Pouco explorada fora dos muros das Forças Armadas, a medicina militar é uma vertente da carreira médica que alia conhecimento clínico-cirúrgico e habilidades técnicas e uma rotina pautada por hierarquia, disciplina e missão. Seja em hospitais militares, em zonas de conflito, em operações humanitárias ou em unidades de resgate, o médico militar é treinado para atuar com rapidez, eficiência e capacidade de liderança, mesmo sob pressão extrema.
Como ingressar na carreira militar sendo médico
Existem diferentes caminhos para quem deseja atuar como médico nas Forças Armadas brasileiras (Exército, Marinha ou Aeronáutica), todos exigem a formação prévia em Medicina e registro no CRM.
A principal forma de entrada é por meio de concursos públicos. O Exército, por exemplo, realiza seleção por meio da EsSEx (Escola de Saúde do Exército), voltada para recém-formados ou profissionais com residência. Já a Marinha e a Aeronáutica contam com processos seletivos próprios, incluindo os concursos de oficiais temporários, conhecidos como RM2 e RM3, com contratos renováveis por até oito anos e voltados a médicos com ou sem especialização concluída.
No caso da Marinha, é importante esclarecer que a Escola Naval não forma médicos, apenas oficiais de carreira e, em alguns casos, praças com habilitação em saúde, como técnicos de enfermagem. Esses profissionais ingressam como marinheiros e evoluem a cabo ou sargento, com funções de suporte, mas não há formação médica dentro dessa estrutura.
Há também a possibilidade de ingresso direto na carreira militar definitiva, por concurso, como oficial médico do Corpo de Saúde, com ou sem especialização concluída. Médicos já formados podem, inclusive, cursar sua especialização dentro da própria instituição militar.
Benefícios e estrutura
Diferente da percepção comum, o atendimento médico nas Forças Armadas não é gratuito. Ele funciona sob regime de coparticipação, com desconto proporcional em folha de pagamento sempre que exames ou procedimentos são realizados. Além disso, o militar contribui mensalmente com uma taxa fixa — no caso da Marinha, para o FUSMA (Fundo de Saúde da Marinha), que funciona como um plano de saúde próprio. O custo é inferior ao dos planos privados, mas o serviço é mantido com contribuição direta dos usuários.
Sobre os benefícios da carreira, é importante ser realista: os salários não são competitivos em relação ao mercado civil. O que sustenta a permanência de muitos médicos nas Forças Armadas são outros fatores:
- Infraestrutura adequada, com insumos e equipamentos;
- Estabilidade profissional e plano de carreira claro;
- Proteção social: em caso de acidente ou falecimento, a família do militar não fica desamparada;
- Aposentadoria (chamada de reforma) com proventos integrais — diferencial relevante frente ao regime geral;
- Participação em cursos de aperfeiçoamento, inclusive internacionais, bancados pela instituição;
- Possibilidade de atuar em missões da ONU ou ações emergenciais.
O ambiente hierárquico também permite que falhas sejam corrigidas com mais objetividade, o que contribui para um sistema mais organizado e previsível.
Aprendizado e crescimento
A rotina é altamente formativa. Médicos militares atuam em ambulatórios, hospitais e unidades móveis, mas também são treinados para operar em campo, em navios, bases aéreas ou situações extremas, como desastres ou combate. A atuação em trauma, urgência, medicina de resgate e aeroespacial ou hiperbárica é comum.
Além disso, há incentivo constante à formação: cursos de pós-graduação e especialização são oferecidos pelas próprias instituições, no Brasil e no exterior.
Perfil do profissional
A carreira médica no ambiente militar exige mais do que conhecimento técnico. O profissional precisa ter boa capacidade de adaptação a rotinas regimentadas, saber trabalhar em equipe e estar preparado para decisões rápidas sob pressão. Habilidades como organização, clareza na comunicação e disposição para cumprir normas hierárquicas fazem diferença no dia a dia. Ter familiaridade com o universo militar ou disposição para se adaptar a ele é um diferencial importante para quem busca construir uma trajetória sólida nessa área.
Vale a pena?
A medicina militar pode ser altamente gratificante para quem busca estabilidade, desafios constantes, oportunidade de servir ao país e um ambiente estruturado. No entanto, não é um caminho para quem deseja flexibilidade, liberdade geográfica ou atuação livre no mercado privado.
Por isso, é essencial conhecer a rotina, conversar com quem já atua na área e refletir sobre seus objetivos profissionais antes de optar por unir o jaleco sob a farda.
Autoria

Redação Afya
Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.
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