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Carreira2 agosto 2025

Dia do nefrologista: hard e soft skills

Ser um bom nefrologista vai muito além do que aprender nos livros. Envolve prática, interação humana e uma boa dose de paciência
Por Ester Ribeiro

Mesmo que você nunca tenha ouvido falar desses termos (hard e soft skills), com certeza já os usa na prática clínica. Afinal, médicos – e especialmente clínicos (ok, brincadeira, todos os médicos) – precisam tanto de habilidades técnicas quanto comportamentais, apesar de às vezes parecer que os cirurgiões vivem só de bisturis e adrenalina.

Mas vamos deixar a nossa idade de lado e aprender os termos tão falados pelos, digamos, mais jovens, e como são aplicados à realidade da nefrologia.

 

Hard skills

As hard skills são habilidades técnicas, aprendidas e mensuráveis. São como as ferramentas que adquirimos com estudo e prática. No dia a dia, isso inclui saber operar uma máquina, falar inglês, programar ou dirigir um carro. No nosso meio, as hard skills incluem habilidades como:

  1. Domínio da fisiologia renal: Um nefrologista precisa entender a fundo o funcionamento dos rins, incluindo sua função na filtração do sangue, regulação de eletrólitos e equilíbrio ácido-base.
  2. Diagnóstico e tratamento de doenças renais: Doenças renais são complexas e multifatoriais. Saber reconhecer sinais precoces de insuficiência renal aguda, diagnosticar glomerulopatias e manejar infecções urinárias com precisão é essencial para oferecer o melhor cuidado ao paciente.
  3. Diálise e transplante renal: Conhecer os protocolos de diálise peritoneal e hemodiálise não é apenas uma questão técnica, mas de sobrevivência para muitos pacientes. Além disso, entender o acompanhamento pós-transplante é fundamental para garantir o sucesso da nova função renal.
  4. Interpretação de exames laboratoriais e de imagem: O nefrologista precisa saber analisar exames como creatinina, taxa de filtração glomerular (TFG) e exames de urina com precisão, além de interpretar exames de imagem dentro de um contexto clínico específico para um diagnóstico mais acurado.
  5. Farmacologia aplicada à clínica médica: Pacientes nefrológicos têm uma farmacocinética peculiar. Você sabe, 80% dos médicos dão um passo para trás quando descobrem que o paciente é doente renal crônico. O nefrologista precisa ajustar doses de medicamentos, evitar drogas nefrotóxicas e manejar a polifarmácia, comum nessa população.
  6. Procedimentos médicos: Inserção de cateter para diálise, biópsia renal e outros procedimentos são rotinas na nefrologia. Saber realizar essas técnicas com destreza e segurança faz toda a diferença para o prognóstico dos pacientes.

Leia mais: Medicina legal: hard e soft skills necessárias

 Soft Skills: o jeito de ser (e sobreviver)

Agora vem a parte que realmente diferencia um nefrologista: as soft skills. Essas são habilidades comportamentais, ligadas à forma como interagimos com pessoas e situações. E, sejamos sinceros, são tão essenciais quanto saber interpretar um anatomopatológico da biópsia renal da doença rara. Aqui estão algumas indispensáveis:

  1. Empatia e humanização: Pacientes com doenças renais crônicas frequentemente vivem um turbilhão emocional. Desde o medo da progressão da doença até a ansiedade com a diálise, é essencial que o nefrologista tenha um olhar humano, saiba ouvir e acolher não só o paciente, mas os familiares frequentemente perdidos e sedentos em ajudar seu ente querido.
  2. Comunicação clara: Explicar diagnósticos e tratamentos de forma compreensível é um desafio diário. Ao contrário do famoso coração, os rins – tão importantes quanto eles, para ficar bem claro – podem nem ser conhecidos pelo paciente. Dizer para um paciente com doença renal crônica que ele deve restringir potássio sem que ele entenda o que isso significa não resolve nada; ele irá suspender a banana e achar que não há mais nada para fazer. A comunicação eficaz melhora a adesão ao tratamento e reduz internações evitáveis.
  3. Trabalho em equipe: A nefrologia não é uma especialidade isolada. Trabalhar em conjunto com cardiologistas, endocrinologistas, urologistas (sim, até eles!), nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos e enfermeiros é crucial para um cuidado integral ao paciente.
  4. Gestão do tempo: O dia de um nefrologista é corrido, com visitas hospitalares, consultas ambulatoriais, supervisão de diálise e, claro, os imprevistos. Saber priorizar tarefas e administrar bem o tempo é essencial para não se perder no meio do caos. Afinal, entre consultas, plantões e tentar convencer um paciente com creatinina de 4 que ele realmente precisa maneirar no churrasco e na cerveja, sobra pouco tempo para respirar.
  5. Tomada de decisão rápida: Emergências como crises hipertensivas, hipercalemia severa e acidose metabólica exigem respostas ágeis e assertivas. O nefrologista precisa avaliar a situação, escolher o melhor tratamento e agir sem hesitação. E claro, manter a calma ao ver um potássio de 7 mEq/L com um ganho interdialítico de 5kg, no plantão porque o paciente resolveu tomar 2 litros de suco de laranja concentrado.
  6. Resiliência e controle emocional: Lidar com pacientes crônicos, muitos dos quais enfrentarão uma piora progressiva, não é fácil. Manter o equilíbrio emocional e evitar o burnout é um desafio constante. Desenvolver resiliência e estratégias de autocuidado é tão importante quanto qualquer outra habilidade clínica.

Se o seu objetivo for atuar na pesquisa ou ensino, habilidades como pensamento analítico e didática também são fundamentais. Afinal, um bom nefrologista não só trata rins, mas também compartilha conhecimento e forma novos especialistas.

Conclusão

A nefrologia exige um equilíbrio delicado entre hard skills e soft skills. De nada adianta dominar a interpretação de exames se você não consegue explicar ao paciente a importância de aderir ao tratamento. E, ao mesmo tempo, toda empatia do mundo não substitui o conhecimento técnico necessário para salvar vidas.

Ser um bom nefrologista vai muito além do que aprender nos livros. Envolve prática, interação humana e uma boa dose de paciência (inclusive para convencer o paciente a diminuir o sódio na dieta!). E, claro, exige uma habilidade especial: paciência infinita para explicar, pela centésima vez, por que anti-inflamatório não é vitamina e pode acabar com os rins. Ortopedistas, estamos de olho!

Então, da próxima vez que estiver em um plantão ou consultório, pergunte-se: como posso aprimorar não só meu conhecimento técnico, mas também minha forma de me relacionar com pacientes e colegas?

Porque, no fim do dia, a nefrologia não é só sobre rins – é sobre pessoas. E ser um bom médico é saber cuidar delas da melhor forma possível.

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