A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica sistêmica que tem como principal alvo as articulações sinoviais, levando à destruição articular, com surgimento de erosões ósseas e cartilaginosas e deformidades.
Acomete cerca de 1% da população, especialmente mulheres (2 vezes mais comum em comparação com os homens). Fatores como tabagismo, história familiar e alguns tipos de infecções estão associados ao maior risco desenvolvimento.

Quadro clínico
A marca desta condição é a presença de poliartrite erosiva simétrica e aditiva de pequenas e grandes articulações. O acometimento dos punhos e das mãos é típico, principalmente quando há envolvimento de metacarpofalângicas e interfalângicas proximais, poupando as interfalângicas distais. Cotovelos, ombros, quadris, joelhos, pés e tornozelos também podem ser acometidos.
No esqueleto axial, o acometimento é menos frequente, com envolvimento da coluna cervical em pacientes com doença de longa data, podendo complicar com subluxação atlantoaxial.
Laboratorialmente, o paciente pode apresentar elevação de provas de atividade inflamatória, como velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C reativa (PCR), além de positividade do fator reumatoide (FR) e anti-CCP em 75-80% dos pacientes.
O FR é o autoanticorpo mais sensível, mas pode ser encontrado em diversas outras doenças imunomediadas, sendo que a especificidade aumenta com o aumento dos títulos (considerado altos títulos quando acima de 3 vezes o limite superior da normalidade).
Já o anti-CCP, é o anticorpo mais específico, principalmente em altos títulos. A presença desses anticorpos também está relacionada à maior gravidade de doença e à presença de manifestações extra-articulares.
Além dos exames laboratoriais, os exames da imagem são importantes para o diagnóstico. Na radiografia simples de mãos e pés, as alterações ocorrem em fases mais tardias da doença e pode-se observar edema de partes moles, osteopenia periarticular, erosões marginais (destaque para estiloide ulnar e metatarsofalângicas) e redução do espaço articular. A ultrassonografia com doppler pode identificar a presença de sinovite, erosões ósseas (mais sensível que a radiografia) e positividade do doppler (denotando inflamação ativa).
Em pacientes com suspeita moderada a alta de AR, na indisponibilidade de ultrassonografia, a ressonância magnética pode ser utilizada, mostrando edema de medula óssea, hipertrofia sinovial e erosões ósseas.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na clínica do paciente, associado a alterações laboratoriais e de imagem. Os critérios classificatórios ACR/EULAR 2010 são utilizados para recrutamento em estudos clínicos, mas podem suportar o diagnóstico clínico e são bastante explorados em provas de residência médica.
O paciente é classificado como AR quando apresenta 6 ou mais pontos. A pontuação mais alta obtida em um determinado domínio é usada para esse cálculo. Esses domínios e seus valores são:
1 . Número e localização das articulações envolvidas:
- 2 a 10 articulações grandes (entre ombros, cotovelos, quadris, joelhos e tornozelos) = 1 ponto
- 1 a 3 articulações pequenas (dentre as articulações MCF, articulações IFP, segunda à quinta articulações MTF, articulações IF do polegar e punhos) = 2 pontos
- 4 a 10 pequenas articulações = 3 pontos
- Mais de 10 articulações (incluindo pelo menos 1 articulação pequena) = 5 pontos
2. Anormalidade sorológica (FR ou anti-CPP)
- Positivo em baixos títulos (acima do limite superior do normal) = 2 ponto
- Positivo em altos títulos (maior que três vezes o limite superior do normal) = 3 pontos
3. Resposta de fase aguda elevada (VHS ou PCR) acima do limite superior do normal = 1 ponto
4. Duração dos sintomas de pelo menos seis semanas = 1 ponto
Tratamento
Uma vez diagnosticada, o tratamento é feito com medicamentos modificadores do curso de doença (MMCD). A droga inicial de escolha é o metotrexato. Caso haja falha (ausência de resposta em 3-6 meses) ou intolerância, deve-se trocar a medicação ou associar outro MMCD sintético, como a Leflunomida.
Se ainda não houver resposta, pode-se utilizar os imunobiológicos (anti-TNF alfa, anti-IL6, abatacepte ou, como segunda linha, rituximabe) ou alvo-específicos (inibidores de JAK). O tratamento geralmente não é cobrado de forma aprofundada na maioria das provas de residência, mas é importante saber os princípios básicos.
A corticoterapia pode ser utilizada para alívio sintomático inicial na menor dose (geralmente abaixo de 7,5 mg/dia de prednisona) pelo menor tempo possível.
Pontos importantes
- Diferenciar osteoartrite (artrose) de artrite reumatoide:
- Dor inflamatória: Pior pela manhã, com rigidez matinal prolonagada (> 30-60 minutos). Encontrada na artrite reumatoide.
- Dor mecânica: Pior com o movimento, pode haver rigidez matinal, geralmente < 30 minutos. Presente na osteoartrite.
Dica: Osteoartrite primária não acomete punhos e metacarpofalângicas (acomete principalmente IFP e IFD) e Artrite Reumatoide poupa interfalângica distal.
- Fator reumatoide e anti-CCP não precisam estar presentes para o diagnóstico, mas implicam em pior prognóstico.
- Manifestação cutânea mais comum: Nódulo Reumatoide.
- Acometimento pulmonar mais frequente: Pneumonia Intersticial Usual (PIU).
- Manifestações oculares típicas: xeroftalmia (associação com doença de Sjogren), esclerite/episclerite, ceratite ulcerativa periférica (PUK).
AR no dia a dia do médico
A artrite reumatoide é uma das principais formas de artropatia inflamatória na prática clínica, com uma prevalência relativamente alta na população geral, e a identificação precoce é fundamental para melhores resultados no tratamento.
Saber reconhecer um quadro clínico suspeito e fazer a investigação inicial é essencial para reduzir a jornada do paciente até o tratamento eficaz.
Autoria

Guilherme Balbi
Médico Reumatologista pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). Membro da Comissão de Síndrome Antifosfolípide da SBR. Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Residência em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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