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Clínica Médica12 março 2025

Deficiências de micronutrientes: uma visão rápida e atualizada

A deficiência de micronutrientes essenciais à saúde humana é esperada em um terço da população mundial
Por Leandro Lima

A deficiência de micronutrientes essenciais à saúde humana, que perfazem um grupo de aproximadamente 20 elementos com requisição de ingestão diária < 100 mg, é esperada em um terço da população mundial. 

Os fatores de risco incluem: 

  • Vulnerabilidade socioeconômica;  
  • Baixa ingestão alimentar; 
  • Dieta vegana ou vegetariana (risco de deficiência de vitamina A, B12, ferro, zinco, tiamina, riboflavina, piridoxina e colina); 
  • Gestação, puerpério e infância; 
  • Etilismo; 
  • Gastrite atrófica autoimune; 
  • Síndrome de má absorção (doença celíaca, parasitoses, pancreatite crônica, doenças inflamatórias intestinais e desvio do trânsito gastrointestinal, por exemplo);  
  • Uso de medicamentos como orlistat, inibidores de bomba protônica, olmesartana, metformina e análogos de GLP-1.    

Leia mais: Diretriz sobre deficiência de micronutrientes: condições clínicas associadas

As principais imprecisões relativas aos micronutrientes podem ser assim sintetizadas: 

  • Os marcadores bioquímicos, embora amplamente utilizados, têm acurácia limitada (a ferritina e dosagem de zinco, por exemplo, sofrem influência de condições inflamatórias) e pontos de cortes heterogêneos.  
  • Há dúvidas reais sobre a relação de causalidade entre as deficiências de micronutrientes e doenças crônicas (há exceções notáveis, como a relação entre deficiência de tiamina e beribéri; vitamina A e cegueira noturna/xeroftalmia; vitamina B12/ferro/folato e anemias; vitamina C e escorbuto; e vitamina D e raquitismo).  
  • Os valores recomendados de ingestão diária de micronutrientes são heterogêneos, embora balizados por recomendações advindas do Estimated Average Requirement (EAR, que prima pela média de necessidade de um grupo) e Recommended Dietary Allowance (RDA, que visa a cobertura de 97,5% das necessidades basais), por exemplo.  

Alvo utilizado 

EAR 

RDA (EAR + 2 desvios-padrão ou EAR + ~20%) 

Risco de inadequação 

50% 

2-3% 

Destaca-se, contudo, os impactos positivos concretos da suplementação em cenários específicos: 

  • A suplementação de vitamina A reduziu a mortalidade em 34% entre pré-escolares em países em desenvolvimento; 
  • Os suplementos lipídicos entre crianças entre 6 e 24 meses podem reduzir o risco de morte em até 27%; 
  • O adequado consumo de cálcio e vitamina D é importante no tratamento da osteoporose;  
  • O uso pré-conceptivo do ácido fólico é útil na profilaxia dos defeitos do tubo neural; 
  • Há efeito potencial da combinação de vitamina C e E, zinco, cobre, luteína e zeaxantina na degeneração macular relacionada à idade.   

Em contrapartida, há de se apontar que a suplementação vitamínica, sem indicação clara, é feito por até metade da população, o que gera exposição ao risco de intoxicação, como é o caso da hipervitaminose D, que pode implicar em nefrolitíase, fraqueza muscular e alterações gastrointestinais, sobretudo com doses diárias > 4.000 UI. 

Por fim, citamos algumas recomendações pontuais de valia na prática cotidiana: 

  • Vitamina D: A ingestão diária recomendada varia por faixa etária: 400 UI/dia (< 12 meses); 600 UI/dia (<70 anos) e 800 UI/dia (> 70 anos) com alvo de 50 a 75 nmol/L;  
  • Vitamina B12: a suplementação é recomendada no veganismo (abstenção total de produtos de origem animal, como carne, peixes, leite e ovos) e na gastrite atrófica autoimune em dose entre 500 e 1.000 mcg/dia; 
  • Ferro: o ponto de corte mais convencional de ferritina para a anemia ferropênica é < 50 μg/L. O sulfato ferroso é a forma com maior biodisponibilidade, sendo que doses > 45 mg/dia aumentam o risco de náuseas e constipação. Os recém-nascidos devem receber a dose de 1 mg/kg/dia.  

 E um guia rápido dos principais biomarcadores: 

 

Nutriente 

Biomarcador 

Inadequação 

Vitamina A 

Retinol sérico 

< 0,7μmol/L 

Vitamina D 

25-OH-vitamina D 

< 30 nmol/L 

Vitamina E 

Α-tocoferol sérico 

< 12 μmol/L 

Folato 

Folato sérico 

< 6,8 nmol/L 

B12 

Cobalamina sérica 

< 221 pmol/L  

Ferro 

Ferritina sérica  

< 30 μg/L 

Zinco 

Zinco plasmático 

< 11 μmol/L 

Conclusão e mensagens práticas 

  • Os micronutrientes essenciais são fundamentais para a saúde humana e demandam a ingestão em pequenas quantidades diárias (< 100 mg).  
  • As deficiências podem implicar em doenças graves, como o escorbuto, raquitismo e anemia, bem como desfechos maternofetais desfavoráveis.  
  • A despeito da sua importância, ainda há muita heterogenidade sobre a ingestão diária recomendada e certa inacurácia relativa aos biomarcadores.  

 

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Referências bibliográficas

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