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Cirurgia12 março 2020

Prevenção pré-operatória de distúrbios cognitivos pós-operatórios

Pacientes idosos submetidos a cirurgias, como cardíacas, possuem grande tendência a desenvolver distúrbios cognitivos pós-operatórios.

Por Gabriela Queiroz

Pacientes idosos submetidos a cirurgias, principalmente cirurgias cardíacas, possuem grande tendência a desenvolver distúrbios cognitivos após o procedimento. Cerca de 50% dos pacientes submetidos a esse tipo de procedimento irão apresentar algum grau de demência ou delírio.

Caracterizados como déficits de atenção e desorientação transitórios e flutuantes, eles representam grande causa de aumento de complicações pós-operatórias, assim como maior tempo de permanência hospitalar. Apesar de, às vezes, serem considerados de pequena monta e imperceptíveis, pode haver o desenvolvimento de distúrbio cognitivo pós-operatório (DCPO) de longo termo. Muitos mecanismos farmacológicos e intervencionistas foram estabelecidos para evitar essas condições, porém não apresentaram benefícios consistentes.

Nesse estudo mostrou-se a eficácia de mecanismos eletrônicos (software) de estímulo cerebral no período pré-operatório, a fim de promover o aumento da reserva cognitiva e evitar o aparecimento de DCPO.

médico segurando prontuário de distúrbios cognitivos pós-operatórios

Prevenção pré-operatória de distúrbio cognitivo

Apesar de ser sabido que a reserva cognitiva deve ser estimulada e realizada desde a juventude, muitos softwares foram desenvolvidos a fim de promover uma melhora na reserva cognitiva mesmo com seu uso em períodos de tempo curto. Estudos demonstram que um tempo de treinamento utilizando esses softwares durante um período de 10 a 20 horas seria suficiente para evitar casos de DCPO.

Nesse estudo, foi realizado o uso desses dispositivos eletrônicos, por pelo menos dez dias, no período pré-operatório em 45 pacientes com idade entre 60 e 90 anos que seriam submetidos a cirurgias cardíacas. Pacientes com história de doenças psiquiátricas prévias, distúrbio de ansiedade, depressão, história pregressa de acidente vascular cerebral ou epilepsia e aqueles que não possuíam um bom entendimento intelectual foram excluídos do estudo.

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Os pacientes foram divididos em dois grupos, onde um grupo utilizaria os jogos eletrônicos de desenvolvimento intelectual pelo período de 15 minutos duas vezes ao dia durante quatro semanas anteriores ao procedimento, e o outro grupo seria o controle. A análise da incidência de delirium pós-operatório e DCPO foi realizada por pesquisadores “duplo cego” diariamente, utilizando o “Confusion Assessment Method” (CAM) ou CAM-intensive care unit (CAM-ICU) caso necessário e Montreal Cognitive Assessment (MoCA) respectivamente. O uso do parâmetro MoCA para DCPO foi escolhido por ser o de maior eficácia e de maior sensibilidade na detecção de distúrbios cognitivos em pacientes idosos.

A análise dos parâmetros dos distúrbios de cognição, como delirium pós-operatório ou DCPO, foram avaliados nos dois grupos no período imediatamente posterior ao procedimento até seis meses após a alta hospitalar. A incidência de delirium no total foi de 20% sendo 25% no grupo que recebeu os exercícios e 15% no grupo controle. Em relação a DCPO, imediatamente após o procedimento não houve diferença estatística de aparecimento de déficit cognitivo, porém, numa análise mais tardia, o grupo que realizou os exercícios de cognição relatou melhora da capacidade de memória e atenção e a maioria declarou bastante interesse pelo método apresentado.

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Conclusões

Sendo assim, apesar desse estudo não ter fornecido dados satisfatórios a nível de delirium pós-operatório imediato, pode-se evidenciar que o uso de programas de incentivo cognitivo no pré-operatório em determinados pacientes é uma ferramenta válida para os pacientes idosos submetidos a cirurgias cardíacas mas que necessitam de maiores estudos futuros.

Referências bibliográficas:

  • Gara O, Brian P,Mueller, Ariel MA,Gasangwa DV,et all. Prevention of Early Postoperative Decline: A Randomized, Controlled Feasibility Trial of Perioperative Cognitive Training.Anesthesia & Analgesia: March 2020 – Volume 130 – Issue 3 – p 586-595
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  • Cabeza R, Albert M, Belleville S, et al. Maintenance, reserve and compensation: the cognitive neuroscience of healthy ageing. Nat Rev Neurosci. 2018;19:701–710.
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