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Cardiologia31 julho 2018

Abordagem ao paciente com hipertensão pulmonar

Quando valorizar a PSAP? Peço cateterismo direito? Inicio tratamento para HAP? O objetivo do nosso texto é te ajudar na abordagem da hipertensão pulmonar.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

A hipertensão arterial pulmonar (HAP ou HP) surge na vida do clínico em três cenários principais:

  1. Ecocardiograma de rotina em paciente oligossintomático mostrando PSAP > 30 mmHg
  2. Dispneia e/ou angina
  3. Síndrome de insuficiência cardíaca direita

A grande dúvida que existe é: quando devo valorizar esta PSAP? Peço cateterismo direito (RHC, right heart catheterization)? Inicio tratamento para HAP? O objetivo do nosso texto é te ajudar nestas decisões.

A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é definida como a pressão média nas artérias pulmonares (PAPm) ≥ 25 mmHg (medida direta por RHC) e é classificada em cinco tipos conforme a etiologia:

  • Tipo 1: HAP primária
    • A doença ocorre na vasculatura pulmonar, com aumento da resistência e sobrecarga cardíaca à direita.
    • Pode ser idiopática ou relacionada a medicações, HIV e doenças do colágeno.
  • Tipo 2: doenças do lado esquerdo do coração (PH-LHD, pulmonary hypertension due to left heart disease).
    • É a forma mais comum e inclui a insuficiência cardíaca, tanto com fração de ejeção reduzida como normal, e as valvopatias, em especial as doenças mitrais.
  • Tipo 3: doenças pulmonares – é o cor pulmonale, e inclui DPOC e doenças intersticiais.
  • Tipo 4: embolia pulmonar (TEP) crônica.
  • Tipo 5: diversas causas.

Ao se deparar com uma PSAP elevada no ECO (> 30 mmHg), temos então duas opções: pedir um cateterismo direito (RHC) para confirmar ou ir direto pesquisando qual subtipo de HP estamos lidando. Isso porque dependendo da causa não será necessária confirmação com RHC.

O padrão-ouro para nos dar certeza de HAP é o RHC e ele é imprescindível no tipo 1, pois é neste grupo que há terapias específicas que são caras e com riscos de toxicidade, de modo que é importante termos certeza se há mesmo aumento da PAPm. Nos tipos 2, 3 e 4, o tratamento é da doença de base e não há evidências que medicações específicas para a HAP sejam benéficas. Pelo contrário, há até publicações mostrando um risco maior que o benefício.

A maior parte dos autores recomenda como triagem inicial:

  1. Ecocardiograma: afastar cardiopatia como causa da HAP
  2. Espirometria: principalmente em fumantes, para pesquisar DPOC e cor pulmonale, deve ser feita de preferência com medida da difusão de CO.
  3. TC tórax com angio: pesquisar doenças pulmonares intersticiais e TEP crônico. Há autores que indicam a cintilografia pulmonar de ventilação pulmonar como método de escolha para rastreio do TEP e a polissonografia para pesquisa de apneia do sono.

Quando o grau de doença cardíaca ou pulmonar não justifica o aumento da PAP média, a próxima etapa é confirmar a PAPm com cateterismo direito e fazer o diagnóstico diferencial entre as causas de HAP tipo 1. Neste caso, é comum o hemodinamicista já aproveitar o RHC para fazer logo o teste de vasorreatividade.

Os exames para diagnóstico diferencial da HAP tipo 1 são:

  • História para uso de drogas causadoras (ex: anfetamina e derivados, cocaína, interferon e ciclofosfamida)
  • Anti-HIV
  • Sorologia para doenças autoimunes: FAN, anti-SCL, anti-centrômero, fator reumatoide e ANCA
  • Marcadores de função hepática a fim de pesquisar cirrose. Há quem acrescente aqui US com doppler da porta ou endoscopia digestiva alta para investigar hipertensão porta não-cirrótica.

Confirmada a HAP tipo 1, é necessária a estratificação de risco, baseada nos sintomas e na gravidade da HAP. O ecocardiograma, as pressões no cateterismo direito e a medida objetiva da capacidade funcional (teste de 6 minutos de caminhada, 6MWD, e o teste de esforço cardiopulmonar, que reúne ergometria com espirometria – TECP) são os pilares desta classificação.

ParâmetroBaixo RiscoRisco IntermediárioAlto Risco
Insuficiência cardíaca direitaNãoNãoSim
Evolução dos sintomasNãoLentaRápida
SíncopeNãoRaraRepetição
Classe funcional NYHAI ou IIIIIIV
6MWD> 440 m165-440 m< 165 m
TECPVO2 > 15 ml/kg/min

VE/VCO2 slope < 36

VO211-15 ml/kg/min

VE/VCO2 slope 36-44,9

VO2 < 11 ml/kg/min

VE/VCO2 slope ≥ 45

BNP

NT-proBNP

< 50

< 300

50-300

300-1400

> 300

>1400

ECO ou RM cardíacaÁrea AD < 18 cm²

Sem derrame pericárdico

Área AD 18-26 cm²

Derrame pericárdico mínimo ou ausente

Área AD > 26 cm²

Presença de derrame pericárdico

CateterismoPVC < 8 cmH2O

IC > 2,5 L/min/m²

SvO2 > 65%

PVC 8-14 cmH2O

IC 2,0-2,4 L/min/m²

SvO2 60-65%

PVC > 14 cmH2O

IC < 2,0 L/min/m²

SvO2 < 60%

O tratamento específico para HAP será discutido em outro texto do nosso portal.

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