Esta semana, falamos no Portal PEBMED sobre várias questões da pandemia de coronavírus. Por isso, em nossa publicação semanal de conteúdos compartilhados do Whitebook Clinical Decision, vamos falar sobre o manejo da parada cardiorrespiratória na Covid-19.
Parada cardiorrespiratória na Covid-19
Definição: A parada cardiorrespiratória (PCR) é definida como a perda abrupta da consciência, causada pela falta de um fluxo sanguíneo cerebral adequado. No contexto da infecção por coronavírus, algumas particularidades devem ser estabelecidas.
Introdução: No ambiente hospitalar, o suporte à vida se baseia na avaliação secundária, com poucas exceções. Tornam-se objetivos imediatos a identificação do ritmo de parada, massagem cardíaca, obtenção de via aérea segura, ventilação (C-A-B), infusão de drogas ou soluções e as medidas de cuidado adicional, conforme cada caso.
Treinamento da equipe em relação ao atendimento da PCR: Deve ter como objetivo principal reduzir o tempo de resposta, com medidas que permitam atuação rápida, eficiente e sistematizada. Todos os pacientes que estiverem em eminência de deterioração do quadro devem ser monitorados e sinalizados ao time de resposta rápida.
Reconhecimento de PCR
- Verificar se a vítima responde;
- Ausência de respiração ou apenas gasping;
- Nenhum pulso definido sentido em dez segundos;
- A verificação da respiração e do pulso pode ser feita simultaneamente, em menos de dez segundos.
Principais Causas de PCR na Infecção por Coronavírus
- Hipóxia;
- Hipotensão por choque;
- Descompensação de doença de base (IAM, insuficiência cardíaca);
- Sepse e/ou acidose graves.
Sobre a Avaliação Individual do Paciente e o Início da Assistência
- A segurança da equipe de assistência é essencial, portanto, as manobras de ressuscitação não devem iniciar até que todos estejam devidamente paramentados;
- A paramentação com todo o EPI deve ser prioridade, ainda que isso atrase a massagem cardíaca;
- O EPI deve estar disponível no carrinho de parada e deve ser suficiente para toda a equipe envolvida;
- Toda a equipe envolvida na ressuscitação deve ter EPI’s que protejam da formação de aerossóis;
- Protocolos de identificação de deterioração clínica devem ser estipulados previamente com intuito de uma ação mais rápida da equipe;
- Todos os pacientes com a infecção da Covid-19 que venham a ser internados devem ser avaliados quanto a uma potencial dificuldade de entubação orotraqueal.
Principais Causas de Má Assistência na PCR
- Equipe não treinada e/ou não coordenada. É necessário haver um líder que realize a coordenação e promova a comunicação entre os integrantes do time de reanimação cardiopulmonar (RCP). Se o líder precisar assumir outro papel durante a RCP, outro médico deve assumir seu posto ou dividir as ações de líder com outra função que seja necessária durante a RCP. Os comandos durante a RCP devem ser direcionados ao integrante, de preferência pelo nome, e ele deve responder positivamente ao comando (comunicação em alça fechada);
- Falta de equipamentos para RCP e EPI;
- Falha no uso dos equipamentos de RCP (falta de manutenção ou uso inadequado pela equipe).
Principais Aspectos da Qualidade da Reanimação Cardiopulmonar (RCP)
- Realizar compressões torácicas a uma frequência de 100 a 120/minuto, comprimindo a uma profundidade entre 5 e 6 cm;
- Permitir o retorno total do tórax após cada compressão e minimizar as interrupções nas compressões (se for necessária interrupção da RCP para realização de algum procedimento, tentar fazê-la no momento da checagem de pulso);
- Posicionar as duas mãos sobre a metade inferior do esterno;
- Alternar socorristas (a cada dois minutos);
- Sem via aérea avançada: relação compressão-ventilação de 30:2 (cada ventilação administrada em um segundo, provocando a elevação do tórax);
- Com via aérea avançada (priorizar): ofertar 100% de oxigênio e uma frequência respiratória em torno de 10 a 12 respirações por minuto;
- Capnografia quantitativa com forma de onda – meta: PETCO2 10-20 mmHg;
- Pressão intra-arterial – meta: diastólica > 20 mmHg.
Identificação do Retorno da Circulação Espontânea (RCE)
- Pulso e pressão arterial;
- Aumento abrupto prolongado no PETCO2 (normalmente 35 a 45 mmHg);
- Variabilidade espontânea na pressão arterial com monitorização intra-arterial.
Via Aérea Avançada
- Supraglótica ou intubação endotraqueal (preferencial);
- A aquisição de via aérea avançada deve ser priorizada para um melhor padrão de ventilação/oxigenação e para o isolamento de secreções;
- É preferível utilizar a vídeolaringoscopia por um profissional experiente. Caso não seja possível obter a via aérea na primeira tentativa, a vídeolaringoscopia deve ser utilizada novamente na segunda opção;
- Caso não seja possível realizar a entubação orotraqueal de início, dispositivos de ventilação supraglótica (máscara laríngea ou tubo laríngeo) devem ser acoplados à ventilação mecânica até que seja obtida uma via aérea definitiva;
- No caso de ventilação durante a PCR, o ideal é a utilização da ventilação mecânica acoplada ao tubo endotraqueal, com fonte de oxigênio a 100%. Esse procedimento reduz a aerolização;
- O tubo orotraqueal deve ser pinçado antes do acoplamento ao ventilador mecânico;
- Não se deve esquecer de utilizar filtro HEPA nos dispositivos de ventilação;
- Caso o uso de dispositivo bolsa-válvula-máscara seja indispensável, deve-se realizar a técnica de selamento com duas pessoas. Além disso, é recomendável o uso da cânula orofaríngea e o filtro HEPA entre a máscara e a bolsa;
- O ventilador deve ser programando no modo assíncrono para ofertar 100% de oxigênio e uma frequência respiratória em torno de 10 a 12 respirações por minuto.
Ritmos, Drogas e Terapias de Choque
- Caso o paciente apresente ritmo de parada chocável, o choque não deve ser adiado para obtenção de via aérea ou outros procedimentos;
- Não há nenhuma recomendação nova quanto ao uso de drogas e os ritmos de parada.
Após Restabelecimento do Ritmo
- O leito de UTI em isolamento respiratório deve ser antecipado no início das manobras;
- Todos os materiais descartáveis devem ser devidamente descartados em lixeiras de material infectante;
- Os materiais não descartáveis devem ser higienizados conforme orientação do fabricante;
- Todos os materiais utilizados na RCP que são reutilizáveis não devem ser esquecidos no leito do paciente;
- Os protocolos de retirada dos EPI’s devem ser seguidos à risca para evitar contaminação;
- Lavar bem as mãos após o processo e utilizar álcool gel.
Interrupção dos Esforços de Ressuscitação
Alguns achados podem influenciar a equipe de RCP a interromper a reanimação:
- Tempo de RCP > 30 minutos sem retorno de ritmo sustentado;
- Ritmo de parada em assistolia;
- Tempo prolongado entre a PCR e o início da RCP;
- Idade do paciente e comorbidades;
- Ausência de reflexos de tronco cerebral;
- Normotermia.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.