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Cirurgia7 julho 2017

Enxerto de gordura em glúteos: atenção é necessária

Nos últimos anos o uso de enxerto de gordura autóloga para aumentar a região glútea vem aumentando de forma bastante significativa.

Por André Mattos

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Nos últimos anos o uso de enxerto de gordura autóloga para aumentar a região glútea vem aumentando de forma bastante significativa. Os fóruns online mostram grande satisfação dos pacientes com o resultado da cirurgia. Entretanto, pacientes e cirurgiões podem não estar totalmente cientes do risco de complicações sérias envolvendo esse procedimento.

O primeiro caso descrito de embolia pulmonar fatal após enxerto de gordura foi publicado na literatura médica em 2015. Desde então outros casos foram notificados sem uma estatística oficial.

Entre 2011 e 2015 houve um aumento de 280% nesses procedimentos nos Estados Unidos, conhecido como “Brazilian Butt Lift”devido ao trabalho pioneiro de Toledo em 1985.

A normatização inicial da técnica sugeria injeção em planos profundos para aumentar a viabilidade do tecido adiposo enxertado, e uso de cânulas de 2mm. Em geral, complicações peri-operatórias são incomuns, entretanto complicações sérias como lesão de nervo ciático foram reportadas. Em 2016, Sinno et al publicaram um estudo comparando aumento glúteo com implantes de silicone e com enxerto de gordura. Concluíram que há mais complicações com implantes de silicone, entretanto complicações fatais ocorreram apenas em casos de lipoenxertia.

Um estudo retrospectivo realizado por cirurgiões plásticos mexicanos e pelo Registro de Autópsias da Colômbia por Cárdenas-Camarena identificou 22 óbitos por embolia gordurosa pulmonar em um período de 10 e 15 anos, respectivamente. Esses autores sugeriram que a embolização gordurosa macroscópica era resultado da migração de partículas de gordura do espaço extravascular de alta pressão para o sistema venoso de baixa pressão, em decorrência de lesão vascular.

Em exames necrológicos verificou-se transecção da veia glútea superior em um paciente e lesão da veia glútea inferior em outro. É possível que uma veia seja canulada diretamente durante a cirurgia, mas o mais provável é que haja migração de gordura por gradiente de pressão após uma lesão vascular. O volume de gordura injetada não parece estar relacionada com esses eventos fatais. Nesse estudo o volume médio injetado foi de 214ml.

Alguns estudos mostram mortalidade entre 1:2351 e 1:6241, entretanto ainda não há dados fidedignos estabelecidos. É certo que o Brazilian Butt Lift tem o maior índice de mortalidade entre os procedimentos cirúrgicos estéticos, ultrapassando a abdominoplastia que até hoje era o procedimento com maior índice de mortalidade em nossa especialidade.

Com isso foram criadas algumas orientações para serem seguidas nessa cirurgia:

  1. Evitar injeção em planos profundos
  2. Usar cânulas maiores que 4mm
  3. Evitar angular para baixo a cânula
  4. Posicionar o paciente e as incisões de modo a evitar injeção profunda
  5. Manter constante visão tridimensional da ponta da cânula
  6. Só injetar com a cânula em movimento
  7. Considerar embolia pulmonar em pacientes clinicamente instáveis
  8. Revisar anatomia vascular glútea
  9. Incluir o risco de embolia gordurosa no consentimento informado

Mais estudos clínicos, anatômicos e post-mortem são necessários para confirmar esses achados e identificar técnicas que tornem o procedimento mais seguro.

Enquanto novas estatísticas não são publicadas, deve se considerar esse procedimento de alto risco. Todas as medidas necessárias devem ser tomadas para a segurança do paciente. A banalização da técnica também deve ser evitada, procurando utilizá-la com indicações precisas. E os pacientes devem ser informados dos riscos inerentes ao procedimento com especial ênfase na embolia gordurosa, potencialmente fatal.

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Referências:

  • Toledo LS Gluteal augmentation with fat grafting: the Brazilian buttock techinique : 30 years experience . Clin Plast Surg 2015;42(2):253-261
  • Filomeno LTB, Carelli CR, Silva NCLF, et al. Fat embolism: a review for current orthopaedics practice. Acta Ortop Bras. 2005;13:196-208.
  • Zenker FA. Beitrage zur Anatomie und Physiologie de Lung. Dres- den, Germany: J Braunsdorf. 1861:31.
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  • Overell JR, Bone I, Lees KR. Interatrial septal abnormalities and stroke: a meta-analysis of case-control studies. Neurology. 2000;55:1172-9.
  • Buchholz S, Shakil A, Figtree GA, et al. Diagnosis and manage- ment of patent foramen ovale. Postgrad Med J. 2012;88:217-25.
  • Shaikh N. Emergency management of fat embolism syndrome. J Emerg Trauma Shock. 2009;2:29-33.
  • Bederman SS, Bhandari M, McKee MD, et al. Do corticosteroids reduce the risk of fat embolism syndrome in patients with long bone fractures? Can J Surg. 2009;52:386-93.
  • Platt MS, Kohler LJ, Ruiz R, et al. Deaths associated with lipo- suction: case reports and review of the literature. J Forensic Sci. 2002;47:205-7.

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