O efeito da microcirculação coronariana nos desfechos cardiovasculares em pacientes portadores de estenose coronária intermediária ainda é incerto. Avaliar essa associação é o grande objetivo do estudo em questão: a resistência microcirculatória elevada determina pior prognóstico neste grupo de pacientes?
Contexto
A estenose coronariana intermediária é definida angiograficamente como obstrução da luz do vaso epicárdico entre 40% e 70%. Sabe-se da limitação do método angiográfico mediante variáveis como subjetividade e técnicas de projeção, tornando o exame insuficiente como guia terapêutico nesse tipo de lesão. Neste cenário, o estudo FLAVOUR (“Fractional Flow Reserve and Intravascular Ultrasound for Clinical Outcomes in Patients with Intermediate Stenosis”) comparou a reserva de fração de fluxo (RFR) com o ultrassom intravascular (IVUS) como guia terapêutico percutâneo na estenose coronariana intermediária, demonstrando não inferioridade do RFR em relação ao IVUS.
Além disso, sabe-se que a disfunção da microcirculação coronariana tem papel fundamental na gênese dos sintomas, como a angina pectoris, ratificando a importância do conceito de índice de resistência microcirculatória (IMR), bem como de sua relação com o prognóstico cardiovascular destes pacientes. Sua avaliação neste trabalho se deu através de um método computadorizado derivado da angiografia (angio-IMR), baseado na anatomia do vaso e na velocidade do fluxo sanguíneo na coronária.
Metodologia do estudo
O estudo, publicado em 27 de janeiro de 2025 no JACC, é uma análise post hoc do FLAVOUR, baseado no angio-IMR de 1.658 pacientes após análise de suas angiografias. Estes foram divididos em dois grupos: grupo PCI (intervenção coronariana percutânea) e grupo não PCI (sem intervenção percutânea).
O desfecho primário foi composto de morte por qualquer causa, infarto do miocárdio e revascularização em até 24 meses.
Em um tempo médio de 24,8 meses de seguimento, observou-se que pacientes com angio-IMR > 25 tiveram aumento significativo de eventos em ambos os grupos, PCI e não PCI.
No grupo PCI, pacientes com angio-IMR > 25 tiveram uma taxa de desfecho composto de 35,06% contra 7,2% nos pacientes com angio-IMR ≤ 25 (p < 0,001). No grupo não-PCI, a taxa foi de 17,95% em angio-IMR > 25 contra 4,23% em angio-IMR ≤ 25 (p < 0,001).
Conclusão
O angio-IMR elevado está associado a um pior prognóstico em pacientes com estenose coronariana intermediária e sua inclusão melhora a estratificação de risco e a previsão de eventos adversos, podendo ajudar na tomada de decisão.
Autoria

Juliana Avelar
Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
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