As imunizações são lembranças vívidas da infância da maioria dos brasileiros, sendo essa uma virtude do bem estruturado Programa Nacional de Imunizações, que tem se munido progressivamente de insumos e tecnologias, além de capitanear campanhas educativas, a exemplo do lúdico personagem “Zé Gotinha”.
Ao longo da vida adulta, entretanto, essa importante ferramenta de prevenção de agravos infecciosos tende a ser negligenciada por vários motivos: a correria cotidiana, a ausência de percepção de vulnerabilidade e a crescente desinformação em saúde, que tende a distorcer a visão entre os benefícios e riscos das vacinas.
A Sociedade Brasileira de Imunizações, com o intuito de homogeneizar as condutas vacinais para os adultos e otimizar o seu alcance, divulgou o seu calendário para indivíduos entre 20 e 59 anos, cujas principais recomendações abordaremos.
Veja também: Atualidades na vacinação em adultos: vacinas adicionadas ao PNI nos últimos 5 anos
Antes de avançar nas especificações de cada imunizante, relembramos as regras de ouro das imunizações:
- As vacinas combinadas são preferíveis;
- Sempre que possível, considerar aplicações simultâneas na mesma visita;
- Qualquer dose não administrada na idade recomendada deve ser aplicada na visita subsequente;
- Eventos adversos significativos devem ser notificados.
Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto
- Agentes contemplados: difteria, tétano e coqueluche (vacina dTpa).
- Na ausência de vacinação prévia ou histórico vacinal conhecido, recomenda-se 1 dose da dTpa, seguida por 2 doses da dT (esquema: 0, 2 e 4 a 8 meses), totalizando 3 doses do componente tetânico.
- Os indivíduos com esquema vacinal básico completo (3 doses de dT) devem receber a dose de reforço com a dTpa a cada 10 anos.
- Os indivíduos com programação de viagem para países endêmicos de poliomielite
devem receber a vacina dTpa-VIP.
- Disponibilidade no SUS: dT (universal) e dTpa (exclusivamente para gestantes, puérperas e profissionais de saúde).
- Disponibilidade em clínicas privadas: dTpA e dTpa-VIP.
Influenza
- A dose única anual é recomendada para adultos saudáveis. Em imunodeprimidos, pode-se considerar uma segunda dose, com intervalo de 3 meses.
- Disponibilidade no SUS: 3V para adultos pertencentes aos grupos de risco.
- Disponibilidade em clínicas privadas: 3V e 4V, sendo preferível a segunda, por contemplar um maior número de cepas circulantes.
Pneumocócica
- A vacinação está indicada para os adultos portadores de comorbidades e, de forma universal, na última década dessa categoria (50 a 59 anos).
- Indica-se a VPC20 (Prevenar® – vacina pneumocócica conjugada) em dose única ou o esquema sequencial abaixo descrito:
1° passo | Intervalo | 2° passo | Intervalo | 3° passo |
VCP15 ou VCP13 | 6 a 12 meses | VPP23 | 5 anos | VPP23 |
VPP: Vacina pneumocócica polissacarídica.
- Disponibilidade no SUS: VPC13 nos CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais) para algumas indicações específicas do esquema sequencial; e a VPP23 para grupos de risco, asilados e institucionalizados.
- Disponibilidade em clínicas privadas: VPC20, VPC15, VPC13 e VPP23.
Herpes zóster
- Indicação de rotina a partir dos 50 anos, incluindo aqueles que já desenvolveram a doença, desde que respeitado um intervalo habitual de 6 meses entre a doença e a imunização.
- Esquema: vacina inativada (VZR – Shingrix®) com 2 doses intervaladas em 2 meses (0 – 2).
- A VZR é recomendada inclusive para aqueles previamente vacinados com a vacina atenuada (VZA – Zostavax®), respeitando-se um intervalo mínimo de 2 meses entre elas.
- Indisponibilidade no SUS.
- Disponibilidade em clínicas privadas: VZR.
Tríplice viral
- A vacina para sarampo, caxumba e rubéola, é administrada em 2 doses, a partir de 1 ano de idade e com intervalo mínimo de 1 mês (0 – 1).
- Não há evidências que justifiquem uma 3ª dose como rotina para adultos com esquema completo, embora possa ser considerada em surtos epidemiológicos.
- Recomenda-se 2 doses até os 29 anos e uma dose única se administrada entre 30 e 59 anos.
- A administração em imunossuprimidos deve ser discutida de maneira individualizada com o médico assistente.
- Pode-se considerar a aplicação da vacina combinada tetraviral para os suscetíveis (SCRV), que contempla também a varicela.
- Há disponibilidade no SUS.
Varicela
- A imunização é recomendada para os indivíduos suscetíveis com 2 doses (0 – 1 a 2 meses).
- A administração em imunossuprimidos deve ser discutida de maneira individualizada com o médico assistente.
- A disponibilidade é exclusivamente no setor privado.
Hepatite A e B
- A vacina da hepatite A é administrada em 2 doses (esquema: 0 – 6 meses), enquanto a da hepatite B em 3 doses (0 – 1 – 6 meses), ambas destinadas aos suscetíveis.
- Há ainda a opção da vacina combinada (A + B) no esquema (0 – 1 – 6 meses).
- Disponibilidade no SUS: Vacina da Hepatite B.
- Disponibilidade em clínicas privadas: Vacina da Hepatite A e Combinada (A + B).
HPV
- A recomendação é pela vacinação preferencial com a vacina HPV9, em detrimento da HPV4, em 3 doses (esquema: 0 – 1 – 2 a 6 meses), incluindo aqueles adultos previamente expostos e com faixa etária entre 20 e 45 anos. A partir dos 45 anos, a decisão deve ser compartilhada, pois extrapola a faixa etária do licenciamento.
- Contraindicada para gestantes.
- A disponibilidade para adultos é exclusivamente no setor privado.
Meningogócicas conjugadas: ACWY e C
- Uma dose única da vacina ACWY (preferível) ou C (alternativa) pode ser realizada diante da necessidade de reforço, na dependência da situação epidemiológica.
- A disponibilidade para adultos é restrita ao setor privado.
- A vacina meningocócica B, em 2 doses intervaladas em 1 (Bexsero®) ou 6 meses (Trumenba®), é indicada na dependência da situação epidemiológica.
- O uso é considerado off label acima dos 50 (Bexsero®) e 25 anos (Trumenba®), respectivamente.
- Ambas estão disponíveis exclusivamente no setor privado.
Febre amarela
- A recomendação é da aplicação de 2 doses, intervaladas em 10 anos.
- A vacina pode ser exigida para a emissão do CIVP (Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia) na dependência do destino, devendo ser aplicada até 10 dias antes da viagem.
- É contraindicada em nutrizes até que o bebê complete 6 meses, e o uso em imunodeprimidos e gestantes deve ser discutido com o médico assistente.
- Há disponibilidade no SUS.
Dengue
- A vacina Qdenga® é preferível, podendo ser utilizada em adultos com até 60 anos e de forma independente de contato prévio com o vírus.
- O esquema é de 2 doses com intervalo de 3 meses (Esquema: 0 – 3 meses).
- A Dengvaxia® deve ser limitada aos adultos soropositivos para dengue, com até 45 anos e em 3 doses (Esquema: 0 – 6 – 12 meses).
- Ambas são contraindicadas em imunodeprimidos, gestantes e lactantes.
- A disponibilidade para adultos é exclusiva no setor privado.
-
Covid-19
- A vacina contra a covid-19 bivalente (Comirnaty – Pfizer®) está indicada como dose anual de reforço para grupos prioritários, conforme as definições para o ano de 2024.
Veja mais: Covid-19: Anvisa aprova atualização das vacinas
Conclusão e mensagens práticas
A imunização entre os adultos, frequentemente negligenciada, é uma importante estratégia de profilaxia, tanto sob o aspecto individual quanto coletivo.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.