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Carreira12 novembro 2025

Comunicação médica: como tornar jargões e termos técnicos mais compreensíveis?

Adaptar a linguagem médica é tornar a informação clara ao paciente, sem perder seriedade ou precisão

A comunicação com o paciente é um dos pontos mais delicados e, ao mesmo tempo, mais importantes do cuidado médico. Ela pode determinar o sucesso ou fracasso de um tratamento, por exemplo, dependendo de como as informações são transmitidas e recebidas durante um atendimento.

Entre colegas médicos ou da área da saúde, a linguagem com jargões e termos técnicos é comum e facilita o raciocínio clínico, mas quando mantemos esse tipo de comunicação, sem adaptação, para o atendimento ao paciente, muitas vezes ela se transforma em um obstáculo. O que para nós, médicos, soa natural, por serem termos que usamos dezenas de vezes, pode chegar ao paciente como algo confuso ou assustador.

As dificuldades de comunicação de termos médicos podem surgir de duas formas principais. A primeira quando o termo é totalmente desconhecido pelo paciente, como as palavras “farmacocinética” ou “metastático” podem representar para um paciente com pouca escolaridade. A segunda acontece quando a palavra é familiar, mas assume um sentido diferente dentro da medicina. Por exemplo, “positivo” em um exame laboratorial indica para nós a presença de uma doença, mas pode ser interpretado pelo paciente como uma boa notícia.

Esse tipo de desencontro de comunicação pode gerar confusão ou preocupação desnecessária entre os pacientes, independente de escolaridade ou fatores como renda, idioma, contexto cultural. Isso aumenta o risco de ansiedade frente ao diagnóstico, perda de confiança, falhas na adesão ao tratamento, insegurança no cuidado e decisões tomadas sem clareza.

Repensando alguns termos do cotidiano médico

A seguir você confere alguns exemplos de termos que parecem simples no dia a dia do médico, mas que podem ser mal compreendidos:

Positivo ou Negativo, Benigno ou Maligno, Progredindo…: Um estudo com 215 participantes nos EUA publicado no JAMA Network investigou o quanto adultos compreendem frases médicas comuns usadas em comunicações clínicas. Os pesquisadores identificaram que muitos termos médicos são interpretados de forma equivocada, frequentemente invertendo o sentido pretendido pelo profissional. Por exemplo, apenas 79% compreenderam que a frase “Seu tumor está progredindo” é uma notícia ruim e 67% compreenderam que o termo “Linfonodos positivos” significa que o câncer se espalhou.

Termos oncológicos complexos: Palavras como “quimioterapia”, “edema”, “adjuvante”, “linfonodo” e “metastático” são difíceis para muitos pacientes. Um estudo publicado no Journal of the American Cancer Society mostrou que mais de um terço dos pacientes mal compreendia 15 dos 20 termos testados relacionados ao tratamento oncológico. Por exemplo, 98% não sabiam definir “manutenção”, 74% não entendiam “câncer” e 58% não sabiam o que era “quimioterapia”.  A compreensão dos pacientes melhorou em pelo menos 20% após assistir um vídeo com explicações sobre alguns termos.

Insuficiência cardíaca, hipertensão, dislipidemia: O Manual Clínico de Literacia em Saúde e Segurança do Paciente, da American Medical Association, também lista uma série de termos técnicos podem ser traduzidos para conceitos mais compreensíveis a fim de fazer o paciente compreender melhor o sobre informações de saúde. Algumas das sugestões são: “insuficiência cardíaca” pode ser explicada como “o coração não consegue bombear o sangue corretamente”; “hipertensão” como “pressão alta, que pode prejudicar órgãos ao longo do tempo”; e “dislipidemia” como “níveis elevados de gordura no sangue”. O manual orienta que uma boa abordagem é explicar em uma linguagem coloquial, que você usaria ao conversar com sua avó. Assim é possível criar oportunidades de diálogo entre o médico e o paciente, em vez de limitar a comunicação a um monólogo do médico.

Estratégias para melhorar a comunicação com os pacientes

É importante lembrar que adaptar a comunicação de jargões e termos médicos não significa infantilizar a informação ou reduzir a seriedade da consulta. Significa reconhecer que a informação só cumpre seu papel quando é compreendida pelo paciente. Cabe a nós, médicos, traduzir a ciência em palavras que confortem e orientem.

Comunicar as informações de forma acessível para o paciente também é parte do tratamento e podem ser feitas seguindo algumas estratégias:

  • Fale de forma pausada e com tempo de assimilação para o paciente
  • Use uma linguagem simples, com termos não médicos.
  • Desenhe ou mostre figuras para gerar lembranças pelo paciente
  • Forneça uma quantidade limitada de informações em cada momento de conversa e repita para reforçar a memorização
  • Use a técnica de ensino reverso, em que o paciente repete as instruções com suas próprias palavras.
  • Deixe o paciente à vontade para fazer perguntas, sem constrangimentos.

Além dessas estratégias para simplificar a comunicação, o médico também pode trabalhar com diferentes formas de explicação: elucidativas, que funcionam como definições claras apoiadas em exemplos cotidianos; quase científicas, que usam metáforas, analogias e recursos visuais para tornar palpáveis processos invisíveis; e transformadoras que ajudam a desconstruir crenças prévias, oferecendo ao paciente uma nova maneira de enxergar o tratamento.

Essas três formas de estruturar as explicações permitem ajustar a comunicação de acordo com o perfil e as necessidades de cada paciente, equilibrando clareza e rigor clínico.

Autoria

Foto de Juliana Karpinski

Juliana Karpinski

Editora médica assistente de Carreira da Afya. Médica e Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). MBA em Gestão Estratégica pela UFPR.

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