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Carreira26 setembro 2025

Geração Z no consultório: desafios e oportunidades

Como a robusta bagagem de informações, a grande expectativa de participação e o desejo por soluções rápidas repercutem no atendimento médico
Por Redação Afya

“Nativos digitais” talvez seja a expressão que melhor defina a Geração Z — grupo formado por pessoas nascidas entre 1995 e 2009. Conectados à internet e às redes sociais desde a infância, esses jovens de 16 a 30 anos costumam chegar ao mundo com uma bagagem robusta de informações, grande expectativa de participação ativa nas decisões que os envolvem e um desejo claro por soluções rápidas.

E, como era de se esperar, esse comportamento também se reflete nas consultas médicas. Para entender melhor esse cenário, ouvimos dois médicos editores do Portal Afya, com ampla experiência clínica, que têm acompanhado de perto essa transformação no perfil dos pacientes.

Informados e conectados, mas nem sempre bem orientados

“O que mais percebo de diferente nesses pacientes é o acesso à informação”, afirma Dr. Johnatan Felipe. “Eles têm facilidade em buscar tanto conteúdos básicos de saúde quanto informações mais especializadas. Em geral, chegam mais conscientes sobre exames, autocuidado e até com alguma ideia prévia sobre o que pode estar acontecendo”, completa o residente de neurologia.

Ao que Dr. Marcelo Gobbo Jr.  concorda: “É uma geração acostumada à escolha e à personalização, e esse comportamento se reflete na forma como lidam com a própria saúde e a de seus familiares também”. Para ele, esse novo perfil influencia diretamente a dinâmica da consulta.

Não é raro, segundo a visão de ambos os profissionais, que pacientes da Geração Z cheguem mais informados, após pesquisarem sintomas, doenças e tratamentos por conta própria — e, em alguns casos, até utilizam ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, para levantar hipóteses antes mesmo de procurar um médico.

Mas se, para ambos, a tecnologia nesse contexto pode tanto facilitar quanto complicar o atendimento. Por outro lado, esse grupo demonstra ser muito mais aberto ao diálogo.

“Eles chegam com mais dúvidas do que certezas. Isso é uma vantagem, pois abre espaço para indicar fontes confiáveis e construir caminhos mais seguros e personalizados de cuidado”, diz Gobbo, especialista em Medicina de Família e Comunidade.

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Intolerância ao desconforto e urgência por soluções

Um dos comportamentos mais notados entre pacientes da Geração Z é a baixa tolerância ao desconforto e à espera. Diante de sintomas leves ou situações pouco urgentes, muitos já procuram atendimento exigindo soluções imediatas. E essa pressa pode levar à adoção de condutas impulsivas e, por vezes, desnecessárias, que comprometem a segurança e a racionalidade do cuidado.

“Muitos chegam com uma proposta de conduta clínica baseada em pesquisas on-line, e nem sempre aquela seria a condução que melhor se encaixava no quadro real que apresentam. Nesses casos, é preciso explicar com cuidado por que determinada abordagem não é adequada e mostrar as nuances clínicas envolvidas”, levanta Dr. Johnatan, lembrando como permanece importante a habilidade de se comunicar com clareza a fim de manter uma relação de confiança entre médico e paciente.

Outro ponto recorrente no atendimento a esses jovens é a forte expectativa por autonomia. Eles desejam participar ativamente das decisões sobre seu próprio tratamento e esperam que o profissional assuma um papel de parceria, em vez de autoridade inquestionável. Para os médicos, isso demanda uma postura de escuta ativa, paciência e disposição redobrada para o diálogo constante.

Abertura ao cuidado e ao estilo de vida saudável

Apesar dos desafios, a relação com a Geração Z também traz oportunidades valiosas. Muitos desses pacientes demonstram maior receptividade a mudanças no estilo de vida e valorizam ações preventivas.

“De modo geral, vejo mais abertura para aderir a práticas como atividade física, alimentação saudável e cuidados com o sono. Mesmo em temas sensíveis, como uso excessivo de telas, álcool ou tabaco, percebo mais disposição para ouvir e refletir. Eles entendem melhor o impacto desses hábitos na saúde”, diz Dr. Johnatan.

Além disso, fazem mais uso de recursos digitais de acompanhamento, como aplicativos de saúde e plataformas de monitoramento, o que permite uma abordagem mais personalizada e próxima do dia a dia desses pacientes. “São pacientes que, bem orientados, conseguem manejar muitas situações de forma segura e autônoma. Também tendem a valorizar a prevenção, adotando comportamentos protetores à saúde. Em geral, saem menos e buscam relações mais estáveis e uma rotina mais saudável”, complementa Dr. Marcello.

A prática médica também precisa evoluir

Diante desse novo cenário, os profissionais de saúde são convidados a revisar suas abordagens e atualizar a forma de conduzir as consultas. É preciso tornar o momento do atendimento mais dialógico, com espaço para perguntas, troca de ideias e escuta genuína. Estratégias como checar o que o paciente já sabe sobre o tema ou como compreendeu o diagnóstico ajudam a identificar mal-entendidos.

A relação médico-paciente, antes mais hierárquica, passa a ser mais horizontal. Se no passado era comum que os profissionais conduzissem o atendimento de forma diretiva, hoje os jovens desejam compreender as orientações, participar das decisões e integrar os cuidados à sua rotina de forma consciente. Isso amplia o vínculo terapêutico para além do alívio de sintomas, incluindo aspectos como bem-estar, lazer e qualidade de vida.

O desafio do futuro é a escuta

Se há uma lição a ser tirada da convivência com a Geração Z nos consultórios, é a necessidade de escuta e construção conjunta do cuidado. A informação está em todo lugar, mas a interpretação correta e o acolhimento ainda são responsabilidades insubstituíveis do médico.

“O vínculo terapêutico passa a incluir bem-estar, lazer e qualidade de vida — não só a resolução do problema”, finaliza Dr. Marcelo, para quem o grande desafio contemporâneo é encontrar o equilíbrio entre autoridade técnica e parceria empática, uma exigência crescente dessa geração que não quer apenas ser atendida, mas compreendida.

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