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Cardiologia17 dezembro 2025

Montelucaste na prevenção da cardiotoxicidade induzida pela doxorrubicina 

Estudo examinou os potenciais efeitos protetores do montelucaste, um medicamento antiasmático com características anti-inflamatórias
Por Ivson Braga

Nos últimos anos, a cardio-oncologia tem avançado com o objetivo de oferecer intervenções que protejam contra a cardiotoxicidade inerente a algumas terapias oncológicas. À medida que a sobrevida das pacientes com câncer aumenta, cresce a preocupação com a prevenção da cardiotoxicidade, especialmente causada por medicamentos mais amplamente utilizados, como as antraciclinas. Dentro dessa perspectiva, foi publicado o estudo Evaluating the role of montelukast on doxorubicin-induced cardiotoxicity in breast cancer patients que investigou o Montelucaste, tradicionalmente empregado no manejo de doenças respiratórias, na prevenção de cardiotoxicidade pela doxorrubicina. 

A doxirrubicina provoca estresse oxidativo, produção excessiva de radicais livres e ativação de vias inflamatórias, especialmente da via do NF-κB. A questão levantada pelo trabalho seria se a ação anti-inflamatória e antioxidante do montelucaste ofereceria cardioproteção à doxorrubicina.   

As pacientes foram submetidas ao tratamento padrão com doxorrubicina e ciclofosfamida e divididas aleatoriamente entre um grupo que recebeu apenas a quimioterapia e outro que usou Montelucaste diariamente durante os ciclos. A análise se baseou no comportamento de três marcadores biológicos relacionados à agressão cardíaca: NT-proBNP, ligado ao estresse do miocárdio; NF-κB, um mediador da resposta inflamatória; e sST2, marcador associado a remodelamento e fibrose cardíaca.  

No início do estudo, os dois grupos apresentavam níveis semelhantes dos biomarcadores. Ao final de quatro ciclos, os padrões de respostas foram estatisticamente significativos em vários desfechos. 

  • Em relação aos valores basais, tanto o NT-proBNP (marcador de estresse cardíaco) quanto o NF-κB (marcador inflamatório central na fisiopatologia do dano cardíaco pelas antraciclinas), apresentaram elevação significativa no grupo controle e redução significativa no grupo que fez uso do montelucaste. O sST2 (marcador associado a remodelamento e fibrose cardíaca) não mostrou alteração significativa antes e depois da quimioterapia, enquanto que no grupo montelucaste apresentou redução dos níveis médios. 
  • Na comparação entre os grupos ao final da quimioterapia, foram observadas diferenças significativas no grupo montelucaste, com redução significativa de NT-proBNP, NF-κB e sST2.  
  • Houve forte correlação positiva entre NT-proBNP e NF-κB, sugerindo que o montelucaste foi capaz de reduzir ambos os marcadores ao interferir em uma mesma via fisiopatológica. 

Em relação à segurança, o montelucaste mostrou boa tolerabilidade e efeitos adversos semelhantes entre os grupos. Um achado adicional foi uma menor observação de linfedema de braço nas pacientes que receberam o medicamento. Da mesma forma, não foram observadas diferenças nos exames hematológicos e bioquímicos entre os grupos. 

O estudo ressalta algumas limitações: número pequeno de pacientes, tempo reduzido de acompanhamento, ausência de métodos de imagem, como ecocardiografia, além de não ter sido explorado outros mecanismos relevantes na cardiotoxicidade, como apoptose ou disfunção mitocondrial. 

Embora o estudo se baseie em desfechos secundários e ainda seja prematuro considerar a incorporação do Montelucaste nas diretrizes clínicas, ele traz uma linha de pesquisa promissora em cardioproteção para pacientes que utilizam antraciclinas. Há plausibilidade biológica para seu uso, além de se tratar de um medicamento de baixo custo e com bom perfil de segurança, o que reforça o interesse em investigações futuras mais amplas e definitivas.

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Ivson Braga

Redator em cardiopapers

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