É difícil dizer para pacientes gestantes o quanto de cafeína elas pode ingerir por dia: um copo de mate? Uma, ou duas xícaras pequena de café? Alguns obstetras recomendam a suspensão da cafeína na gestação, outros recomendam o consumo controlado. Quem está certo?
Em 2020 o American College of Obstetricians and Gynecologists reafirmou que uma dose diária de 200 mg por dia de cafeína parece não oferecer riscos como abortamento ou parto prematuro. A Health Canada recomenda um máximo de 300 mg por dia, incluindo fontes naturais de cafeína, como ervas como guaraná e erva-mate. A American Dietetic Association (ADA) recomenda que mulheres gestantes evitem doses acima de 300 mg/dia.
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Porém, recentemente, alguns trabalhos demostraram que doses baixas, mesmo menores que 200 mg/dia de cafeína podem estar associadas ao aumento de risco de baixo peso ao nascer, e restrição de crescimento fetal, sugerindo que pode não haver uma dose segura de cafeína na gestação.
Nesse contexto, neste mês de março de 2021 o JAMA publicou um estudo avaliando a associação entre ingesta de cafeína por gestantes e índices antropométricos neonatais, testando a modificação do efeito pelo genótipo de metabolismo materno rápido ou lento da cafeína.
A relação entre ingesta de cafeína, metabolismo materno e índices antropométricos do bebê
Foi realizada uma coorte longitudinal, o National Institute of Child Health and Human Development Fetal Growth Studies – Singletons incluiu 2.055 mulheres não fumantes, com baixo risco de desenvolvimento de CIUR, com informações completas sobre o consumo de cafeína. O estudo foi realizado em doze centros clínicos nos EUA entre 2009 e 2013.
A cafeína ingerida, então, foi avaliada a partir das concentrações plasmáticas de cafeína e paraxantina (principal metabolito da cafeína) e o consumo a partir do relato da paciente de ingestão de bebidas com cafeína entre 10-13 semanas de gestação.
Além disso, o trabalho avaliou o metabolismo das gestantes. Ele foi definido como rápido ou lento usando informações do genótipo da variante de nucleotídeo único rs762551 (CYP1A2 * 1F).
As medidas antropométricas neonatais, incluíam peso ao nascer, comprimento e circunferências da cabeça, abdominal, braço e coxa, dobra cutânea e medidas de massa gorda.
Resultados surpreendentes
Ao se observar o metabolismo materno, não houve associação entre cafeína e antropometria neonatal de acordo metabolismo da cafeína, seja ele lento ou rápido.
Entretanto, foram observadas pequenas reduções nas medidas antropométricas neonatais com o aumento do consumo de cafeína. Os resultados sugerem que o consumo durante a gravidez, mesmo em níveis muito mais baixos do que os 200 mg por dia recomendados, podem estar associados à diminuição do crescimento fetal.
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Infelizmente, não foi observado um limiar para o consumo de cafeína, que se traduz em pouca segurança ao estipularmos uma quantidade pré-estabelecida às pacientes gestantes.
Nesse ínterim, ainda não temos evidências consistentes para vetar por completo a ingesta de cafeína na gestação, tampouco orientar que seu consumo seja seguro em duas ou uma xícara de café por dia. A orientação deve ser individualizada e as evidências atuais compartilhadas com a paciente.
Referências bibliográficas:
- Gleason JL, Tekola-Ayele F, Sundaram R, et al. Association Between Maternal Caffeine Consumption and Metabolism and Neonatal Anthropometry: A Secondary Analysis of the NICHD Fetal Growth Studies–Singletons. JAMA Netw Open.2021;4(3):e213238. doi:1001/jamanetworkopen.2021.3238
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