A aracnoide é uma membrana transparente, avascular, que se situa entre a dura-máter, externamente, e a pia-máter, internamente. O espaço entre a aracnoide e a dura-máter é denominado espaço subdural (um espaço virtual), enquanto o espaço entre a aracnoide e a pia-máter (membrana que envolve a medula espinhal) é chamado de espaço subaracnoide, preenchido por líquido cefalorraquidiano (LCR). A ausência de vascularização e o fluxo constante de LCR dificultam o processo de cicatrização desta membrana.
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A aracnoidite espinhal é uma doença caracterizada por processo inflamatório intenso e formação de cicatrizes na membrana aracnoide da medula espinhal, levando a aderência das raízes nervosas a si mesmas ou ao saco dural, com desenvolvimento de déficits neurológicos importantes e dores incapacitantes.
As principais causas são:
- infecções: sífilis, meningite, tuberculose;
- cirurgias de coluna;
- traumas;
- hemorragias intra-tecais;
- substâncias injetadas no espaço subaracnóideo — como meios de contraste (o risco é consideravelmente reduzido com meios de contraste hidrossolúveis e não-iônicos), agentes anestésicos e corticoides.
O processo inflamatório que ocorre na aracnoidite adesiva é dividido em 3 fases. Na primeira fase, as raízes nervosas apresentam-se edemaciadas e hiperemiadas, preenchendo por completo o espaço subaracnóideo. Ocorre proliferação de fibroblastos e deposição de fibrina recobrindo as raízes nervosas e as meninges, provocando aderência entre elas. Na fase seguinte as raízes retomam seu tamanho normal, mas a proliferação fibroblástica perpetua-se, agora com deposição de colágeno, aumentando a aderência. A última fase traduz-se por uma grave atrofia nervosa e preponderância de tecido colágeno cicatricial, que envolve as raízes e as torna aderentes à parede do saco dural. Em alguns casos, a reação inflamatória é tão exuberante que o tecido cicatricial ocupa por completo o espaço subaracnóideo.
Diagnóstico da aracnoidite espinhal
O diagnóstico é considerado na presença de sintomas neurológicos como paresia, parestesia, dor, disfunção vesical e intestinal, cefaleia, diplopia, associado a exame de imagem. O diagnóstico radiológico é feito por tomografia computadorizada com contraste intravenoso ou ressonância nuclear magnética (o uso de imagens axiais ponderadas por T1 é o método mais eficiente). Os diagnósticos diferenciais frequentemente associados são tumores da medula espinhal, síndrome da cauda equina, aracnoidite ossificante e siringomielia.
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Infelizmente, não há cura para a aracnoidite espinhal, tornando o tratamento difícil tanto para o médico quanto para o paciente. O alívio completo da dor e dos sintomas neurológicos permanecem impossíveis na maioria dos casos. Os métodos de tratamento incluem o controle da dor com analgésicos, anti-inflamatórios, opioides, estimulação direta da medula espinhal através de dispositivo com dois eletrodos colocados por via subcutânea, e em casos graves, a remoção cirúrgica do tecido cicatricial. A intervenção cirúrgica é considerada o último recurso especialmente porque a prevenção de novas cicatrizes é imprescindível para esses pacientes em estágio mais avançado, geralmente com a cicatriz retornando após um curto período de tempo.
Referências bibliográficas:
- Wright MH, Denney LC. A comprehensive review of spinal arachnoiditis. Orthop Nurs. 2003 May-Jun;22(3):215-9; quiz 220-1. doi: 10.1097/00006416-200305000-00010.
- Ribeiro C, Reis FC. Aracnoidite adesiva lombar [Adhesive lumbar arachnoiditis]. Acta Med Port. 1998 Jan;11(1):59-65. Portuguese. PMID: 9542180.
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