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Carreira23 outubro 2025

Atendimento de pacientes estrangeiros: como se comunicar

O médico deve encarar a comunicação com o paciente como um instrumento a mais a ser dominado para aplicação correta dos seus conhecimentos
Por Redação Afya

O Brasil recebeu, entre janeiro e maio de 2025, 4,8 milhões de visitantes estrangeiros. Esse número é um recorde para o período, representando um crescimento de 49,7% em relação a 2024, segundo a Embratur. Além disso, os últimos dados do governo federal (até 30 de abril de 2025) indicam que o Brasil possui entre a sua população 1.887.096 estrangeiros.

Com essas informações se torna claro que estrangeiros são grupo populacional considerável no país que, além de contribuir para o enriquecimento cultural e econômico do Brasil, possui necessidades que devem ser atendidas, como o acesso à saúde.

Comunicação com pacientes estrangeiros

Sejam visitantes ou residentes no Brasil, dificilmente um paciente estrangeiro buscará assistência médica dominando 100% da língua oficial, e isso se transforma na principal barreira para o acesso à saúde.

Considerando que mesmo pacientes que compartilham a mesma língua materna do médico relatam dificuldades de comunicação com os profissionais de saúde, seja no sistema público ou no particular, a inclusão da diferença de domínio da língua na equação torna o resultado muito mais inadequado.

O médico deve encarar a comunicação com o paciente como um instrumento a mais a ser dominado para aplicação correta dos seus conhecimentos e obtenção do desfecho satisfatório do tratamento.

A maioria dos visitantes e migrantes no Brasil são de países vizinhos e dos EUA, o que torna o aprendizado do espanhol e/ou inglês uma necessidade para o médico a fim de atender a essa parcela da população.

Além disso, é necessário ter os mesmos cuidados que se teria com um paciente nativo, trabalhando na tranquilidade do paciente para obter as informações cruciais, principalmente em situações de atendimento de emergência, e comunicando as necessidades de tratamento de forma clara e assertiva, confirmando sempre que o paciente compreendeu o que é necessário.

Contudo, há de se fazer uma diferenciação entre migrantes e os visitantes, turistas, que raramente precisaram de um acompanhamento médico mais extenso, com casos de alta complexidade sendo raros fora de eventuais emergências.

A população migrante no Brasil é que realmente estará presente no sistema de saúde brasileiro, principalmente o público, e é a que possui uma maior complexidade de atendimento. Só em 2024, o Brasil recebeu 276.122 novos migrantes em seu território. Além disso, no mesmo ano, entre esses, 146.825 se enquadravam na categoria de refugiados, um número que tende a crescer no futuro.

Além do idioma

Questões culturais também afetam o trato com o paciente estrangeiro, mesmo que sejam apenas turistas de passagem; alguns desentendimentos e complicações podem surgir no trato do paciente. No cuidado de longo prazo, essas questões podem impactar os desfechos do tratamento.

Esse aspecto do atendimento é tratado até mesmo por nota técnica com orientações de atendimento a migrantes, refugiados e apátridas do Ministério da Saúde. No documento “recomenda-se que o serviço de saúde faça contato com as redes locais para a oferta de mediação cultural, resguardada a confidencialidade e as possíveis questões de gênero e respeito à interculturalidade no atendimento”.

Como exemplo de caso, um estudo feito em 2020 com uma população indígena venezuelana mostrou que além da língua ser uma das principais barreiras, não só para o acesso sistema de Saúde, como também para continuidade e eficácia dos tratamentos, a parte cultural, como alterações na alimentação por falta de acesso a ingredientes tradicionais, também afetaram o cuidado a essa população.

Para a Organização Internacional para as Migrações (OIM) “o mais importante é comunicar-se com a pessoa migrante de forma clara e horizontal, para que se possa entender quais partes daquela cultura fazem sentido para o atendimento daquela pessoa. Uma comunicação eficiente pressupõe o reconhecimento do papel desempenhado por todas as partes envolvidas na interação, exigindo um esforço para minimizar possíveis ruídos.”

Turismo médico

Outra via de procura estrangeira pelos serviços de saúde brasileiros que ganhou força nos anos pós-pandemia e possui dificuldades próprias é o chamado Turismo Médico. Aproveitando as diferenças cambiais e a excelência médica brasileira muitos estrangeiros veem no país uma oportunidade para ter acesso a tratamentos médicos, principalmente os estéticos e cirúrgicos como as bariátricas.

Esse tipo de paciente busca centros médicos equipados e médicos altamente preparados, e espera serviços de alto nível nos atendimentos.

Segundo dados de 2023 da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), o Brasil é o país onde se realiza o maior número de procedimentos estéticos cirúrgicos, sendo que aproximadamente 14% dos procedimentos estéticos feitos no país foram em pacientes estrangeiros.

Estima-se que esse mercado movimente mais de US$ 1 bilhão por ano no Brasil e não se restringe apenas a procedimentos estéticos, há uma busca também por tratamentos mais especializados e de maior complexidade. O Hospital Sírio Libanês de São Paulo, por exemplo, em 2024 inaugurou uma unidade dentro do Aeroporto Internacional de Guarulhos oferecendo atendimento em saúde para pacientes internacionais com comunicação em inglês, espanhol e japonês e convênios com seguradoras e hospitais de outros países da América Latina.

Autoria

Foto de Redação Afya

Redação Afya

Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.

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