A discussão da cirurgia bariátrica é ampla e além da técnica utilizada há variações dentro de uma mesma cirurgia que pode modificar o desfecho. Isto é o dia a dia dos cirurgiões bariátricos, pois adaptam a cada paciente algumas pequenas nuances. Em um by-pass gástrico o cirurgião pode variar o tamanho da alça alimentar e biliopancreática, para melhores resultados a depender do biotipo do paciente.
No sleeve gástrico, também existem pontos de discussão como o tamanho da sonda utilizada que servirá como guia da ressecção, se devemos reforçar a linha de sutura e a quantidade de antro a ser ressecado. Porém, nenhuma mudança vem isenta de consequências, que podem ser maléficas ao paciente. Em teoria, um antro residual menor pode melhorar a perda de peso a longo prazo, no entanto pode piorar ou até desencadear quadros de refluxo em um paciente.
O trabalho publicado na Obesity Surgery buscou analisar justamente a diferença de resultados de pacientes submetidos a sleeve com ou sem ressecção antral.
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Métodos
Estudo realizado na Índia, baseado em achados prévios de outros estudos que os pacientes com ressecção antral podem se beneficiar a longo prazo. Foi determinada uma amostra de 50 pacientes em cada grupo. O desfecho primário analisado foi o percentual do excesso de perda de peso com 24 meses do procedimento. Como desfecho secundário, a análise da doença do refluxo gastroesofágico. Os pacientes foram randomizados para ressecção ou não do antro, imediatamente antes da cirurgia. O volume do estômago, tardiamente à cirurgia, foi aferido com a utilização de TC e distensão gástrica com uso de comprimidos efervescentes.
Resultados
Ao longo do estudo foi possível randomizar 95 pacientes, sendo 49 no grupo preservação e 46 no grupo ressecção. A distribuição entre os grupos foi semelhante, possuíam as mesmas características epidemiológicas. O tempo operatório foi de 85 min no grupo preservação e 99 min no grupo ressecção (p=0,01). O número de cargas também foi maior no grupo ressecção (p=0,01).
O percentual de perda do excesso de peso aos 24 meses de observação foi 66,3% no grupo preservação e 74% no grupo ressecção (p=0,2). Já o percentual de perda total foi de 29,1 no grupo preservação e 33 no grupo ressecção (p=0,01). Ao final de 24 meses, 5 pacientes reganharam peso, sendo 3 do grupo de preservação e 2 do grupo ressecção.
Não houve diferença estatística entre os grupos em relação à doença do refluxo sendo um total de 12 pacientes (8 no grupo preservação e 5 no grupo ressecção).
Discussão
Muito se discute os detalhes técnicos que envolvem a cirurgia de sleeve gástrico e ainda está longe de um consenso, inclusive a respeito da ressecção antral. No presente trabalho houve um resultado favorável tanto aos 12 meses quanto aos 24 meses de observação em relação à perda do excesso de peso assim como o percentual total de perda de peso, sendo favorável à ressecção antral. Um questionamento sempre frequente em relação ao sleeve e a doença do refluxo.
No entanto, nesse trabalho não houve diferença entre os grupos, que é comparável a outros estudos já publicados previamente.
Se pode concluir neste estudo, que o sleeve gástrico com ressecção antral é seguro e não aumentou o percentual de doença do refluxo, conforme teorizado. A prática da ressecção antral pode se tornar uma conduta uniforme no futuro.
Veja também: Sleeve pode estar associado a menor risco de reoperações na gastroplastia redutora?
Para levar para casa
Esta é mais uma mudança proposta em cirurgias já consagradas, e para se determinar alguma alteração é fundamental um tempo de observação maior e uma maior amostra.
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