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Carreira22 dezembro 2025

Prevenção de doenças para médicos: e o seu check-up?

O autocuidado, para médicos, não é uma questão estética ou moda de bem-estar: é coerência profissional
Por Ester Ribeiro

Em casa de ferreiro, o espeto é de pau.
Em casa de médico, o check-up é atrasado.

A ironia é cruel — e real. A profissão que mais fala sobre prevenção é, curiosamente, uma das que menos a pratica.

Passamos o dia pedindo aos pacientes que façam exames, vacinem-se, caminhem, durmam bem, bebam água e evitem o estresse. Mas quando o expediente termina (ou emenda no próximo plantão), somos os primeiros a ignorar o próprio conselho.

Quantos de nós sabemos exatamente o nível de vitamina D do paciente, mas não lembramos quando fizemos o nosso último hemograma? Quantos alertam sobre burnout damos aos pacientes, mas vivemos cronicamente cansados? Quantos vezes recomendamos pausas, mas olhamos com culpa para qualquer tentativa de descanso?

A desculpa é sempre a mesma: falta de tempo

E sim, o tempo é curto. Mas, muitas vezes, o que falta não é tempo — é prioridade. É difícil aceitar que, enquanto cuidamos de vidas, podemos estar negligenciando a nossa. E há algo de paradoxal (para não dizer hipócrita) nisso: queremos prolongar a vida dos outros, mas encurtamos a nossa com descuido.

O autocuidado, para médicos, não é uma questão estética ou moda de bem-estar: é coerência profissional. Cuidar de si é, de certo modo, uma forma de respeito à própria medicina — porque não existe boa prática clínica sem boa saúde física e mental.

Imagine um mundo em que o médico que prescreve prevenção é também o paciente modelo daquilo que ensina. Um mundo em que a agenda do consultório inclui um espaço fixo para o próprio check-up, e a frase “estou bem” não seja apenas automática.

Não estou querendo fazer um mundo de faz-de-conta, mas quero te lembrar de cuidar de si, colega. Porque, no fim, ninguém consegue cuidar bem de quem quer que seja se estiver constantemente à beira do colapso.

Faça o seu checklist

Então, antes de abrir o prontuário do próximo paciente, vale a pena abrir o próprio.

Que tal pôr em prática aquela MEV que você orientou ao último paciente? 150min de atividade física por semana, alimentação adequada, sono restaurador.

Prevenção não é só uma orientação. É um espelho.
E talvez esteja na hora de olharmos para ele com a mesma atenção que damos aos outros.

Autoria

Foto de Ester Ribeiro

Ester Ribeiro

Graduada em Medicina pela PUC  de Campinas. Médica Nefrologista pelo Hospital Santa Marcelina de Itaquera. Título em Nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.

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