A deficiência de micronutrientes essenciais à saúde humana, que perfazem um grupo de aproximadamente 20 elementos com requisição de ingestão diária < 100 mg, é esperada em um terço da população mundial.
Os fatores de risco incluem:
- Vulnerabilidade socioeconômica;
- Baixa ingestão alimentar;
- Dieta vegana ou vegetariana (risco de deficiência de vitamina A, B12, ferro, zinco, tiamina, riboflavina, piridoxina e colina);
- Gestação, puerpério e infância;
- Etilismo;
- Gastrite atrófica autoimune;
- Síndrome de má absorção (doença celíaca, parasitoses, pancreatite crônica, doenças inflamatórias intestinais e desvio do trânsito gastrointestinal, por exemplo);
- Uso de medicamentos como orlistat, inibidores de bomba protônica, olmesartana, metformina e análogos de GLP-1.
Leia mais: Diretriz sobre deficiência de micronutrientes: condições clínicas associadas
As principais imprecisões relativas aos micronutrientes podem ser assim sintetizadas:
- Os marcadores bioquímicos, embora amplamente utilizados, têm acurácia limitada (a ferritina e dosagem de zinco, por exemplo, sofrem influência de condições inflamatórias) e pontos de cortes heterogêneos.
- Há dúvidas reais sobre a relação de causalidade entre as deficiências de micronutrientes e doenças crônicas (há exceções notáveis, como a relação entre deficiência de tiamina e beribéri; vitamina A e cegueira noturna/xeroftalmia; vitamina B12/ferro/folato e anemias; vitamina C e escorbuto; e vitamina D e raquitismo).
- Os valores recomendados de ingestão diária de micronutrientes são heterogêneos, embora balizados por recomendações advindas do Estimated Average Requirement (EAR, que prima pela média de necessidade de um grupo) e Recommended Dietary Allowance (RDA, que visa a cobertura de 97,5% das necessidades basais), por exemplo.
Alvo utilizado |
EAR |
RDA (EAR + 2 desvios-padrão ou EAR + ~20%) |
Risco de inadequação |
50% |
2-3% |
Destaca-se, contudo, os impactos positivos concretos da suplementação em cenários específicos:
- A suplementação de vitamina A reduziu a mortalidade em 34% entre pré-escolares em países em desenvolvimento;
- A suplementação de micronutrientes em gestantes reduz a incidência de baixo peso ao nascer em até 14%;
- Os suplementos lipídicos entre crianças entre 6 e 24 meses podem reduzir o risco de morte em até 27%;
- O adequado consumo de cálcio e vitamina D é importante no tratamento da osteoporose;
- O uso pré-conceptivo do ácido fólico é útil na profilaxia dos defeitos do tubo neural;
- Há efeito potencial da combinação de vitamina C e E, zinco, cobre, luteína e zeaxantina na degeneração macular relacionada à idade.
Em contrapartida, há de se apontar que a suplementação vitamínica, sem indicação clara, é feito por até metade da população, o que gera exposição ao risco de intoxicação, como é o caso da hipervitaminose D, que pode implicar em nefrolitíase, fraqueza muscular e alterações gastrointestinais, sobretudo com doses diárias > 4.000 UI.
Por fim, citamos algumas recomendações pontuais de valia na prática cotidiana:
- Vitamina D: A ingestão diária recomendada varia por faixa etária: 400 UI/dia (< 12 meses); 600 UI/dia (<70 anos) e 800 UI/dia (> 70 anos) com alvo de 50 a 75 nmol/L;
- Vitamina B12: a suplementação é recomendada no veganismo (abstenção total de produtos de origem animal, como carne, peixes, leite e ovos) e na gastrite atrófica autoimune em dose entre 500 e 1.000 mcg/dia;
- Ferro: o ponto de corte mais convencional de ferritina para a anemia ferropênica é < 50 μg/L. O sulfato ferroso é a forma com maior biodisponibilidade, sendo que doses > 45 mg/dia aumentam o risco de náuseas e constipação. Os recém-nascidos devem receber a dose de 1 mg/kg/dia.
E um guia rápido dos principais biomarcadores:
Nutriente |
Biomarcador |
Inadequação |
Vitamina A |
Retinol sérico |
< 0,7μmol/L |
Vitamina D |
25-OH-vitamina D |
< 30 nmol/L |
Vitamina E |
Α-tocoferol sérico |
< 12 μmol/L |
Folato |
Folato sérico |
< 6,8 nmol/L |
B12 |
Cobalamina sérica |
< 221 pmol/L |
Ferro |
Ferritina sérica |
< 30 μg/L |
Zinco |
Zinco plasmático |
< 11 μmol/L |
Conclusão e mensagens práticas
- Os micronutrientes essenciais são fundamentais para a saúde humana e demandam a ingestão em pequenas quantidades diárias (< 100 mg).
- As deficiências podem implicar em doenças graves, como o escorbuto, raquitismo e anemia, bem como desfechos maternofetais desfavoráveis.
- A despeito da sua importância, ainda há muita heterogenidade sobre a ingestão diária recomendada e certa inacurácia relativa aos biomarcadores.
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