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Carreira5 dezembro 2025

Barreiras e facilitadores do trabalho em equipe na UTI: visão dos profissionais

Quando profissionais com diferentes áreas e especialidades trabalham juntos, os resultados para os pacientes tendem a ser melhores

Você já atuou em ambientes de cuidados intensivos (UTI) ou em outros contextos que exigem decisões rápidas e coordenadas para atendimentos urgentes e complexos? Percebeu como o trabalho da equipe multidisciplinar é fundamental nestes locais para fornecer um atendimento completo ao paciente?

Quando profissionais com diferentes áreas e especialidades trabalham juntos, combinando suas habilidades, os resultados para os pacientes tendem a ser melhores, conforme demonstram alguns estudos. Entre os benefícios, podemos destacar a redução de eventos adversos, internações mais curtas, maior satisfação dos pacientes e até redução na mortalidade hospitalar.

A equipe multidisciplinar costuma reunir médicos de diversas áreas, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos e assistentes de saúde, entre outros. Mas, apesar de o trabalho em equipe ser fundamental para o atendimento ao paciente complexo, tornar esses profissionais um time realmente coeso ainda tem sido um desafio em muitos serviços de saúde.

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Terapia Intensiva

O que facilita e dificulta o trabalho da equipe multidisciplinar?

Uma revisão sistemática conduzida por Pradelli et al. com o título Healthcare professional perspective on barriers and facilitators of multidisciplinary team working in acute care setting: a systematic review and meta-synthesis analisou estudos publicados entre 2004 e 2022 sobre unidades de cuidados intensivos de diferentes países.

O objetivo foi compreender, sob a perspectiva dos profissionais de saúde que atuavam nestes ambientes, quais fatores promovem ou comprometem o trabalho da equipe multidisciplinar.

Os achados foram organizados em quatro categorias principais: fatores organizacionais, individuais, colaborativos e relacionados à função.

 

Facilitadores: o que ajuda a equipe a funcionar melhor

Os facilitadores mais relevantes estão ligados às características individuais e à cultura colaborativa da equipe multidisciplinar. Entre eles, podemos citar: respeito mútuo entre os membros da equipe; presença de motivadores internos e externos para o trabalho coletivo; experiências colaborativas com relacionamentos interpessoais eficazes e objetivos compartilhados entre o time.

Outros facilitadores que fortalecem a confiança, reduzem conflitos e criam um ambiente propício à colaboração também foram apontados, como a comunicação eficaz e aberta entre a equipe e o domínio de habilidades técnicas e não técnicas (liderança, tomada de decisão, consciência situacional).

Barreiras: o que atrapalha o desempenho da equipe

Já as barreiras mais críticas para o desempenho de uma equipe multidisciplinar estão principalmente associadas a fatores organizacionais. O obstáculo mais evidente é a alta rotatividade de pessoal, que desestabiliza a equipe e exige treinamentos constantes para os novos integrantes. Pode-se acrescentar também a sobrecarga de trabalho, que dificulta a colaboração entre profissionais e acaba comprometendo a comunicação entre a equipe em momentos de maior tensão.

Outros fatores que podem comprometer os resultados do trabalho em equipe dentro dos ambientes de cuidados mais complexos e aumentar até mesmo o risco de erros são a falta de clareza nos papéis de cada membro do time e ausência de liderança evidente. Também pode ser incluído nesta relação, a rigidez de alguns sistemas de cuidados e dificuldade no compartilhamento de informações.

E na prática, o que pode ser feito?

Com base na pesquisa de Pradelli et al., algumas variáveis são passíveis de mudança que podem ser implementadas por gestores, lideranças clínicas e equipes assistenciais. Algumas sugestões são apresentadas a seguir:

Reduzir a rotatividade da equipe: altos índices de troca de pessoal fragilizam a coesão da equipe. Investir em políticas de retenção, boas condições de trabalho e valorização profissional ajuda a criar vínculos entre todos os envolvidos no atendimento e favorece a colaboração.

Distribuir melhor a carga de trabalho: profissionais sobrecarregados se comunicam menos e cometem mais erros que poderiam ser evitados. Ambientes que permitam uma divisão mais equilibrada das tarefas podem contribuir para a melhor participação de todos e para a segurança do paciente.

Estimular experiências e metas compartilhadas: vivências comuns, sejam reais ou simuladas, fortalecem os vínculos entre membros da equipe, promovendo relacionamentos interpessoais mais fortes e confiantes. Ferramentas como auditorias multiprofissionais também fornecem reflexão, aprendizado e melhorias constantes.

Investir em educação interprofissional: capacitações integradas de formação contínua, com foco no trabalho em equipe e na comunicação entre áreas, fortalecem o respeito mútuo entre profissionais e a compreensão das funções de cada integrante.

Desenvolver competências técnicas e não técnicas: profissionais com competências técnicas estão preparados para gerenciar emergências com confiança, minimizando a ansiedade e a frustração em situações de estresse. Habilidades como comunicação, liderança e tomada de decisão também são cruciais para a atuação segura da equipe.

Reduzir o corporativismo e o individualismo profissional: o ambiente da saúde exige colaboração para melhorar o atendimento. Intervenções para conseguir um ambiente mais colaborativo podem ser feitas com workshops, reuniões multiprofissionais e cursos interdisciplinares até mesmo durante a formação profissional.

Valorizar a liderança formal: líderes acessíveis, com papéis definidos, fazem diferença na gestão da equipe multidisciplinar. Eles devem atuar como facilitadores, apoiando o desenvolvimento técnico e promovendo um ambiente de trabalho positivo e de colaboração.

Autoria

Foto de Juliana Karpinski

Juliana Karpinski

Editora médica assistente de Carreira da Afya. Médica e Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). MBA em Gestão Estratégica pela UFPR.

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Referências bibliográficas

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