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Em um texto recente, discutimos sobre hipertensão pulmonar bem como o paciente cirrótico com dispneia. Hoje, nosso foco será a hipertensão portopulmonar (POPH, portopulmonary hypertension).
Dispneia é um sintoma comum no paciente cirrótico. A anamnese e o exame físico são as ferramentas iniciais de avaliação. O objetivo do médico é identificar a causa da dispneia. Em cirróticos, as causas potenciais são:
- Cardiogênica
- Miocardiopatia cirrótica
- Hipertensão portopulmonar
- Pulmonar
- Síndrome hepatopulmonar
- Derrame pleural direito
- Pneumonia
- Outras
- Compressão extrínseca pela ascite
No caso da POPH, há duas formas mais comuns de apresentação clínica:
- Dispneia e angina. A dispneia é desproporcional à congestão pulmonar e/ou ascite.
- Síndrome de insuficiência cardíaca direita, com turgência jugular patológica (TJP), ascite refratária e edema de membros inferiores (MMII). Como em cirróticos a ascite é comum, um edema de MMII e/ou TJP desproporcionais ao grau de ascite devem chamar a atenção do médico para cardiopatia associada.
O processo diagnóstico é o mesmo que mostramos na síndrome hepatopulmonar, com gasometria arterial e ecocardiograma como exames complementares iniciais. A diferença é que aqui não há platipneia nem ortodeoxia, mas sim hipertensão pulmonar, definida como pressão sistólica na artéria pulmonar (PSAP) > 30 mmHg.
Nessa etapa, há um problema crucial: o ECO é um método simples e não invasivo, mas ele estima a PSAP de modo indireto, a partir do jato regurgitante tricúspide. Por isso, pode ser influenciado por congestão sistêmica e errar, para mais ou para menos, a estimativa da PSAP. A alternativa, o padrão-ouro, é o cateterismo direito (RHC, right heart catheterization), no qual por via hemodinâmica é feito acesso na veia femoral ou jugular e medida diretamente as pressões no capilar pulmonar (PCAP ou PAOP) e artéria pulmonar. O SwanGanz é uma alternativa menos invasiva porém menos precisa que o RHC.
Há divergências na literatura, mas muitos autores, incluindo literatura nacional, recomenda RHC quando PSAP no ECO é > 50 mmHg e/ou há indicação de transplante hepático. Para uma leitura mais aprofundada, sugerimos uma diretriz recente sobre SHP e POPH. A POPH é definida como PAP média > 25 mmHg na ausência de congestão pulmonar cardíaca (PCAP/POAP < 12 mmHg) em um paciente com hipertensão porta e/ou cirrose.
Uma vez confirmada a SHP, ela é classificada pela PAP média em:
- Leve: 25-35 mmHg
- Moderada> 35-45 mmHg
- Grave: > 45 mmHg
A POPH é um dos tipos 1 de hipertensão pulmonar (HP) e muitos autores recomendam exames para afastar as outras causas:
- HIV
- Marcadores autoimunes (FAN, anti-SCL, anti-centrômero, FR e ANCA)
- TC tórax com angioTC (afastar TEP e doenças pulmonares primárias)
O tratamento é o mesmo para outras causas de HP tipo 1. Na cirrose, não há indicação para o teste de vasorreatividade aos vasodilatadores e a nifedipina é contraindicada.
- Anticoagulação: é o ponto mais polêmico, pois a evidência científica é ruim. Muitos autores não recomendam, incluindo a diretriz que serve de bibliografia para este texto.
- Epoprostenol: agonista das prostaciclinas, atua como vasodilatador e anti-plaquetário.
- Bosentan: antagonista da endotelina, tem como risco o aumento das transaminases, que devem ser monitoradas.
- Sildenafil: vasodilatador, há relatos esporádicos de um potencial risco de agravamento das varizes gastroesfoageanas.
O tratamento definitivo é o transplante hepático, porém o risco de morte na cirurgia é proporcional ao grau de HP. A maior parte das instituições contraindica o transplante quando há POPH grave, isto é, PAP média > 45-50 mmHg.
Um outro aspecto importante é que os betabloqueadores podem piorar os sintomas dos pacientes cirróticos com POPH e por isso seu uso deve ser suspenso. O uso de TIPS alivia a hipertensão portal mas piora a POPH e há contraindicação quando POPH moderada a grave.
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