Já sabemos, com base dos resultados do estudo FINEARTS-HF, que a finerenona reduz significativamente o risco do desfecho primário (total de eventos de piora de insuficiência cardíaca e morte cardiovascular) e melhora os escores de qualidade de vida (KCCQ escore) em pacientes com ICFEiR/ICFEP. No entanto, seu efeito na qualidade de vida geral (HRQL) ainda não havia sido avaliado e esse foi o objetivo do artigo recentemente publicado no JACC.
Métodos
O questionário EQ-5D é um instrumento genérico de HRQL amplamente utilizado, que captura o estado de saúde autorreferido pelo paciente em cinco dimensões: mobilidade, autocuidado, atividades habituais, dor/desconforto e ansiedade/depressão, cada uma avaliada em cinco níveis, de “nenhum problema’’ a “problema extremo”.
Nesta análise pré-especificada, foi calculado o EQ-5D-LSS nos participantes do FINEARTS-HF e se avaliou o efeito da finerenona versus placebo nesse escore.
Resultados
Entre 6.001 pacientes analisados, 5.978 (99,6%) tinham EQ-5D-LSS basal e 4.852 (80,9%) tinham dados de 12 meses. A média basal foi 9,4, mediana 9.
Pacientes com EQ-5D-LSS basal mais elevado eram mais frequentemente mulheres, brancos, obesos e apresentavam menor taxa de filtração glomerular estimada. Também tinham maior prevalência de hipertensão, fibrilação atrial, AVC, DPOC, diabetes tipo 2, mais hospitalizações prévias por IC, piores escores no KCCQ, classe funcional NYHA mais avançada e níveis mais elevados de NT-proBNP e RAC.
Pacientes com EQ-5D-LSS mais alto tiveram piores desfechos clínicos. A taxa do desfecho primário aumentou progressivamente: 11,5; 14,7; 19,5; e 25,8 por 100 pacientes-ano nos grupos 5, 6–10, 11–15 e 16–25. Padrões semelhantes foram observados para outros desfechos, incluindo total de eventos de piora da IC, tempo até primeira piora da IC ou morte cardiovascular e mortalidade por todas as causas. Modelos ajustados confirmaram consistência dos resultados.
A finerenona melhorou o KCCQ–Total Symptom Score. No entanto, não reduziu mortalidade cardíaca ou geral, nem melhorou a classe funcional NYHA.
Nessa análise, a finerenona melhorou o EQ-5D-LSS entre o basal e 12 meses, com mais pacientes melhorando (25,8% vs 24,5%) e menos piorando (17,2% vs 18,9%) em comparação ao placebo. Não houve heterogeneidade por sexo ou idade.
Os participantes randomizados para receber finerenona apresentaram uma probabilidade ligeiramente maior de melhora em mobilidade (28,1% vs 26,1%), autocuidado (16,2% vs 15,9%), atividades habituais (28,4% vs 27,3%), dor/desconforto (27,5% vs 26,5%) e ansiedade/depressão (25,4% vs 24,6%), embora apenas as chances de estar em uma categoria melhor em mobilidade tenham sido estatisticamente significativas. Um menor número de pacientes em uso de finerenona apresentou piora em dor/desconforto e ansiedade/depressão aos 12 meses.
Os desfechos de segurança foram amplamente consistentes entre as categorias de EQ-5D-LSS. A finerenona foi associada a mais hiperpotassemia e aumentos de creatinina, e a menos hipopotassemia.
Antes do FINEARTS-HF, não havia dados sobre o impacto da finerenona no estado de saúde genérico em ICFEiR/ICFEP. O único outro estudo que avaliou o EQ-5D-LSS analisou a dapagliflozina nos ensaios combinados DAPA-HF e DELIVER, e demonstrou melhora em vários domínios individuais.
Limitações
- Análise secundária pré-especificada
- Embora planejada, ainda se trata de análise de desfecho secundário, sem poder para capturar diferenças pequenas entre grupos.
- Efeito pequeno na HRQL
- A magnitude da melhora nos escores foi modesta, ainda que consistente, por isso a interpretação clínica do impacto pode ser limitada.
- Curto período de avaliação para HRQL
- Follow-up de 12 meses pode ser insuficiente para mudanças estruturais mais amplas no bem-estar subjetivo.
- População com altas taxas de comorbidades
- Pode limitar a aplicabilidade em pacientes mais jovens ou com quadros menos complexos.
Conclusão: finerenona nos pacientes com IC
A finerenona, quando adicionada à terapia usual, reduz significativamente eventos de insuficiência cardíaca em pacientes com ICFEiR/ICFEP em todo o espectro de EQ-5D-LSS basal. O tratamento com finerenona teve um efeito modesto, porém consistente, no bem-estar geral dos pacientes.
Autoria

Juliana Avelar
Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
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