Um artigo publicado em fevereiro de 2025, na JAMA Surgery, nos faz reavivar uma discussão que ainda é bastante eufórica. O SM-BOSS é um ensaio clínico randomizado, comparando o bypass gástrico com o sleeve, que está atualmente com 10 anos de período observacional. Esse ensaio clínico é bastante semelhante ao SLEEVEPASS, o qual já publicamos neste portal os resultados com 5 anos e que também publicou seus resultados com 10 anos em 2022.
A cirurgia bariátrica possui altos e baixos sobre cada modalidade, com cada serviço defendendo seu ponto de vista a respeito da melhor técnica. Isso não significa que um esteja certo e o outro errado, são apenas compilações de dados e pacientes diferentes, sem termos uma conclusão definitiva sobre o tema.
Métodos
Ensaio clínico, randomizado, multicentros na Suíça, que teve como critério de inclusão pacientes com critérios de cirurgia bariátrica, sem doença do refluxo e sem cirurgias do hiato prévias. O desfecho primário determinado foi o percentual de perda do excesso de IMC (%EBMIL). Uma perda de peso não ideal foi definida com uma perda inferior a 20% do peso total ou um reganho de pelo menos 30% após atingir o nadir. Como desfechos secundários as intercorrências associadas e o controle metabólico.
Resultados
Dos 217 pacientes inicialmente incluídos no estudo, no período de 10 anos de observação, restaram 69 pacientes no grupo sleeve e 73 no grupo bypass. Ambos os grupos apresentaram uma significativa perda de peso, ao serem comprados com o peso inicial. Na análise estatística o %EBMIL para o bypass foi melhor que o sleeve sendo 65,9% e 56,1%, respectivamente (p=0,048). Em 3 pacientes do grupo sleeve e 2 do grupo bypass apresentaram uma perda não ideal, porém sem significância estatística (p=0,67).
Não houve uma diferença muito significativa entre os grupos, em relação ao controle de doenças relacionadas à obesidade como diabetes e dislipidemia. Ambos os grupos mostraram melhoras quando comparado aos dados da base de cada paciente. No grupo sleeve, 29,9% necessitaram de alguma conversão cirúrgica devido à baixa perda de peso ou sintomas de refluxo, que quando comparada ao grupo bypass o percentual foi de 5,5% (p<0,001).
Leia mais: Cirurgia bariátrica: qual é a melhor técnica? Sleeve ou Bypass?
Discussão
Na análise estatística utilizada, demonstrou-se um benefício do uso do By-pass em relação ao sleeve, na análise do %EBMIL, pelo protocolo utilizado, porém ao se analisar a intenção inicial não se demonstra um poder estatístico tão sólido. Isso é diferente dos dados publicados no SLEEVEPASS, cuja análise demonstrou um benefício ainda mais claro do bypass gástrico.
No grupo sleeve, um percentual não desprezível teve a necessidade de algum tipo de conversão cirúrgica e isso já havia sido publicado nos artigos anteriores desse mesmo ensaio clínico. Essa análise também pode sugerir que um paciente tem uma maior chance de cirurgia única quando realiza um bypass.
Apesar de algumas limitações relacionadas ao desenho do estudo, não podemos ignorar que alguns benefícios podem estar relacionados ao bypass, como uma menor taxa de conversão.
Para levar para casa
Ainda falta muito para sabermos qual a cirurgia bariátrica ideal. Mesmo que esse estudo randomizado demonstre que o bypass seja superior em alguns aspectos, não podemos crucificar o sleeve, que possui bons resultados. Tanto o bypass como o sleeve são técnicas consagradas e utilizadas em larga escala. O que ainda está em discussão, é como selecionar melhor os pacientes para cada técnica
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