A inteligência emocional é um requisito que influencia positivamente em várias áreas da prática cirúrgica. Segundo Sharp G et al., a inteligência emocional está associada a uma redução do estresse e do burnout entre os cirurgiões e deve ser um componente essencial na formação do cirurgião contemporâneo.
Além disso, permite que os cirurgiões possam compreender e gerenciar suas próprias emoções e as dos outros, facilitando uma comunicação eficaz e a resolução construtiva de conflitos que possam vir a tona.
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Cirurgias longas
Em se tratando de cirurgias longas, que, normalmente, são de grande complexidade e riscos, a inteligência emocional permite ao cirurgião um preparo sustentado para enfrentar os desafios envolvidos em cada procedimento. Sabemos que grandes cirurgias apresentam vários riscos como sangramentos de difícil controle, mudanças de planejamento, discrepâncias com exames de imagem prévios, fatores que aumentam a dificuldade técnica como variações anatômicas não esperadas ou aderências.
Se consideramos os hospitais-escolas, que promovem a formação de médicos especialistas através de programas de residência médica, a inteligência emocional melhora a capacidade dos cirurgiões de liderar e influenciar equipes, promovendo um ambiente de trabalho positivo e colaborativo.
O papel do cirurgião não inicia nem termina no ato cirúrgico. Desde o pré-operatório até o pós, o cirurgião está atuando. Podemos citar benefícios da inteligência emocional na avaliação pré-operatória e na tomada de decisão compartilhada, levando os cirurgiões a entenderem as preocupações, dúvidas e angústias dos pacientes e agindo para auxiliá-los na compreensão do procedimento que serão submetidos e a transmitir segurança e confiança.
Destacamos a importância desses fatores em situações emocionalmente carregadas, como consultas de cirurgias oncológicas, onde a capacidade do cirurgião de acalmar e tranquilizar o paciente, melhorando significativamente a satisfação do paciente com o processo de decisão.
Cirurgiões emocionalmente inteligentes são mais capazes de motivar e apoiar os pacientes, melhorando sua adesão aos programas de pré-habilitação, que são cruciais na aceleração da recuperação ao trauma e melhora dos resultados pós-operatórios.
A inteligência emocional pode ser adquirida?
Assim como as habilidades cirúrgicas, a inteligência emocional pode ser ensinada e aprimorada, tornando-se uma meta promissora para intervenções que visam melhorar tanto o desempenho dos cirurgiões quanto os resultados dos pacientes.
Entretanto, na prática, esses valores quase não são abordados. Em meio ao estudo das diversas doenças cirúrgicas, mecanismos fisiológicos, tipos de tratamento, técnicas cirúrgicas e uma gama de outros aspectos a serem aprendidos na formação do cirurgião, quase nunca há espaço para o desenvolvimento da inteligência emocional. Fica, na maior parte das vezes, um tópico a ser aprimorado em algum momento, implícito, mas sem o valor devido.
A incorporação da inteligência emocional na educação e treinamento cirúrgico é recomendada para maximizar o desempenho do cirurgião onde todos, a começar pelo próprio médico, se beneficiam, promovendo uma prática cirúrgica mais eficaz e humanizada.
Requisitos para cirurgias longas
Cirurgias oncológicas como duodenopancreatectomia (Cirurgia de Whiplle), esofofagectomia, cirurgias cardiovasculares, transplantes, neurocirurgias podem levar horas de duração e é importante se preparar adequadamente para enfrentar essas longas jornadas.
O preparo envolve desde condições físicas adequadas, ao conhecimento aprimorado da doença a ser tratada, técnicas cirúrgicas e preparo emocional.
A equipe cirúrgica passará horas em pé, com privações alimentares e até mesmo de necessidades fisiológicas. Os residentes, especialmente os do primeiro ano (R1), habitualmente são os primeiros a se paramentarem e os últimos a saírem de campo. Essa jornada exige um preparo físico adequado.
Além disso, o conhecimento teórico é fundamental para realização de qualquer procedimento. É exigido dos residentes e dos cirurgiões um conhecimento amplo da doença que está sendo tratada, bem como da técnica e dos tempos cirúrgicos. Dos residentes sempre será exigido conhecimento técnico e demonstração de segurança na execução das manobras cirúrgicas.
Em cada ano de residência será necessário uma habilidade diferente, desde a montagem da mesa cirúrgica, instrumentação e procedimentos básicos no R1 até a realização completa do ato cirúrgico, em geral para os residentes do último ano. O cirurgião-chefe do procedimento deve estar apto a ensinar, prevenir e intervir em qualquer intercorrência que possa acontecer no ato operatório.
Aliado aos aspectos físicos e técnicos, o lado psicológico deve estar igualmente preparado. E é nesse campo que a inteligência emocional se apresenta como protagonista e determinante na atuação do cirurgião, direcionando a conduta do cirurgião da melhor maneira possível, permitindo a maximização dos resultados cirúrgicos.
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