Comunicar a necessidade de uma cirurgia ao paciente envolve vários fatores e níveis de preocupação. O que se deve ter em mente em todo esse processo é a transmissão clara sobre as indicações, terapêuticas alternativas, consequências de não fazer o procedimento, benefícios e complicações associadas.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) é o documento em que se registra todas as informações em relação à doença, ao procedimento e identifica o cirurgião responsável. Tal documento deve ser compreendido adequadamente pelo paciente, assinando-o antes da cirurgia.
A respeito de todo aspecto ético e legal envolvido, nem sempre a conversa sobre a cirurgia é uma tarefa simples, principalmente em se tratando de doenças graves e grandes cirurgias, como as aplicadas ao tratamento do câncer.

Construindo uma comunicação clara e objetiva
Um dos primeiro passos na comunicação com o paciente no contexto cirúrgico é a explicação, em linguagem clara e compreensível, sobre as indicações e objetivos da cirurgia proposta. Nesse momento, é importante ressaltar que linguagens técnicas ou um “resumo” de uma aula acadêmica não auxiliam na compreensão do procedimento. Deve-se evitar termos técnicos excessivos. Entretanto, um discurso simplista, que faça com que a cirurgia pareça ser uma solução fácil e garantida também não é adequado.
De forma geral, uma cirurgia pode ajudar o paciente a prolongar o tempo de vida, como em cirurgias oncológicas; contribuir para o bem-estar, como no caso de colelitíase sem gravidade, mas com dor recorrente; prevenir uma incapacidade; ou realizar um diagnóstico, como um acesso para realização de biópsia. A demonstração para o paciente desses objetivos, aplicados caso a caso, facilita a sua compreensão sobre o procedimento proposto. Além disso, é necessário também abordar as possíveis limitações das cirurgias.
O passo a seguir deve abordar as desvantagens associadas às cirurgias, como esclarecer que existem fatores que são comuns à maioria dos pacientes, como dor pós-operatória, repouso e limitações associadas ao procedimento. Esse também é o momento de citar e explicar possíveis riscos relacionados à cirurgia, como infecções e eventos tromboembólicos, sangramentos, infecções, deiscências, dentre outros. O cirurgião deve abordar esses fatores “não desejáveis” de forma clara, sem que isso seja um fator que leve o paciente a desistir do procedimento.
Após exposição dos fatores envolvidos na cirurgia, é importante avaliar o nível de compreensão do paciente sobre o procedimento, suas dúvidas e angústias. Além disso, é válido esclarecer pontos que possam haver dúvidas e também ouvir a sua opinião bem como de seus familiares ou acompanhantes, quando presentes, sobre a cirurgia.
Uma vez que o paciente compreende a cirurgia, riscos e benefícios associados, e concorda com o procedimento, ele entende que, mesmo que ocorram resultados indesejados, a cirurgia vale a pena.
Conclusão
A comunicação de cirurgia envolve, sobretudo, empatia. O cirurgião deve transmitir segurança na realização da cirurgia, passar as informações necessárias para compreensão adequada dos riscos e benefícios relacionados ao procedimento.
Ao mesmo tempo, é fundamental que compreenda as dúvidas, incertezas e angústias do paciente. A comunicação adequada envolve vários fatores éticos e legais, além de ser um fator essencial na boa relação médico-paciente e um passo inicial no par um desfecho positivo.
Autoria

Jader Ricco
Graduado pela UFMG ⦁ Membro do corpo clínico do Oncoclínicas Cancer Center ⦁ Cirurgião Oncológico no Instituto de Oncologia da Santa Casa ⦁ Cirurgião Oncológico e preceptor de cirurgia Geral na Santa Casa de Belo Horizonte e Hospital Vila da Serra.
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