A ocorrência de hipotensão durante uma cirurgia é associada a complicações graves e alguns estudos sugerem que o risco dessas complicações aumenta com a gravidade e duração da hipotensão intraoperatória.
A medida da pressão arterial média (PAM) é fundamental para o cuidado perioperatório e algumas estratégias terapêuticas são baseadas no uso de drogas vasoativas e fluidos, com objetivo de alcançar a estabilidade hemodinâmica e reduzir o risco de disfunções orgânicas.
Uma revisão sistemática mostrou que PAM < 80 mmHg por dez minutos, PAM < 70 mmHg por menor tempo e qualquer exposição a PAM < 55 mmHg são associadas a lesões de órgão alvo. Porém, o limiar para iniciar o tratamento ainda é incerto. Assim, foi feita uma metanálise para identificar o limiar ótimo associado a menor incidência de complicações e melhora de desfechos.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo de metanálise que incluiu estudos clínicos controlados e randomizados dos últimos dez anos que avaliaram cirurgias não cardíacas e não obstétricas e avaliaram diferentes limiares para tratamento pressórico em relação a complicações pós-operatórias maiores.
Os pacientes foram divididos em grupos: limiar baixo (PAM < 60mmHg), limiar moderado (PAM 60-75 mmHg) e limiar alto (PAM > 75 mmHg) para tratamento da hipotensão.
O desfecho primário era qualquer evento adverso pós-operatório durante a internação, incluindo pelo menos um dos seguintes: injuria renal aguda, injuria miocárdica, alterações do nível de consciência ou infecção. Desfechos secundários eram mortalidade por todas as causas em 30 dias e média de tempo de internação hospitalar.
Resultados
Foram incluídos 8 estudos controlados e randomizados com 9.108 pacientes. Em sete estudos a idade dos participantes era ≥ 60 anos e em um estudo era entre 14-45 anos. Dois estudos tinham o limiar para tratamento de hipotensão baixo, oito estudos limiar moderado e sete estudos limiar alto.
Sete estudos avaliaram o desfecho primário e a incidência do desfecho combinado foi exatamente igual nos grupos com limiar moderado e alto, ocorrendo em 17,4% em cada grupo. O tempo de internação foi avaliado em cinco estudos, com tendência a ser menor no grupo com limiar para tratamento intermediário. Não houve diferença nos outros desfechos secundários, mesmo após ajustes.
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Apenas dois estudos avaliaram complicações pós-operatórias no contexto de baixo limiar para tratamento da hipotensão, porém esses estudos tiveram resultados inconsistentes e resultados incompletos, não sendo possível considerá-los.
Comentários e conclusão: Hipotensão no intraoperatório
Esta metanálise mostrou que não há diferença entre complicações pós-operatórias nos pacientes com limiar para tratamento da hipotensão moderado ou alto, ou seja, PAM entre 60 e 75 mmHg ou > 75 mmHg.
Os estudos avaliados tiveram variabilidade moderada para o desfecho primário, porém não parece ter havido viés de publicação. A heterogeneidade pode ser explicada por variações na idade, tipo de cirurgia, tempo de intervenção e dose e método de administração das drogas. Porém, esses resultados precisam ser confirmados por outros estudos.
Assim, esta metanálise nos mostra que não há diferença significativa nas complicações pós-operatórias de acordo com diferentes limiares de tratamento para hipotensão. Porém, devido a heterogeneidade encontrada, mais estudos são necessários para confirmar esses resultados, assim como um seguimento de mais longo prazo com objetivo de avaliar outros desfechos de interesse.
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