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Carreira13 março 2025

Tudo o que o médico precisa explicar sobre doação de rim ao paciente

Por Ester Ribeiro

A doação de rim é um procedimento complexo que exige uma avaliação cuidadosa e um acompanhamento adequado para garantir a segurança e o bem-estar dos doadores.

Abaixo estão os principais aspectos que os médicos devem explicar aos pacientes interessados na doação.

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Quem pode doar um rim?

No Brasil, a doação de rim por doador vivo é permitida para pessoas saudáveis que atendam a critérios médicos específicos. A legislação brasileira autoriza a doação entre parentes consanguíneos até o quarto grau (pais, filhos, irmãos, tios, sobrinhos e primos) e cônjuges. Nesses casos, a doação pode ser realizada desde que haja compatibilidade e que o doador esteja em condições de saúde adequadas.

É importante lembrar que a definição de grau de parentesco segue as normas legais e não necessariamente a concepção popular, sendo que primos são considerados parentes de quarto grau.

Além disso, amigos ou pessoas sem vínculo familiar também podem doar um rim. Nessas situações, é necessária uma autorização judicial prévia para assegurar que a doação seja voluntária, altruísta e sem qualquer tipo de remuneração, conforme determina a legislação brasileira.

É importante destacar que, independentemente do grau de parentesco, o potencial doador deve passar por uma avaliação médica rigorosa para garantir que a doação não trará riscos significativos à sua saúde. Essa avaliação inclui exames laboratoriais, de imagem e consultas com especialistas para assegurar a segurança e o bem-estar do doador e do receptor.

 

Avaliação pré-doação

O doador passará por uma cirurgia de grande porte para retirada do rim doado e os candidatos a doadores de rim devem passar por uma avaliação médica criteriosa e abrangente que inclui:

  • Função renal: A taxa de filtração glomerular (TFG) é um critério essencial. Candidatos com TFG ≥ 90 mL/min/1,73 m² são geralmente considerados aptos. Para aqueles com TFG entre 60 e 89 mL/min/1,73 m², a decisão é individualizada, e TFG < 60 mL/min/1,73 m² é um critério de exclusão.
  • Saúde cardiovascular: A pressão arterial deve ser avaliada em pelo menos duas ocasiões com equipamentos calibrados. Caso haja dúvida, recomenda-se a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). Candidatos com hipertensão controlada (<140/90 mmHg) em uso de um ou dois medicamentos e sem dano a órgãos-alvo podem ser aceitos.
  • Avaliação psicossocial: A saúde mental do doador deve ser considerada, garantindo que a decisão seja voluntária e sem coerção. Históricos de transtornos por uso de substâncias podem ser critérios de exclusão ou adiamento da doação.

Riscos de saúde a longo prazo

Estudos indicam que doadores de rim têm um risco ligeiramente maior de desenvolver doença renal crônica (DRC) e hipertensão, mas o risco absoluto de insuficiência renal terminal (IRT) é baixo (<1% em 15 anos). Os doadores devem ser informados desses riscos antes da doação.

Estudos indicam que a doação de um rim não reduz a expectativa de vida do doador. No entanto, é fundamental que o doador mantenha hábitos saudáveis e realize acompanhamento médico regular para assegurar sua saúde a longo prazo.

Procedimento cirúrgico e recuperação

A cirurgia de doação de rim é realizada sob anestesia geral, e o doador geralmente permanece no hospital por alguns dias após o procedimento. A recuperação completa pode levar algumas semanas, e é recomendado evitar atividades físicas intensas durante esse período.

Cuidados pós-doação

Acompanhamento regular é essencial para monitorar:

  • A função renal e a pressão arterial;
  • Possíveis mudanças na qualidade de vida e fadiga;
  • Medidas de saúde preventiva, incluindo dieta equilibrada, atividade física e manutenção do peso corporal saudável.

Aspectos psicológicos e sociais

A doação de rim pode ter impactos positivos e negativos na saúde mental do doador. Muitos relatam qualidade de vida semelhante ou melhor após a doação, mas avaliações psicossociais são fundamentais para identificar riscos e oferecer suporte adequado.

Considerações éticas e legais

Os médicos devem garantir que os doadores estejam plenamente informados sobre os riscos e benefícios da doação. O processo deve ser voluntário, sem coerção, e considerar implicações financeiras, como dificuldades na obtenção de seguros de saúde e vida.

No Brasil, a legislação atual não prevê benefícios específicos para doadores de órgãos. Entretanto, existem iniciativas e propostas em andamento que visam oferecer incentivos aos doadores e suas famílias. Por exemplo, o Projeto de Lei 2050/07 propõe conceder benefícios fiscais e prioridade de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) aos doadores de órgãos e seus familiares. Além disso, em algumas localidades, como São Paulo, há isenção de taxas funerárias para famílias de doadores. Essas medidas buscam reconhecer e incentivar o ato de solidariedade que a doação de órgãos representa.

Autoria

Foto de Ester Ribeiro

Ester Ribeiro

Graduada em Medicina pela PUC  de Campinas. Médica Nefrologista pelo Hospital Santa Marcelina de Itaquera. Título em Nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.

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Referências bibliográficas

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