Associação do polimorfismo E/D do gene da ECA com hipertensão em adolescentes
A maior preocupação, no momento, é que a prevalência de hipertensão (HAS) tem aumentado entre os adolescentes. Esse aumento se deve a múltiplos fatores, como obesidade e sedentarismo, mas pode haver também um componente genético importante. Estudos comprovam que, se o adolescente é filho de pais hipertensos, a probabilidade de desenvolver essa patologia é muito maior do que a de filhos de pais normotensos.
Nova metanálise
Hoje trouxemos um resumo de uma revisão sistemática que estudou o polimorfismo ACE I/D e sua relação com a prevalência de hipertensão e nível de atividade física dos adolescentes. Nessa revisão, foram incluídos sete estudos.
Resultados
No estudo de Fuentes, a população estudada era de meia-idade e não foi encontrada relação entre o polimorfismo I/D da ECA com HAS. Kim (2009) observou uma tendência sólida de associação entre ECA e HAS, indicando um maior risco cardiovascular para indivíduos homozigotos DD. O estudo de Avila-Vanzzini (2015) observou uma influência mais significativa nos homens do que nas mulheres.
No estudo de Kim, o exercício físico foi usado como intervenção. O efeito sobre a espessura da artéria carótida foi analisado, demonstrando um aumento na espessura em indivíduos DD, mesmo após a intervenção, indicando uma ação atenuada do exercício devido ao polimorfismo DD. Mäestu (2013) investigou a associação entre o polimorfismo I/D da ECA e diferentes níveis de atividade física. Não houve relação entre o polimorfismo do gene da ECA e a atividade física e HAS. Esse resultado também está em linha com estudos que mostram que a presença de pelo menos um alelo D da ECA está associada a um desempenho funcional significativamente melhor após exposição a intervenções de maior atividade física do que a presença do alelo I.
Apesar desses resultados, outros estudos não observaram diferenças significativas na relação entre o nível de atividade física e o polimorfismo I/D da ECA.
Imagem de freepikConsiderações
Ainda não há consenso se o polimorfismo de inserção (I) ou de deleção (D) afetaria os parâmetros cardiometabólicos e a capacidade aeróbica. Roltsch, que avaliou a relação entre ECA e parâmetros cardiovasculares durante o exercício, observou a ausência de associação entre essas variáveis. Roltsch observou que as mulheres treinadas de todos os genótipos de ECA apresentavam menor percentual de gordura do que o grupo sedentário, sem mostrar uma relação entre o nível de atividade física e o genótipo. Com as variáveis cardiovasculares, no exercício máximo, o polimorfismo de ECA não se relacionou com os níveis de pressão arterial da população avaliada, diferindo no exercício físico submáximo. A PAD das mulheres homozigotas II foi menor que a das DD.
O estudo de Winnick (2004) buscou investigar a associação entre o polimorfismo I/D da ECA e o nível de atividade física e concluiu que pode haver essa associação em indivíduos com hipertensão limítrofe e leve. Esse resultado difere dos estudos mencionados anteriormente, mas a população também é diferente, pois são indivíduos hipertensos.
O estudo de Wong (2012), que também buscou determinar a associação entre o polimorfismo I/D da ECA e os níveis de atividade física, observou uma associação na qual indivíduos com genótipos DD e ID relataram níveis mais baixos de atividade física em comparação com indivíduos II.
Assim, podemos notar que a expressão e a produção de componentes reguladores presentes no sistema endócrino, como o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), desempenha um papel crucial na patogênese da hipertensão essencial. Dada essa relação, a literatura mostra que esse polimorfismo pode aumentar as chances de desenvolver HAS, sendo uma variante genética essencial para a alteração da função fisiológica cardiovascular. Em indivíduos com uma maior quantidade de angiotensina DD, podem ocorrer alterações em vários mecanismos, como a disfunção autonômica e a função endotelial, contribuindo para a hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares.
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Em relação à associação entre atividade física, viu-se que a população hipertensa apresenta um genótipo II mais elevado, bem como um nível mais alto de atividade física. Já se sabe que a presença do genótipo II da ECA como um possível preditor de melhor desempenho físico, devido aos níveis mais elevados de cininas, que, consequentemente, aumentam o fluxo sanguíneo e o suprimento de oxigênio, substratos e glicose para os músculos.
Conclusão e mensagem prática
Podemos concluir, que, apesar da escassez de estudos que relacionem a HAS na adolescência, há avanço na consolidação de que o genótipo DD é um preditor mais significativo da HAS. Ainda faltam evidências em relação à influência do polimorfismo I/D da ECA na maior predisposição para a atividade física e funcionalidade como um agente atenuador da HAS.
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