Se você está no internato (ou prestes a entrar neste ciclo da faculdade), já deve ter ouvido a frase: “É agora que a medicina de verdade começa.” E, em certo ponto, essa frase realmente é verdadeira: pela primeira vez, o paciente deixa de ser um caso de livro ou prontuário apresentado em slides durante a aula e passa a ser uma pessoa real, com medos, dúvidas e histórias. É neste momento que uma habilidade que poucos professores ensinam de forma detalhada durante as aulas pode fazer grande diferença no dia a dia do interno: a comunicação empática.
O internato é uma fase da faculdade em que o estudante de medicina tem o contato mais próximo com os pacientes. Ao longo dos primeiros quatro anos de formação, ele foi bombardeado com uma quantidade enorme de conteúdos técnicos e científicos sobre as mais diversas doenças que poderiam ser encontradas na prática médica, mas e a preparação para compreender o paciente (e não apenas a doença), como deve ser feita?
Como perceber que por trás de uma queixa de dor abdominal pode haver uma ansiedade silenciosa? Ou que aquele colega mais quieto do grupo pode estar esgotado e precisa ser escutado?
Saber usar a comunicação empática durante os atendimentos e até mesmo na relação com colegas e preceptores é uma das habilidades que o futuro médico precisa desenvolver. Afinal, a empatia não é só uma habilidade extra. Ela é uma parte fundamental do que faz da medicina uma ciência humana.
Como a comunicação empática pode contribuir para o paciente?
Pode parecer clichê, mas vale repetir: o paciente não quer apenas um diagnóstico. Ele quer ser escutado e, para isso, o estudante de medicina deve desenvolver a capacidade de ouvir e compreender o paciente de forma humana e acolhedora.
Cada um deles está enfrentando momentos de preocupações, dúvidas ou mesmo medo em relação ao diagnóstico, tratamento, prognóstico e precisam ser ouvidos e acolhidos com respeito durante o atendimento.
Quando o interno ouve com atenção e sem pressa o que o paciente tem a dizer, além de gerar confiança, consegue coletar informações clínicas mais completas, também pode aumentar a adesão ao tratamento e construir uma relação mais forte com o paciente. É algo que exames complementares ou medicações de última geração ainda não conseguem substituir.
E os colegas e mentores?
Que atire a primeira pedra o médico que nunca passou ou presenciou algum conflito entre colegas durante o período em que esteve no internato durante a faculdade. Conviver com o mesmo grupo de internos, dia após dia, plantão após plantão, durante os dois anos de internato não é fácil. Cada estudante vem com sua história, seu jeito, seu ritmo. É normal que alguns atritos aconteçam. O problema é quando eles viram barreiras para o aprendizado.
Neste ponto, a comunicação empática pode ser um antídoto para amenizar esses conflitos. Quando o interno tenta entender o ponto de vista do colega, respeita os limites e não transforma tudo em competição, o ambiente de estudos melhora e o aprendizado fica mais leveza.
No fim do dia, todos estão passando por situações semelhantes e querem alcançar o mesmo objetivo: uma boa formação médica.
Já a relação com preceptores e médicos das áreas em que o estudante passa durante os rodízios do internato é uma das fontes mais ricas de aprendizado, networking e oportunidades.
Ao adotar uma postura empática com mentores, o interno se torna mais aberto ao diálogo e aprende a escutar críticas (mesmo as duras) sem levar para o lado pessoal.
Empatia não é talento, é treino
Se você está passando pelo internato e chegou até aqui pensando “Ah! Mas eu não sou uma pessoa naturalmente empática“, saiba que comunicação empática, assim como outras soft skills médicas, pode ser desenvolvida. Então, no seu próximo plantão, que tal a fazer as seguintes reflexões: Eu realmente ouvi esse paciente? Entendi o que meu colega quis dizer? Fui receptivo à crítica que recebi do meu preceptor?
Elas serão um bom começo para que sua prática médica seja mais humana.
Autoria

Juliana Karpinski
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