O transplante renal é o tratamento padrão ouro para pacientes com doença renal terminal e leva a melhora da qualidade de vida e sobrevida. Porém, esses pacientes acabam indo a óbito por doença cardiovascular. Os chamados eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE), que compreendem infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), acidente vascular cerebral (AVC) e morte ocorrem 3 a 5x mais nesses pacientes comparados a população em geral e comprometem a sobrevida do enxerto no longo prazo.
Isso ocorre tanto pelos fatores de risco tradicionais quanto por fatores de risco específicos desses pacientes, como disfunção do enxerto, rejeição e uso de imunossupressores. Poucos estudos pequenos avaliaram os fatores de risco e sua relação com MACE.
Recentemente, foi publicada uma revisão sistemática e metanálise com objetivo de caracterizar fatores relacionados ao transplante, fatores de risco tradicionais e marcadores bioquímicos e sua influência nos eventos cardiovasculares.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo de revisão sistemática e metanálise que incluiu estudos clínicos ou de coorte que avaliaram MACE em pacientes maiores de 18 anos transplantados renais. Os desfechos cardiovasculares primários nos estudos individuais foram definidos como MACE.
Resultados
Foram incluídos 17 estudos na análise final, sendo que 14 foram considerados como de boa qualidade e três como de qualidade razoável. Treze dos estudos foram retrospectivos, três foram observacionais prospectivos e um foi randomizado.
A metanálise incluiu 181.938 pacientes com 11.090 eventos de MACE e 170.848 pacientes controle que não tiveram evento. A idade média dos participantes variou de 49 a 69 anos e o tempo médio de seguimento variou de 3 a 67 meses.
Fatores de risco específicos desta população que foram preditores de MACE incluíram disfunção do enxerto e realização de hemodiálise antes do transplante. Ter recebido o rim de um doador vivo foi fator protetor.
Em relação aos fatores de risco tradicionais, houve associação de MACE com diabetes, idade avançada, sexo masculino, tabagismo, doença cardiovascular ou doença vascular periférica prévias, IAM prévio e fração de ejeção do VE (FEVE) reduzida.
Uso de imunossupressores, estatina e anti-hipertensivos variou muito entre os estudos e não teve relação com MACE. Já aspirina e betabloqueadores tiveram associação positiva com MACE, provavelmente por serem medicações usadas na prevenção secundária, ou seja, em pacientes que já tinham doença estabelecida e maior risco de eventos.
Comentários e conclusão: eventos cardiovasculares em pacientes transplantados renais
Apesar de pacientes transplantados terem melhora renal, o risco de complicações cardiovasculares e mortalidade continuam altos. Como já esperado, os fatores de risco tradicionais foram preditores de MACE.
Em relação aos fatores de risco não tradicionais, foram encontrados dois preditores menos conhecidos, a disfunção do enxerto e o status do doador, que tiveram impacto no desfecho pós transplante. A disfunção do enxerto teve impacto negativo e o status de doador vivo teve impacto positivo.
Algumas limitações são que os estudos foram na maioria retrospectivos e não randomizados, o período de seguimento foi variável e os exames laboratoriais foram muito variáveis e coletados em momentos também diferentes em relação ao transplante, não permitindo análises de marcadores laboratoriais em relação a ocorrência de MACE.
Assim, esse estudo reforça a necessidade de avaliar o risco cardiovascular dos pacientes transplantados renais e a identificação de preditores específicos pode ajudar, identificando pacientes com maior risco, que tem benefício de tratamento mais agressivo.
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