Prescrição médica: orientações gerais
Receitar tratamentos é uma das tarefas mais comuns do dia a dia do médico. No entanto, o processo de elaborar uma prescrição ainda pode gerar muitas dúvidas, principalmente entre os profissionais mais jovens.
A descrição da proposta terapêutica envolve a explicação simplificada das medicações, posologia e cuidados gerais, assim como entender as expectativas do paciente com o tratamento
O objetivo desse artigo é listar as principais orientações de como fazer uma prescrição médica, o que deve ser evitado, os erros mais comuns e os principais tipos de receita.
O contexto do paciente
Primeiramente, é essencial entender o contexto geral do paciente.
Ele possui capacidade de arcar com o custo da medicação? Posso prescrever alguma medicação com perfil de acessibilidade em programas do governo?
Essas e outras perguntas devem surgir no momento em que se organiza uma linha de tratamento para o paciente, entendendo o projeto terapêutico adaptado para a realidade individual, pois de nada adianta um diagnóstico e prescrição brilhantes se o paciente não possui capacidade de iniciar as medicações.
Prescrição de medicamentos: passo a passo
A prescrição racional de medicamentos significa escolher o melhor tratamento medicamentoso, com base nos critérios de eficácia, segurança, aplicabilidade (comodidade) e custo financeiro para o paciente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere os seguintes passos para o sucesso da prescrição:
Componentes básicos da receita médica
Alguns elementos devem estar presentes em todas as receitas. São eles:
- Tipo de receita;
- Data;
- Individualidade;
- Via de administração;
- Fármaco: genérico e/ou comercial;
- Posologia e forma de apresentação;
- Tempo de uso;
- Indicação;
- Advertências;
- Efeitos colaterais principais.
Esses itens devem estar explícitos no receituário, evitando falhas de entendimento ou dificuldades de compra nas farmácias.
Outro ponto importante é a escrita, que deve ser legível tanto para o paciente quanto para o farmacêutico.
Tipos de receita médica
Entre os modelos de receita mais comuns reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), destacam-se:
- Receita simples: utilizada para a prescrição de medicamentos anódinos e de tarja vermelha.
- Receita de controle especial: utilizada para a prescrição de medicamentos de tarja vermelha, como substâncias sujeitas a controle especial, retinoicas de uso tópico, imunossupressoras e antirretrovirais, anabolizantes, antidepressivos, etc.
- Receita azul ou receita B: é um impresso, padronizado na cor azul, utilizado para a prescrição de medicamentos que contenham substâncias psicotrópicas.
- Receita amarela ou receita A: é um impresso, padronizado na cor amarela, utilizado para a prescrição de entorpecentes e psicotrópicos.
- Receita renovável: é um modelo criado para a comodidade dos utentes, sendo particularmente útil para os doentes crônicos. Intenciona evitar que o paciente tenha que se deslocar com frequência aos centros de saúde e hospitais para a obtenção exclusiva de receitas.
Importante lembrar que a receita médica não pode conter rasuras, emendas ou irregularidades que possam prejudicar a verificação da sua autenticidade.
No ato de prescrição, é importante que o médico saiba se o medicamento é controlado por receita especial ou apenas receita simples, fator decisivo para a efetivação de compra pelo paciente. Remédios de controle pela receita azul (tipo B) apresentam o mesmo impac.
O desconhecimento desses detalhes pode afetar a aquisição da medicação e impactar na satisfação do paciente e em seu seguimento terapêutico.
Carimbo na prescrição é obrigatório?
Segundo a legislação da ANVISA e do CFM, o carimbo não é obrigatório, desde que o médico ou outro profissional da saúde prescritor, descreva manualmente e de forma legível seu nome completo e o número do CRM. Dessa forma, para que o documento tenha validade, basta a assinatura.
O uso do carimbo só é obrigatório para o recebimento do talonário para prescrição de medicamentos e substâncias entorpecentes e psicotrópicos.
Checagem de informações
Na evolução atual da medicina é impossível decorar todos os detalhes das doenças e seus processo terapêuticos, muito menos detalhes de dosagens. É claro que o hábito de prescrição facilita a memorização, porém devemos ter um suporte de checagem para evitar erros de dosagem ou posologia.
Seja em anotações práticas ou com o suporte do Whitebook, as doses podem ser confirmadas ou até mesmo ajustadas, no caso de grupos especiais de pacientes, como os nefropatas e hepatopatas.
Prescrição e o médico online
De acordo com a legislação atual, o médico não deve prescrever tratamento sem a realização do exame físico, exceto em casos de emergência ou impossibilidade, portanto, prescrição à distância (seja por telefone, mensagem, etc) sem o exame direto do paciente não deve ser realizada. A exceção à regra é a Telemedicina, uma prática reconhecida e regulamentada pelo CFM.
Principais erros de prescrição médica
Os erros mais comuns nas prescrições são:
- Letra ilegível sem a devida identificação do registro no Conselho Regional de Medicina;
- Rasuras;
- Ausência de data de validade;
- Prescrever medicamentos ou solicitar exames sem avaliação direta do paciente (exame físico);
- Omissão da dose na prescrição;
- Horário errado de administração.
Relação médico-paciente e adesão ao tratamento
A relação médico-paciente é possivelmente um dos aspectos mais importantes no tratamento de uma doença. O receituário deve apresentar todas as informações de forma clara e objetiva, escritas de maneira que o paciente consiga entender o procedimento a ser feito ao realizar a leitura em casa.
Além disso, o esquema terapêutico deve ser explicado ativamente para o doente, informando detalhes de doses, tempo de uso e possíveis efeitos adversos.
Importante destacar o tempo necessário para início de ação de algumas medicações, uma vez que não é infrequente o paciente deixar de usar uma medicação pois não observa efeitos imediatos (Ex.: Inibidor seletivo de recaptação de serotonina que possui tempo ideal de ação em 3 – 4 semanas).
Conclusão
A prescrição médica deve ser encarada como momento decisivo do seguimento terapêutico do paciente, podendo ajudar ou atrapalhar sua melhora.
O receituário e seus itens devem ser realizados de forma clara e atenta, facilitando a vida do doente, de forma que ele entenda e organize o uso das medicações, possibilitando o uso correto dos medicamentos e prevenindo erros.
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