Dados da Demografia Médica no Brasil 2025 apontam que, até o final deste ano, o número de médicos atuantes no Brasil deve chegar a 635.706, um número expressivo, impulsionado pela entrada cada vez maior de médicos recém-formados.
Ainda que a saída de médicos do mercado de trabalho tenha se mantido estável nos últimos anos, a tendência observada é uma diminuição da idade média dos médicos ativos. Em 2024 era de 44,8 anos e o estudo aponta que em 2035 essa média deva chegar em 40,8.
Esse crescimento gradual da parte de baixo da pirâmide etária médica tende a diminuir cada vez mais os espaços de médicos com mais experiência e mudar as características de mercado da profissão. “O perfil etário dos profissionais, cada vez mais jovem, é acompanhado por mudanças geracionais, na escolha de especialidades, nos vínculos, horas trabalhadas, modos de remuneração, uso de tecnologias, conciliação entre vida pessoal e profissional e momento de aposentadoria, fatores que poderão influenciar a disponibilidade de médicos.” afirma o relatório.

O médico mais velho
Em um campo de conhecimento que exige dos seus praticantes uma atualização constante e que possui até mesmo por parte dos pacientes uma cobrança sobre estar em sintonia com as últimas novidades (até aquelas não comprovadas ou de estudos em fase iniciais), médicos com uma idade mais avançada podem se ver vítimas de algo que costuma afligir mais os pacientes, o etarismo.
A noção de que a idade de um indivíduo pode ser usada para categorizá-lo e dividir pessoas em grupos, inferindo competência e capacidade com base nos anos de vida impondo danos, desvantagens ou injustiças as relações intergeracionais. No caso do etarismo aplicado ao campo da saúde, a ocorrência mais comum é a dúvida sobre a capacidade de um médico mais velho de se manter atualizado.
Um estudo recentemente publicado pela American Medical Association (AMA) detalhou como médicos mais velhos experienciam o etarismo no mercado de trabalho da saúde. Na pesquisa um dos médicos, atualmente aposentado, declarou que “Percebi que era mais velho que os outros membros da minha equipe e mais velho ainda do que aqueles em cargos de chefia, percebo agora que minhas opiniões e contribuições eram desvalorizadas por causa da minha idade”.
O estudo qualitativo da AMA, resultado na análise de 6.000 respostas de médicos com mais de 65 anos de idade, apontou que quase dois terços dos participantes da pesquisa afirmaram ter passado por alguma situação de preconceito em relação a suas idades, 6,8% disseram ter percebido que as oportunidades de carreira ou de contratação diminuíram devido a idade, 4,2% se sentiram pressionados a se aposentarem tanto por colegas, chefes ou pacientes e 4,5% relataram que suas responsabilidades foram diminuídas devido a idade
Em um dos relatos presente no relatório, uma médica ainda na ativa diz acreditar que os residentes com os quais trabalha a veem como alguém incapaz de contribuir tanto educacionalmente quanto profissionalmente “não respeitam minhas decisões”.
“O que chama atenção na antítese do preconceito etário é a incongruência entre palavras e ações. Quase todos a quem você perguntar dirão que os idosos têm muito a oferecer, dada sua longevidade e riqueza de conhecimento, experiência e sabedoria — mas, então, os mesmos indivíduos desconsiderarão suas próprias palavras quando confrontados com a escolha de apoiar esses mesmos idosos em oportunidades onde “uma pessoa mais jovem é requisitada”.” Essa é a afirmação de dois dos médicos responsáveis pelo levantamento, Dr. Samuel Lin, e Dr. Ved Gossain.
Quanto maior a idade, mais especializado
No Brasil, profissionais médicos com 55 anos representavam 26,8% do total em 2024, abaixo da média dos países da OCDE, mas acima de seus pares regionais.
Como o crescimento do número de médicos no Brasil se dá principalmente na graduação e o número de especialistas ainda não acompanha esse ritmo de crescimento, é possível observar que a maior parte dos especialistas estão concentrados entre as faixas com maior idade.
Adicionalmente é curioso perceber, como apontado pelo Demografia Médica no Brasil 2025, uma diferença de concentração de tipos de especialidades entre diferentes faixas etárias. Por exemplo, Medicina de Família e Comunidade apresentam o perfil etário mais jovem, enquanto outras possuem uma razão entre os dois grupos muito mais puxada para os médicos mais velhos, por exemplo, Patologia Clínica e Cirurgia Cardiovascular.
Não há limite para o exercício da medicina no Brasil e características físicas ou mentais que impeçam o exercício pleno da medicina podem ocorrer independente da idade do médico. Além disso, é notório que a área de saúde está repleta de médicos que mesmo em idade avançada continuam se dedicando ao exercício da profissão, mesmo que contribuindo de forma não tão intensiva como no resto de sua carreira.
Voltando a pesquisa da AMA, “No campo da saúde, o etarismo pode afastar membros vitais da força de trabalho”, afirma Lindsey Carlasare, pesquisadora sênior do AMA e também responsável pelo estudo que conclui afirmando que “manter médicos mais experientes na medicina acadêmica e no atendimento clínico pode ajudar a garantir que novas gerações de médicos aprendam com indivíduos experientes e com formações diversas, e que os pacientes recebam atendimento de alta qualidade de médicos experientes e dedicados.”
Autoria

Redação Afya
Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.
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