forma e consistência fecal à anamnese permite uma abordagem mais completa e assertiva dos distúrbios gastrointestinais.

 

Este conteúdo foi produzido com o suporte de ferramentas de inteligência artificial (WB Assist e ChatGPT) e revisado pelo editor-médico. 

WB Assist 

  • Síndrome do Intestino Irritável 
  • Constipação em Cuidados Paliativos 
  • Constipação Intestinal 
  • Constipação Funcional

 

Autoria

Foto de Leandro Lima

Leandro Lima

Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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Referências bibliográficas

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