O linfoma anaplásico de grandes células associado ao implante mamário (do inglês, BIA-ALCL) é uma neoplasia relacionada ao uso de próteses texturizadas. Descrita inicialmente em 1997, é uma patologia rara, mas com elevada morbidade quando não manejada adequadamente. Por isso, considerando a relevância de evidências que auxiliem no melhor entendimento da fisiopatologia e conduta adequada no BIA-ALCL, revisaremos a seguir as recomendações do novo consenso da American Society of Plastic Surgery (ASPS) sobre prevenção e manejo dessa neoplasia.
Epidemiologia e fatores associados ao BIA-ALCL
Há registro de 1687 casos e 59 mortes por BIA-ALCL globalmente (ASPS, 2024), ocorrendo 70% dos casos com próteses texturizadas. Há uma clara associação entre esse tipo de implante e a ocorrência da doença, por isso indica-se que próteses macrotexturizadas (maior que 50 μm) sejam descontinuadas, além da vigilância de todas as pacientes com implantes mamários, sejam lisos ou microtexturizados, pois o uso desses não extingue o risco de desenvolvimento da doença.
Patogênese
Embora alterações em genes como BRCA1/2 e p53 estejam sendo potencialmente associadas ao desenvolvimento de BIA-ALCL, ainda não há rotina de testes genéticos para estratificar o risco de desenvolvimento da doença. Fatores não genéticos como a inflamação crônica ocasionada por implantes texturizados também podem estar envolvidos em sua patogênese.
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Tratamento
Medidas preventivas como esclarecimento sobre o risco de desenvolvimento da doença em pacientes com implantes texturizados, além do seu acompanhamento seriado podem auxiliar no diagnóstico precoce de BIA-ALCL.
Em qualquer paciente com implante mamário está indicado acompanhamento para avaliação de ruptura da prótese com ultrassom ou ressonância magnética após 5 anos e sequencialmente a cada 2 ou 3 anos (FDA, 2021).
Tais exames também estão indicados em pacientes sintomáticos com implantes texturizados. Se histórico de BIA-ALCL, está indicado seguimento semestral com PET-CT ou tomografia computadorizada, por 2 anos.
O tratamento consiste primariamente na abordagem cirúrgica, composta por explante com capsulectomia em bloco, ressecção de massas associadas e linfadenectomia de linfonodos comprometidos.
Quimioterapia (QT) ou imunoterapia (IMT) devem ser consideradas em pacientes em estágio IIA com lesões invadindo estruturas críticas e consideradas irressecáveis. Também devem ser consideradas em pacientes IIB ou estágios mais avançados. Já em casos limítrofes para abordagem cirúrgica pode-se recomendar IMT-neoadjuvante.
A adjuvância com radioterapia (RT) está indicada em pacientes com lesões irressecáveis. A dosagem indicada varia entre 25 e 30 Gy.
Em caráter profilático, o explante de próteses macrotexturizadas é considerado razoável, embora não haja indicação formal de sua prática, visto não existir evidência consistente que embase a redução de risco com essa medida. Por isso, a tomada de decisão deve ser compartilhada com o paciente, ponderando o potencial benefício e riscos inerentes ao procedimento cirúrgico e resultado estético.
Já em pacientes com doença unilateral há recomendação de explante com capsulectomia total profilática contralateral, visto que tais pacientes demonstram maior susceptibilidade à doença.
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O que levar para casa
A prevenção é o ponto de partida na abordagem do BIA-ALCL, que engloba o esclarecimento e acompanhamento de pacientes com implantes mamários, principalmente texturizados. O tratamento consiste primariamente em abordagem cirúrgica e ferramentas complementares como RT, QT e IMT são condutas de exceção. Vale ressaltar, todavia, que a decisão sobre o tratamento, assim como condutas profiláticas, como explante, partem de uma avaliação criteriosa da equipe multidisciplinar em conjunto com o paciente.
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