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Carreira10 setembro 2025

A jornada contínua do médico: um relato particular

Somos médicos 7 dias na semana e 24 horas, embora devamos estabelecer limites saudáveis para a nossa vida pessoal
Por Leandro Lima

Na atualidade, muito se discute sobre a qualidade de vida do médico, questionando-se conceitos até então arraigados que aproximavam a medicina da vocação sacerdotal.

A verdade é que, a despeito das muitas mudanças do modus operandi do médico moderno, não existe um botão que, ao ser acionado, desvincule o médico de seu ofício e de sua missão.

Situações profissionais x pessoais

Não há espaço para a omissão em situações que, nitidamente, podemos ser úteis:

  • O chamado para a desobstrução de uma via aérea pediátrica, por corpo estranho, em pleno vôo internacional em viagem de comemoração aos 10 anos de casamento;
  • A prestação da assistência inicial a um angioedema de glote induzido por alergia ao camarão em uma praia afastada, onde uma via aérea de pescoço improvisada pode ser o único recurso;
  • A identificação de uma mancha melanocítica suspeita em um amigo em plena confraternização de ano novo;
  • O acionamento do serviço de emergência e a verificação das condições das vítimas, se for seguro, diante do capotamento do veículo que acabara de nos ultrapassar;
  • A descoberta da confusão mental aguda de um tio querido por ocasião de um convite despropositado para um café da tarde.

Aqui estão alguns exemplos de que o ser médico é uma condição indissolúvel da nossa existência.

Certamente que, cada indivíduo, em suas particularidades, traçará fronteiras personalizadas que distinguirão os pontos a partir dos quais tem a capacidade e a motivação para a intervenção.

Relato pessoal

O meu irmão primogênito, a única e preciosa referência que eu tinha, enquanto jovem estudante, sobre o que almejava ser enquanto médico, certa vez me confidenciou: “o mundo é um grande hospital”. Em vários momentos da minha trajetória, essa profecia tem se cumprido.

Em algumas ocasiões, nos sentimos demasiadamente expostos, vulneráveis e até mesmo julgados sob uma perspectiva utilitária. Entretanto, o que tem me trazido paz de espírito, sob esse aspecto, pode ser explicado com uma analogia simples: a vela.

Uma vela apagada não ilumina e não se desgasta, permanece íntegra, com a parafina espessa e sem deformidades. Uma vez aceso o pavio, ela se consome, mas traz conforto, acolhimento e clareza a quem nos rodeia.

A opção diametralmente oposta seria a de ostentar, a todo tempo, o semblante da inacessibilidade.

Não defendo aqui uma disponibilidade universal, integral e em todos os ambientes que frequentamos, destinada a qualquer evento que nos é apresentado.

Contudo, catalisar intervenções transformadoras por onde passamos, e não somente dentro das paredes de um consultório ou ambulatório, me parece ser atributo do médico e do ser humano moderno, ou deveria ser.

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