O evento ocorrido no dia 12 de junho de 2021 com o atleta dinamarquês Christian Eriksen, na Eurocopa, deixou todos no mundo dos esportes muito apreensivos. O jogador de futebol apresentou uma síncope, e segundo os médicos que o atenderam não apresentava pulso na avaliação inicial. As medidas de reanimação cardiopulmonar foram fundamentais para reestabelecer os sinais vitais do jogador e trazê-lo de volta a vida. Entretanto a dúvida que paira sobre o ocorrido é: o que aconteceu naquele momento? Certamente essa dúvida será respondida após uma investigação médica minuciosa o que definirá os próximos passos a serem seguidos.
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O que se sabe?
Casos como o de Eriksen são raros, mas vez ou outra acontecem com atletas, que aparentemente são indivíduos muito saudáveis. A incidência de morte súbita em jovens atletas é estimada entre 1 morte para 50 a 100 mil indivíduos por ano, esse número é substancialmente menor que a incidência de morte súbita na população geral.
As principais causas de morte de atletas envolvem doenças estruturais e não estruturais como miocardiopatia hipertrófica, cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, origem anômala das coronárias, síndrome de Brugada, síndrome do QT longo, Taquicardia ventricular catecolaminérgica, síndrome do QT curto e síndrome da repolarização precoce.
A cardiomiopatia hipertrófica em uma doença onde há uma hipertrofia desproporcional do músculo cardíaco. Apresenta um componente genético e costuma envolver parentes de primeiro grau. Seus principais sintomas envolvem uma obstrução variável do fluxo de sangue no trato de saída do ventrículo esquerdo, entretanto a principal razão para essa doença causar morte súbita é o substrato arritmogênico gerado no músculo hipertrofiado e pela fibrose que o acompanha. Um septo interventricular muito espesso, uma resposta anormal ao teste ergométrico, a presença de taquicardia ventricular não sustentada no holter, evento de síncope ou morte súbita em familiar próximo abaixo dos 40 anos de idade são fatores de risco para a morte súbita.
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A cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito também é uma doença genética onde há a substituição do músculo cardíaco por um tecido fibrogorduroso. Apesar do nome, em casos mais graves também pode acometer o ventrículo esquerdo. É mais incidente nos europeus, principalmente no mediterrâneo. Apresenta um padrão de eletrocardiograma típico, e seu diagnóstico pode ser realizado através de exames de imagem. O mecanismo de morte é a gênese de arritmias fatais provenientes do tecido liposubstituído.
Na síndrome do QT longo não há alteração estrutural cardíaca, trata-se de uma canalículopatia e altera o fluxo de íons nos miócitos provocando uma predisposição a arritmias malignas. É dividida em diversos tipos, sendo comum eventos após sustos, durante o sono ou atividade física.
A síndrome de Brugada também um canalículopatia de origem genética que não afeta a estrutura cardíaca. A marca da doença é um eletrocardiograma com supra de ST característico que muitas vezes pode ser confundido com infarto. O mecanismo de morte também é pela geração de arritmia maligna.
Mensagem final
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