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Carreira18 outubro 2025

Ser médico é um trabalho ou vocação? As diferenças entre gerações na medicina

Para cuidarmos do outro, precisamos também cuidar de nós mesmos, e só a vocação não é suficiente

“Medicina não é um trabalho, é uma vocação”. Quantas vezes ouvimos essa frase ao longo da formação? Ela costuma vir cheia de idealismo, como se quisesse nos lembrar de que a medicina é um chamado. A frase tem um fundo de verdade, mas ela não é suficiente para resumir o que é viver a medicina.

Muitos de nós, médicos e médicas, escolhemos esse caminho movidos pela ideia de ser uma missão, de fazer algo maior, de fazer algo pelo próximo, de aliviar dores. E esse propósito, embora algumas vezes seja encoberto pela rotina sobrecarregada da formação, com a busca constante por notas, ou pelas horas e mais horas de plantões no início da carreira, deve permanecer sempre como um dos porquês de ser médico. Mas aos poucos, na prática, a gente percebe que só isso não basta. Para cuidarmos do outro, precisamos também cuidar de nós mesmos, e só a vocação não é suficiente.

 

Trabalho ou vocação?

A medicina deveria ser um pouco das duas possibilidades.

A medicina é um trabalho como muitos da área da saúde e das outras áreas. Mas que tem como diferença o alto nível de exigência que cobra de cada médico: estudo constante, decisões difíceis, dedicação por inteiro e o tempo todo. Como profissão, a medicina também precisa ser sustentável. Não pode significar viver em um modo de trabalho eterno. Por isso, é preciso ter tempo para dormir bem, se alimentar com calma, ter uma vida social, assistir a um filme, cuidar da própria saúde.

A medicina também é uma vocação. É essa motivação que nos faz estudar até tarde, buscar diagnósticos complexos, correr atrás de atualizações e nos emocionar com a melhora de um paciente. Afinal, ter a habilidade de cuidar de outra pessoal é um privilégio. Mas essa vocação não pode diminuir o direito de descansar, de ter um bom salário, boas condições de trabalho, de poder dizer não sem culpa para um plantão extra. Um médico motivado, bem remunerado e com tempo para cuidar de si tem tudo para ser um médico melhor.

 

As diferenças entre gerações

Essa dicotomia entre profissão versus vocação fica ainda mais forte ao olharmos as diferentes gerações de médicos. Os profissionais mais experientes, formados em uma época em que a residência médica mal tinha hora para terminar, cresceram ouvindo que dormir pouco, comer correndo e passar o dia inteiro no hospital fazia parte da formação. As 60, 80 ou mais horas semanais dedicadas à medicina eram, e ainda são, para esses profissionais um motivo de orgulho, e com razão, porque foram essas experiências que moldaram boa parte da medicina que temos hoje. Ser médico era sinônimo de se doar ao extremo.

Por outro lado, os médicos mais jovens estão chegando ao mercado de trabalho com outros questionamentos. Hoje os médicos buscam o equilíbrio entre a profissão e a vida pessoal, como ter tempo para a família, para um relacionamento, para atividades físicas. Isso não significa que eles sejam menos comprometidos, só não querem romantizar a jornada excessiva, a exaustão, a ideia de que médico bom é o que vive mais tempo dentro do hospital do que da própria casa.

Isso não significa que uma geração esteja errada e a outra esteja certa. Talvez o segredo esteja na troca de conhecimentos entre as duas. Buscar equilíbrio não significa ser menos comprometido, significa entender que é possível ser médico e ser um ser humano ao mesmo tempo, ter plantões e também ter fins de semana, estudar e descansar.

Os mais jovens têm muito a ganhar com a experiência e sabedoria de quem já enfrentou inúmeros plantões, passou milhares de horas em um centro e passou por dilemas éticos complexos. E os mais experientes podem se beneficiar de um novo olhar sobre as formas de trabalhar e se relacionar com os pacientes.

Talvez esse possa ser um dos caminhos para construirmos uma medicina mais saudável em que profissão e vocação possam ser usadas em uma mesma frase para defini-la, unindo o senso de missão com a consciência de que somos humanos. Médicos são profissionais com um chamado para salvar vidas, mas também sentem, adoecem, se cansam, têm medos e precisam de pausa.

Autoria

Foto de Juliana Karpinski

Juliana Karpinski

Editora médica assistente de Carreira da Afya. Médica e Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). MBA em Gestão Estratégica pela UFPR.

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