Logotipo Afya
Anúncio
Carreira22 abril 2025

Melhores práticas em teleatendimento de UTI

Recomendações de CCT: práticas baseadas em consenso, padronização de termos, equipes multidisciplinares e tecnologias confiáveis

Poucos assuntos evoluíram tanto após 2020 quanto o uso de telemedicina. Ela avançou em vários campos, incluindo pronto atendimento, especialidades e psicologia. No entanto, o seu uso para unidades de Tratamento Intensivo (UTI) ainda carece de mais metodologia, objetivos e evidências práticas de desfechos.

Por isso, um conjunto de recomendações baseadas em consenso de especialistas foi realizado, com o intuito de estabelecer melhores práticas em cuidados críticos por telemedicina (CCT).

O objetivo principal foi fornecer orientações abrangentes para o desenvolvimento e implementação eficaz de programas de CCT, especialmente diante do crescimento acelerado da telemedicina durante a pandemia de covid-19.

telemedicina

O consenso

O consenso se baseou na metodologia Delphi modificada, onde um painel de especialistas revisou e votou em declarações de práticas recomendadas. Foram realizados três ciclos de votação, com um índice de concordância maior que o habitual (geralmente 70%) acima de 85% necessário para alcançar o consenso.

Participaram do grupo de painelistas: 10 médicos, 5 enfermeiros, 1 farmacêutico e 2 assistentes de cuidado (podem atuar auxiliando médicos e enfermeiros, examinando, revisando exames complementares e auxiliando em procedimentos, talvez se aproximando de coordenadores de cuidado no Brasil).

Organização

Todos os convidados precisavam ter exercido teleatendimento por um tempo prolongado e ter função de liderança nos locais onde trabalham. O processo gerou 78 declarações finais organizadas em domínios principais.

Definições e terminologia

Padronizar termos como “CCT contínuo” (há contato contínuo entre times locais e de CCT, com monitoração contínua de sinais fisiológicos e laboratoriais e de imagem e possibilidade de interação a qualquer momento), “episódico” (as interações entre times locais e de CCT é realizada em momentos específicos e combinados, com revisão de dados do prontuário e se limita a este tempo, às vezes com chamadas “SOS”) e “modelo hub & spoke” (o modelo hub & spoke é um design de rede em que o dispositivo central, ou hub, está conectado a vários outros dispositivos, ou spokes, sendo modelo intermediário entre contínuo e esporádico) para descrever estruturas de serviços.

O modelo contínuo é reconhecido como de melhores resultados em alguns estudos, mas ainda está indefinido se deve ser sempre recomendado. Deve haver “handoffs” para passagem de informações entre os times locais e de CCT.

É bom lembrar que o modelo episódico pode ser necessário durante situações emergenciais, como desastres e epidemias, porque tem menor complexidade e precisa de menos profissionais.

Modelos de entrega de cuidados

Flexibilidade nos modelos para atender necessidades locais, sem evidências suficientes para declarar superioridade de um modelo específico (ex.: contínuo vs. episódico).

Isto é recomendado porque os locais que recebem CCT são heterogêneos e suas necessidades podem variar, já que esta modalidade de cuidados à distância ainda é recente e carece de mais evidências para saber a melhor performance entre os modelos.

Modelos de cobertura e equipes

Destaca a importância de equipes multidisciplinares com treinamento especializado em cuidados críticos e telemedicina.

Sugere a adaptação das proporções de pacientes por profissional às características dos casos e recursos disponíveis.

Confiança e construção de relacionamento

Integrar a equipe local da UTI com o time de CCT é fundamental para aliar debate de casos e de condutas, promovendo entrosamento e demonstrando isso ao paciente e familiares.

A documentação desta interação deve estar presente no prontuário do paciente.

Considerações tecnológicas e ergonômicas

Salienta a necessidade de infraestrutura confiável, interoperabilidade de sistemas e integração com registros eletrônicos de saúde. Mecanismos de “backup” de dados e vídeos são extremamente importantes.

Confiança e construção de relacionamentos

Reforça a importância de alinhar papéis e responsabilidades entre as equipes presenciais e virtuais para construir confiança e eficiência no atendimento.

As jornadas devem ser limitadas a 12 horas, de preferência com intervalos regulares para descanso de “tela” e mudanças de posturas. Lugares de trabalhos agradáveis, silenciosos e com boa iluminação devem ser oferecidos para o time de CCT.

Qualidade, segurança e eficiência

Defende o uso de ferramentas como suporte à decisão clínica e análise preditiva, ajustadas às condições locais. O valor econômico do CCT é difícil de se avaliar, pois depende da interação com time local e questões relacionadas à segurança (como eventos adversos) são de custo indireto e não contabilizados de modo rotineiro.

Licenciamento, credenciamento e certificação

Enfatiza a padronização de processos de credenciamento para garantir a competência técnica e clínica dos profissionais de CCT. Times multidisciplinares, coleta de dados e auditoria no estilo “antes-depois”, incorporação de medicina baseada em evidências, análise estatística, repositórios de dados, informações sobre acesso e disparidade das populações e comparação com programas globais de CCT devem ser buscados na atenção integral digital.

Agenda de pesquisa e advocacia

Identifica a necessidade de mais pesquisas para melhorar a base de evidências em CCT. Recomenda esforços para promover políticas públicas e financiamento para programas de CCT e financiamento para formação de currículo e treinamento da equipe de teleatendimento.

Conclusão

O sucesso do CCT depende de equipes especializadas, protocolos claros e tecnologias confiáveis. A implementação deve ser adaptada às condições locais para maximizar a eficácia. Embora a literatura ainda seja limitada, as declarações de consenso fornecem um guia inicial valioso para o desenvolvimento de programas de CCT de alta qualidade.

Autoria

Foto de André Japiassú

André Japiassú

Doutor em Ciências pela Fiocruz. Mestre em Clínica Médica pela UFRJ. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Residência Médica em Medicina Intensiva pela UFRJ. Médico graduado pela UFRJ.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Carreira