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Carreira6 fevereiro 2025

Mercado de trabalho para médicos PCD

Entenda como é o ambiente de trabalho para receber médicos PCD
Por Redação Afya

A presença de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é uma realidade crescente, certamente, impulsionada por legislações como a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (PcD) e pelo próprio movimento natural da sociedade por inclusão. No entanto, há ainda muitas barreiras estruturais, culturais e profissionais para essas pessoas.

Para compreender melhor esse cenário dentro da área médica, entrevistamos o Dr. Rodrigo Nascimento de Sant’Anna, residente em neurologia e primeira pessoa com deficiência a ingressar na residência do Hospital Militar Naval, no Rio de Janeiro.

Superação e limitações

A prática médica vai além da habilidade técnica em procedimentos invasivos. Essa é uma certeza que o dia a dia do Dr. Rodrigo lhe traz a cada dia mais. Mesmo com perda de força nos membros do lado direito do corpo por conta da paralisia cerebral, ele destaca que suas limitações o restringem somente nas atividades que exigem maior destreza manual.

“Fazer uma boa condução clínica do paciente é o mais importante dentro do consultório. E essa parte eu desenvolvo bem. Ter uma limitação motora é o menor dos detalhes nesse contexto”, afirma.

Ele enfatiza ainda que o conhecimento técnico deve ser complementado por proatividade e uma genuína vontade de ajudar o paciente. Com dedicação e foco, Dr. Rodrigo tem se destacado especialmente no atendimento ambulatorial e em clínicas de família, desempenhando seu papel com excelência mesmo diante dos desafios.

Inclusão no mercado de trabalho

Dr. Rodrigo compartilha que já enfrentou situações em que alguns pacientes demonstraram dúvidas sobre sua capacidade profissional ao observá-lo chegando com muletas e dificuldades para caminhar.

Experiências como esta ressaltam, para ele, a necessidade de conscientização para reduzir estigmas no ambiente médico, promovendo uma cultura mais inclusiva e respeitosa, tanto entre pacientes quanto entre profissionais de saúde.

“Apesar de minha deficiência ser evidente, nunca percebi diferenciação ou desprivilegio em relação aos meus colegas. Acho que isso se deve ao fato de eu valorizar boas relações e sempre buscar locais onde me sinto seguro e acolhido”, explica.

Ele também recorda um exemplo positivo de adaptação e acessibilidade. “Quando comecei minha residência, fui uma novidade para eles. Logo nas primeiras semanas, organizaram uma reunião para entender como poderiam se adaptar às minhas necessidades. Todos ficaram à vontade para tirar dúvidas diretamente comigo, o que facilitou muito o processo”, conta.

Esses esforços mostram que soluções de acessibilidade são não apenas viáveis, mas essenciais para garantir um ambiente de trabalho inclusivo e eficiente.

Necessidade de adaptações

Sem tabus para abordar o tema, o residente aponta que seu desempenho pleno no exercício da medicina depende também de ajustes no ambiente de trabalho e de uma abordagem colaborativa.

Ele explica como funciona o apoio em situações específicas: “Quando dou plantão em CTI, tenho sempre uma equipe de médicos junto comigo, que me ajudam nos momentos que precisa fazer algum procedimento mais específico.”

Procedimentos invasivos mais complexos, como intubações e punções venosas profundas, muitas vezes são realizados por enfermeiros habilitados, sempre em uma dinâmica de trabalho em equipe.

“Algumas coisas eu conseguiria fazer, mas não com tanta facilidade e precisão. Então, peço que me ajudem nessa hora. Tudo em prol do bem maior, que é a vida de cada paciente”, completa.

Essa rede de suporte reforça como a inclusão depende não apenas do esforço individual, mas também de adaptações estruturais e culturais no ambiente de trabalho.

Críticas ao ambiente acadêmico e hospitalar

Embora a legislação tenha avançado, Dr. Rodrigo acredita que tanto as faculdades quanto os hospitais ainda não oferecem a infraestrutura adequada para acolhimento de estudantes e profissionais com deficiência.

“Na minha faculdade, não havia estrutura para receber deficientes: às vezes, quando o elevador parava de funcionar, eu e outras pessoas com dificuldades de locomoção tínhamos que subir seis ou sete andares de escada”, aponta.

Ele também destaca que a convivência com colegas com deficiência exige uma mudança de postura coletiva. “As pessoas terão que se adaptar a trabalhar com colegas com deficiências, que podem ser mecânicas, visuais, auditivas, inúmeras. Essa acessibilidade precisa ser real”, diz.

Conselhos a outros médicos

Aos colegas que enfrentam desafios semelhantes, o Dr. Rodrigo aconselha dedicação, humildade e busca constante por melhoria.

“Meu conselho é, primeiro de tudo, seja proativo. Estude muito e se dedique, porque querendo ou não, nós já começamos um passo atrás de pessoas – entre aspas – normais. Precisamos nos destacar pela proatividade, pelo empenho, pela capacidade intelectual, de decisão e de se posicionar”, diz.

E completa: “É preciso ser humilde também. Pedir ajuda é louvável. Existem pessoas boas nesse mundo, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, que vão estar ali para colaborar. Saiba dos seus limites e busque ser melhor a cada dia, estudando e trabalhando, sendo um diferencial onde quer que você esteja”.

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