Qual deve ser a duração do repouso após cirurgias abdominais ou correção de hérnias?
Em cirurgias abdominais e correções de hérnias ventrais, persiste o questionamento sobre quando o paciente pode ser liberado para atividades.
Com o advento de projetos que priorizam a otimização da recuperação pós-operatória, a exemplo do protocolo ERAS (Enhanced Recovery After Surgery), as recomendações para deambulação e retorno às atividades laborais têm se tornado cada vez mais precoces. Essa abordagem vem se mostrado benéfica, pois além de auxiliar a recuperação do paciente após as cirurgias, reduzindo o impacto socioeconômico relacionado ao tempo de inatividade laboral.
Para cirurgias abdominais, como laparotomias e abordagens videolaparoscópicas, e correções de hérnias ventrais, todavia, persiste o questionamento sobre o quão cedo o paciente pode ser liberado para realizar atividades físicas sem aumento do risco de hérnias incisionais. Até o presente momento não há evidência consistente na literatura sobre o período ideal de repouso pós-operatório e as recomendações têm sido individualizadas pelos cirurgiões, tendendo muitas vezes a serem excessivamente conservadoras.
Leia também: Telas de alta gramatura são superiores no reparo laparoscópico de hérnias inguinais
Estudo recente
Pensando em elucidar esse questionamento, um estudo foi conduzido com cirurgiões especialistas durante o 41º Congresso Anual Internacional da Sociedade Europeia de Hérnia. 127 cirurgiões com alta expertise, 83,9% tinham em torno de 11 anos de atuação, foram questionados sobre o período ideal para retorno às atividades físicas habituais após abordagens abdominais ou de correção herniária. Os resultados obtidos foram: para laparotomias verticais ou transversais um total de 56,7% acharam apropriada a recomendação de 4 semanas de repouso, enquanto 31,5% recomendariam um período maior (entre 6 e 12 semanas). Já em laparoscopias, 57,5% afirmaram ser suficiente o período de 2 semanas e 36,2% afirmaram que 0 e 1,5 semanas seriam suficientes nesta abordagem. Para hérnias inguinais o período de 2 semanas foi considerado apropriado para 55,9% no reparo aberto de Lichtenstein e para 59,8% nos reparos endoscópicos (TAPP/TEP), sendo que aproximadamente 28% dos participantes consideraram esse período muito longo para reparos inguinais minimamente invasivos. Já nas correções de hérnias ventrais ou incisionais tipo sublay ou IPOM (Intra-Peritoneal Onlay Mesh) mais de 50% responderam que 4 semanas seriam suficientes, enquanto para reparos herniários complexos, 47,2% consideraram 4 semanas um período de repouso muito curto, indicando entre 5 e 16 semanas.
Saiba mais: Avaliação do risco cirúrgico em pacientes vacinados contra Covid-19 e cirurgias eletivas
Em resumo, mesmo com uma relativa variabilidade nos resultados, a recomendação foi de retorno à atividade física e esforço laboral após 2 semanas para laparoscopias e herniorrafias inguinais e após 4 semanas para laparotomias e reparos abertos de hérnias incisionais e ventrais.
O que levar para casa
Levando em consideração que a reestruturação da parede abdominal está mais intrinsecamente relacionada a fatores como o metabolismo do colágeno, técnica de síntese, infecção de ferida operatória e obesidade, é razoável que o cirurgião viabilize o retorno o mais breve possível do paciente às atividades cotidianas, compreendendo que recomendações excessivamente restritivas, além de não reduzirem a incidência de hérnias incisionais, também afetam negativamente a recuperação pós-operatória do paciente.
Referências bibliográficas:
- Schaaf S, Willms A, Schwab R, Güsgen C. Recommendations on postoperative strain and physical labor after abdominal and hernia surgery: an expert survey of attendants of the 41st EHS Annual International Congress of the European Hernia Society. Hernia. 2021. doi: 10.1007/s10029-021-02377-w
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.