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Um excelente artigo de revisão recente abordou a relação entre fibrilação atrial (FA) e apneia obstrutiva do sono (OSA) e nós preparamos um resumo para vocês. A fibrilação atrial é uma das arritmias mais frequentes na prática clínica, cuja prevalência cresce com a idade. Já a apneia do sono é o distúrbio respiratório mais comum, podendo estar presente em até 40% dos indivíduos. Por isso, não é de se estranhar uma relação entre as duas patologias.
Em pacientes com FA, a prevalência de OSA é maior (21-74%). Por outro lado, em pacientes com OSA, a prevalência de FA é maior que na população em geral (4,8% vs 0,9%). Os autores sugerem que as alterações cardiovasculares induzidas pela OSA promovam a FA.
Em paciente com OSA, os episódios de hipoventilação, apneia e hipoxemia causam aumento da pressão arterial pulmonar e sobrecarga de câmaras cardíaca à direita. O átrio direito dilata e empurra o septo interatrial, reduzindo o átrio esquerdo e aumentando a pressão em seu interior. Além disso, as pressões intratorácicas negativas causam dilatação miocárdica (stretching), com alterações estruturais. O resultado é o aumento atrial e a desorganização das vias de condução atriais, causando FA.
O aumento da atividade simpática, que ocorre na OSA, e a presença de comorbidades, especialmente hipertensão e obesidade, também são fatores que contribuem para o surgimento da fibrilação atrial.
Mas qual a abordagem prática então? O artigo infelizmente não traz conclusões sobre o manejo destes pacientes. Para o diagnóstico, eles apenas citam que os questionários, como Epworth e Berlin, são pouco sensíveis e não estão indicados. As opções então seriam:
- Paciente com OSA: realizar Holter para pesquisar FA. Mas com uma prevalência menor que 5%, dificilmente esta estratégia seria custo-eficaz. É indicada oficialmente apenas na presença de sintomas sugestivos, como palpitações, ou na ocorrência de um AVC/AIT.
- Pacientes com FA: pesquisar OSA. A alta prevalência, chegando a mais da metade dos pacientes, torna esta estratégia muito atraente. O problema é que o padrão-ouro é a polissonografia, um exame chato e desconfortável de ser feito, pois é necessário que o paciente durma na clínica do sono. Além disso, tem acesso pelo SUS muito difícil. Tem aumentado a disponibilidade de aparelhos portáteis para diagnóstico de OSA, porém sua acurácia é inferior à polissonografia e não estão facilmente disponíveis.
E o tratamento?
Em pacientes com OSA, o tratamento da FA segue as recomendações usuais da principais diretrizes. Já o tratamento da OSA é capaz de reduzir o risco de FA. Apesar de ainda controverso, estudos observacionais sugerem uma associação entre uso de CPAP e menor risco de FA.
Referência:
https://jamanetwork.com/journals/jamacardiology/article-abstract/2674722?redirect=true
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