O cardiodesfibrilador implantável (CDI) é terapia consolidada, por várias décadas, em doenças que podem levar a arritmias e morte súbita. Entretanto, complicações relacionadas a sua inserção (pneumotórax, perfuração cardíaca, lesão valvar) ou a sua manutenção ao longo do tempo (endocardite, mal funcionamento ou fratura do cabo) são preocupantes e potencialmente fatais.
Nesse contexto, o CDI subcutâneo (uma opção que não necessita de cabos para funcionar) seria uma alternativa sem as complicações previamente citadas. Porém, a ausência do cabo limitaria algumas funções, como a função marca-passo e a função anti-taquicardia.
CDI subcutâneo x CDI transvenoso
As Diretrizes Europeias passaram a recomendar o CDI subcutâneo em pacientes que não necessitavam de terapia para bradicardia, anti-taquicardia ou ressincronização cardíaca, como indicação IIa baseada em estudo observacionais. O estudo Praetorian decidiu provar a não inferioridade do CDI subcutâneo em relação ao CDI convencional para esses pacientes.
Tratou-se de um estudo randomizado controlado com 849 pacientes, que receberam o CDI subcutâneo (426) e o CDI transvenoso (423). Os critérios de inclusão e exclusão foram:
Inclusão:
- Adultos de 18 ou mais;
- Indicação de implante de CDI I ou IIa para prevenção primária ou secundária de morte súbita.
Exclusão:
- Implante prévio de CDI;
- Não adequação ao CDI subcutâneo;
- Indicação de tratamento de bradicardia ou de marca-passo biventricular;
- Paciente com taquicardia ventricular abaixo de 170 batimentos ou taquicardia ventricular monomórfica recorrente que não pode ser manejada com ablação ou droga, e que a terapia anti-taquicardia nesses pacientes se torna uma importante opção terapêutica.
Resultados
Os aparelhos foram programados para detectar taquicardias acima de 182 bpm e realizar o choque acima de 250 bpm. O desfecho primário foi uma composição entre complicações relacionadas aos dispositivos e choque inapropriados. Os desfechos secundários foram os eventos do desfecho primário individualizados, morte por qualquer causa, eventos cardiovasculares maiores, choques apropriados e terapias anti-taquicardia, internação por insuficiência cardíaca e necessidade de troca de um CDI pelo outro.
A idade média dos participantes foi de 63,5 anos (a maioria homens); o diagnóstico mais comum era a cardiopatia isquêmica e, na maior parte dos pacientes, a indicação era para prevenção secundária de morte súbita.
O seguimento médio foi de 49,1 meses e o desfecho primário ocorreu em 68 pacientes de ambos os grupos (RR 0,99; 95%; IC 0,75 – 1,39 p< 0,01 para não inferioridade e p=0,95 para superioridade). As complicações relacionadas ao dispositivo ocorreram em 31 pacientes do CDI subcutâneo contra 44 do CDI transvenoso (RR, 0.69; 95% IC, 0.44 a 1.09) e foram 41 e 29 choques inapropriados, respectivamente ( RR, 1.43; 95% IC, 0.89 a 2.30). Morte por qualquer causa ocorreu em 83 pacientes do CDI subcutâneo e 68 do transvenoso, e os choque apropriados em 83 e 57 pacientes, respectivamente.
Conclusão
As complicações relacionadas ao dispositivo foram maiores no grupo do CDI transvenoso enquanto os choques inapropriados foram mais comuns no CDI subcutâneo.
Por fim, o CDI subcutâneo se mostrou não inferior ao CDI transvenoso, provando ser terapia alternativa eficaz na prevenção de morte súbita.
Referência bibliográfica:
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