Na rotina acelerada dos atendimentos, é comum adotarmos termos como “hiponatremia”, “hipertensão” ou siglas como TEP, IAM, AVC sem parar para pensar em como essa linguagem técnica e com jargões pode afetar a compreensão do paciente sobre o que está sendo informado. Sem perceber, criamos pequenas barreiras que dificultam a comunicação.
Estudos mostram, por exemplo, que apenas 9% dos pacientes entendem o significado do termo “febril”. Parte dessa dificuldade de compreensão do paciente não está apenas relacionada a processos falhos de alfabetização em saúde, que envolve a capacidade de um indivíduo obter, compreender e avaliar criticamente informações de saúde para tomar decisões e cuidar da própria saúde. Mas também a falhas mais profundas (e muito frequentes) no próprio nível de comunicação de um médico e da compreensão de um paciente.
Apesar de a linguagem médica favorecer a clareza da comunicação entre profissionais, precisamos lembrar que o paciente nem sempre têm acesso aos recursos linguísticos que somos amplamente treinados para usar durante a formação.
Quando o paciente não entende uma recomendação, seja sobre dieta, medicamentos ou exames, há maior chance de baixa adesão ao tratamento, ele fica mais suscetível a decisões equivocadas e até mesmo erros. E isso deve ser evitado!
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Comunicação explicativa
Segundo o artigo Improving Patient Comprehension Through Explanatory Communication (JAMA) existem três obstáculos comuns à compreensão das informações pelo paciente: palavras-chave mal compreendidas, tarefas, processos ou estruturas anatômicas difíceis de serem visualizados e conceitos médicos confusos. Para superar essas barreiras, o artigo propõe usar três tipos de estratégias que ajudam os pacientes a compreenderem recomendações potencialmente confusas:
Explicações elucidativas: São definições claras, quase como num dicionário, e reforçadas com exemplos familiares ao paciente. Por exemplo, quando usamos a palavra “cultura” para descrever um exame laboratorial. Essa palavra pode ser usada em vários contextos e o paciente pode não compreender o um termo médico. Neste caso, seria melhor dizer que estamos “colhendo uma amostra para ver se há germes/bactérias crescendo”.
Explicações quase científicas: São explicações que usam metáforas e recursos visuais para tornar palpáveis conceitos difíceis ou processos não visualizados pelo paciente. Por exemplo, comparar uma artéria a uma mangueira de jardim, que, quando estreita, a água precisa de maior pressão para passar. Às vezes, um desenho rápido no próprio prontuário ou podem reforçar esse tipo de analogia.
Explicações transformadoras: Quando o paciente se depara com um conceito confuso que não se encaixa em seu conhecimento atual. É importante reconhecer a visão prévia do paciente e convidá-lo a questionar esse entendimento para construir uma nova perspectiva. Por exemplo, as pessoas veem a radioterapia como sinônimo de risco, mas é possível explicar sobre a radioterapia moderna que age com precisão, atingindo somente as células do alvo, reformulando os conceitos do paciente.
Mesmo pacientes bem articulados e bem informados podem ter dificuldade para compreender e aplicar informações sobre saúde, especialmente quando explicadas em termos técnicos. Por isso, a comunicação é uma das ferramentas mais poderosas no arsenal de um médico. Pequenas mudanças na forma de explicar podem aumentar a adesão ao tratamento e promover decisões de saúde mais seguras e transformadoras.
Então, que tal na sua próxima consulta, ao invés de orientar que o paciente precisa ingerir menos sódio para evitar o risco de hipertensão, dizer de forma mais simples que ele deve comer menos sal para não ter pressão alta? Essas pequenas alterações no diálogo com os pacientes não só melhoram a compreensão, mas podem também fortalecer a relação médico-paciente.
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