A doença arterial coronariana (DAC) é uma das principais causas de morbimortalidade, com prevalência estimada de 7,1% nos Estados Unidos. Já foi visto que pacientes com DAC sintomática e/ou infarto agudo do miocárdio (IAM) tem maior prevalência de anemia que a população geral. Transfundir esses pacientes pode melhorar a oferta de oxigênio, porém às custas de sobrecarga volêmica, insuficiência cardíaca (IC), inflamação e infecção e os limiares para transfusão ainda são controversos.
Assim, recentemente foi publicada uma revisão sistemática e metanálise com os estudos que compararam as diferentes estratégias de transfusão, com objetivo de avaliar se há um limiar melhor para indicá-la.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi feita uma pesquisa nas principais bases de dados com busca por estudos randomizados que compararam estratégias restritiva e liberal de transfusão em pacientes com DAC sintomática ou IAM. Os desfechos primários de interesse eram eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE), IAM, morte por todas as causas, morte cardiovascular, revascularização, IC e infecção. Esses desfechos foram avaliados em momentos específicos (intra-hospitalar, 30 dias e 6 meses).
Resultados
Foram incluídos na avaliação final 5 estudos clínicos controlados e randomizados com um total de 4518 pacientes divididos em estratégias restritiva e liberal. Os limiares para transfusão variaram de 7-8 g/dL no grupo restritivo e 9-10 g/dL no grupo liberal. Quase todos os pacientes tinham IAM, sendo que apenas 0,3% tinham DAC estável.
Os pacientes tinham idade média de 72 anos, 59% eram do sexo masculino e o seguimento médio foi de 5 meses. Houve 487 eventos de MACE na estratégia restritiva e 425 na liberal, configurando maior risco no grupo restritivo (OR 1,18; IC95% 1,02-1,37; p=0,03). Também houve maior ocorrência de IAM no grupo restritivo (OR 1,27; IC95% 1,02-1,58; p=0,04). Não houve heterogeneidade significativa entre os estudos e, ao se avaliar os desfechos em 30 dias e 6 meses, não houve diferença entre as duas estratégias.
A mortalidade por todas as causas teve uma tendência de ser menor na estratégia restritiva e não houve diferença em mortalidade cardiovascular, porém os estudos tiveram heterogeneidade moderada. Também não houve diferença em revascularização, IC ou infecção.
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Comentários e conclusão: transfusão em pacientes coronariopatas
Nesta metanálise a estratégia de transfusão restritiva, ou seja, apenas quando os níveis de Hb estavam mais baixos, teve relação com maior risco de MACE e IAM comparado a estratégia liberal, com transfusão a partir de níveis mais altos de Hb. Não houve diferença entre os grupos nos outros desfechos avaliados, incluindo mortalidade. Esse resultado está de acordo com os achados dos estudos maiores, como o MINT, de 2023, porém contraria os achados de uma outra metanálise.
Assim, a decisão de ser mais conservador ou liberal em relação a transfusões sanguíneas nos pacientes com DAC, principalmente IAM, deve ser baseada no status clínico do paciente, níveis de Hb e fatores de risco de forma individualizada, com objetivo de melhorar desfechos e reduzir potenciais riscos associados a transfusão.
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