Um estudo muito interessante foi conduzido por profissionais do departamento de Oncologia e Hematologia do hospital King Saud Medical City (KSMC) em Riyadh, Arábia Saudita.
Nesse país, a duração da residência de Medicina Interna/Clínica Médica é de quatro anos, sendo dividido entre níveis “junior” (R1 e R2) e “senior” (R3 e R4). Durante esse período, os residentes devem estagiar por pelo menos oito semanas em um serviço de hematologia clínica.
Dessa forma, os pesquisadores aplicaram aos residentes um questionário antes e após terem sido submetidos ao estágio dessa especialidade, buscando avaliar se a exposição à experiência profissional mudou a forma de enxergar a hematologia como uma possível especialidade futura.
Trabalhos na área de educação médica mostram dados conflitantes, com a exposição ao serviço apresentando um impacto por vezes positivo e por outras negativos na escolha do profissional.
Metodologia
Os residentes foram submetidos ao questionário com as seguintes perguntas, devendo eles graduá-las em pontuação de 1 a 10 (muito negativo a muito positivo):
- Você considera a hematologia como uma possível carreira?; (
- A carga de trabalho é tolerável?;
- Você está confortável em lidar com pacientes oncológicos?;
- O estilo de vida do hematologista é satisfatório?
No questionário pós-estágio outras perguntas foram adicionadas, como:
- Você gradua o conhecimento adquirido em hematologia geral, oncológica, hemostasia e urgências hematológicas de maneira satisfatória?;
- O treinamento oferecido pelos preceptores foi satisfatório?;
- O conhecimento adquirido foi útil para a prova de avaliação dos conhecimentos de clínica médica?
Os métodos estatísticos aplicados buscaram correlacionar a pontuação dos questionários pré e pós-estágio com a possibilidade de os residentes escolherem a hematologia como especialidade.
Resultados
Do grupo, 96,8% dos residentes responderam aos questionários aplicados. A maioria (80%) encontravam-se na faixa etária de 25 – 29 anos de idade e 73% deles eram do sexo masculino. Aproximadamente ⅔ foram considerados residentes “sênior” e 40% já haviam passado por algum tipo de estágio em hematologia durante a residência médica (o que pode ser uma fonte de viés, selecionando residentes mais interessados pela especialidade). E 75% dos residentes eram originários do próprio KSMC.
A duração média do estágio entre os participantes foi de 5,4 semanas, haja visto a possibilidade de as 08 semanas serem divididas em períodos menores e espaçadas durante o programa de residência médica (61,7% dos residentes cumpriram um período de 04 semanas).
Houve um incremento considerável na percepção de todos os itens dos questionários após a exposição ao programa de hematologia clínica do KSMC, inclusive na possibilidade de escolher a especialidade como futuro profissional.
Não houve diferença estatisticamente significativa atribuída à duração do estágio. Houve um aumento significativo na escolha da especialidade hematologia clínica após a realização do estágio (p = 0,0018); as alterações na percepção do estilo de vida do hematologista como satisfatória, na capacidade de lidar com pacientes oncológicos e na carga de trabalho do especialista como sendo manejável influenciaram de maneira direta a escolha da especialidade futura (p<0,0001, p<0,0001 e p = 0,0014, respectivamente).
Na análise de subgrupos, os únicos que não apresentaram mudanças significativas nas pontuações foram entre aqueles residentes com mais de 29 anos de idade, residentes ainda nos anos iniciais da residência médica (“junior”) e aqueles que já haviam sido expostos a algum estágio de hematologia em outros momentos.
Conclusão
É interessante notar neste estudo de coorte prospectiva como a exposição à carreira hematológica e o ganho de conhecimento e, por conseguinte, segurança em lidar com pacientes hematológicos influenciou de maneira fortemente positiva a escolha da especialidade como uma possibilidade futura para esses profissionais.
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